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Scientific Society Journal
ISSN: 2595-8402
Journal DOI: 10.61411/rsc31879
REVISTA SOCIEDADE CIENTÍFICA, VOLUME 7, NÚMERO 1, ANO 2024
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ARTIGO ORIGINAL
Lesão central de células gigante: apresentação clínica atípica - relato de caso clínico
Larah Gabrielly A.A Da Costa1; Geovanna Souza Lima2; Guilherme Ribeiro de Queiroz3; Guilherme Rocha Vita4; Fernanda Pires do Nascimento5; Jorge Luiz Vieira Pereira Júnior6;Leonardo Araújo Andrade7; Cláudio Maranhão Perereira8
Como Citar:
DA COSTA, Larah Gabrielly; LIMA, Geovanna Souza; DE QUEIROZ, Guilherme Ribeiro et al. Lesão central de células gigante: apresentação clínica atípica- relato de caso clínico. Revista Sociedade Científica, vol.7, n. 1, p.3139-3150, 2024.
https://doi.org/10.61411/rsc202448317
Área do conhecimento: Ciências da Saúde.
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Sub-área: Odontologia.
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Palavras-chaves: Lesão central de células gigantes, granuloma, células gigantes.
Publicado: 12 de julho de 2024.
Resumo
A Lesão Central de Células Gigantes (LCCG) é uma condição intraóssea benigna caracterizada por tecido fibroso com células gigantes multinucleadas, cuja origem ainda é desconhecida, possivelmente relacionada a trauma. Afeta principalmente mulheres jovens, sendo frequentemente encontrada na mandíbula. Clinicamente, pode variar de assintomática a sintomas agressivos, exigindo diferentes abordagens terapêuticas. Relatamos o caso de uma paciente de 21 anos com uma lesão nodular inicialmente confundida com uma lesão cística, posteriormente diagnosticada como LCCG após exames radiográficos e biópsia excisional. O tratamento envolveu curetagem agressiva, seguida de acompanhamento. Destaca-se a importância da avaliação clínica e radiográfica para um diagnóstico preciso e oportuno, bem como a complexidade no manejo dessa condição e a necessidade de acompanhamento a longo prazo para monitorar a eficácia do tratamento.
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1. Introdução
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Lesão Central de Células Gigantes (LCCG), também denominada como Granuloma Central de Células Gigantes ou ainda Tumor Central de Células Gigantes, é definida como uma lesão benigna intraóssea, que consiste em tecido fibroso com focos múltiplos de hemorragia, agregação de células gigantes multinucleadas e, ocasionalmente, trabéculas de tecido ósseo1.
Apesar da origem ainda ser desconhecida e haver controvérsias sobre a terminologia e classificação, alguns autores afirmam que essa doença poderia estar relacionada à ocorrência de uma hemorragia intramedular, causada por algum tipo de trauma. Porém, nem sempre é possível obter essa informação de histórico de trauma local1. Da maioria dos pacientes acometidos pela LCCG, a maior ocorrência sucede no gênero feminino, com idade inferior a 30 anos2.
A localização de maior ocorrência da lesão advém da mandíbula, sendo a região anterior mais prevalente, cruzando a linha média. Com base em seus aspectos radiográficos, a LCCG exibe uma radio transparência uni ou multilocular com margens mal definidas3.
As margens da lesão frequentemente não são corticalizadas4. Sobre o comportamento clínico da LCCG, temos uma variedade de manifestações que vão desde alterações ósseas mínimas, sem dor e edema, até expansões corticais significativas, rápidas e agressivas, assemelhando-se a tumores, com dor, destruição óssea, reabsorção ou deslocamento radicular e uma alta taxa de recidiva5.
A LCCG pode ser classificada em dois tipos de acordo com suas características clínicas e imagiológicas: 1) Lesões não agressivas – caracterizadas por crescimento lento, sem reabsorção das raízes dos dentes adjacentes, sem destruição da cortical óssea e sem tendência de recidiva após remoção cirúrgica; 2) Lesões agressivas – caracterizadas por rápida evolução, reabsorção radicular dos dentes e/ou destruição cortical além de tendência a recorrência após o tratamento6.
No diagnóstico diferencial da lesão central de células gigantes podem ser mencionados: o ameloblastoma, cisto ósseo aneurismático, displasia fibrosa, manifestações do hiperparatireoidismo, querubismo, queratocisto odontogênico, mixoma, cisto ósseo traumático, lesões periapicais, cistos periapicais; sendo necessário realizar exames complementares, como tomografia computadorizada, biópsia incisional e exames bioquímicos dos níveis sanguíneos de cálcio, fosfatase alcalina e fósforo, para descartar ou confirmar os indicadores de hiperparatireoidismo7.
Normalmente preconiza-se a curetagem vigorosa como terapia para LCCG, sendo que a ressecção deve ser a avaliada para as lesões recorrentes e agressivas. A curetagem pode ser entendida como a abordagem direta da lesão, enquanto a ressecção é considerada a abordagem indireta da lesão através da remoção cirúrgica em bloco, incluindo uma margem de tecido ósseo saudável de 5 mm8.
Outras terapias também podem ser utilizadas de forma alternativa e adjuvantes no intuito de minimizar os danos cirúrgicos, entre elas se destacam injeções intralesionais de corticosteroides, alfa-interferon e calcitonina usada sistemicamente9.
Este trabalho relata um caso de LCCG na mandíbula de paciente do gênero feminino, com uma lesão nodular exuberante com aspecto imageológico mimetizando lesão cística, além de uma evolução rápida de 10 dias, mas com diagnóstica final de lesão central de cédulas gigantes, ou seja, características clínicas e radiográficas atípicas.
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2. Relato de caso clínico
Paciente do gênero feminino, 21 anos de idade, procurou atendimento odontológico, há cerca de 10 dias, queixando-se de “incomodo no dente”. Segundo o paciente, após 5 dias do início dos sintomas, começou a sentir um aumento de volume na mesma região, entretanto não atrapalhava as funções estomatognáticas (Figura 1).
Figura 1. Aspecto clínico inicial. Observe nódulo, séssil, em fundo de sulco vestibular em região dos dentes 33 e 34.
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Ainda durante a anamneses a paciente negou trauma local recente ou longínquo. Em relação ao histórico buco-dental, a paciente relatou que o os dentes envolvidos nunca foram submetidos a tratamentos odontológicos, tampouco sentiu dor local. Sobre a história médica pregressa, histórico familiar e hábitos, nenhuma informação foi relevante ao caso.
Foi possível observar, clinicamente, aumento de volume esférico, recoberto por mucosa ligeiramente eritematosa, séssil, duro à palpação, com cerca de 1,0 X 1,0 X 0,8 cm de diâmetro em região de rebordo alveolar/gengiva marginal vestibular dos dentes 33 e 34 (Figura 1). Em teste de vitalidade pulpar os dentes envolvidos responderam positivamente. Em exame radiográfico periapical, foi possível observar apenas imagens mistas sem limites definidos.
Diante do quadro clínico, optou-se pela realização de exame de tomografia computadorizada cone bean, constatando-se alteração no padrão do trabeculado óssea na região anterior da mandíbula, estendendo-se da região do dente 34 ao 43, caracterizada por hiperdensidade difusa, de limites imprecisos, relacionada ao periápice destes dentes, sem expansão de corticais circunjacentes. Na região entre os dentes 33 e 34 observa-se imagem hipodensa, ovóide, unilocular, de limites definidos, com solução de continuidade na cortical óssea vestibular, sem sinais tomográficos compatíveis com reabsorção radicular dos referidos dentes (Figuras 2, 3 e 4).
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Figura 2. Aspecto da TC inicial. Nota-se imagem hipodensa entre o 33 e 34.
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