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Scientific Society Journal
ISSN: 2595-8402
Journal DOI: 10.61411/rsc31879
REVISTA SOCIEDADE CIENTÍFICA, VOLUME 7, NÚMERO 1, ANO 2024
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ARTIGO ORIGINAL
Variação da disponibilidade hídrica da bacia hidrográfica piranhas-assú como subsídio a gestão integral da bacia hidrográfica
Danilo Duarte Costa e Silva1
Como Citar:
E SILVA, Danilo Duarte Costa. Variação da disponibilidade hídrica da bacia hidrográfica piranhas-assú como subsídio a gestão integral da bacia hidrográfica. Revista Sociedade Científica, vol.7, n. 1, p.2577-2592, 2024.
https://doi.org/10.61411/rsc202445417
Área do conhecimento: Ciências Ambientais.
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Palavras-chaves: Bacia hidrográfica; gestão de recursos hídricos; indicadores de sustentabilidade.
Publicado:11 de junho de 2024.
Resumo
Em época recente a temática relacionada a gestão de recursos hídricos em contextos de escassez tem se ampliado e influenciado os mais diversos setores da sociedade. Neste sentido a tomada de decisão adquire uma conotação cada vez mais delicada, uma vez que se lida com pressões por vezes concorrentes. O Índice de Sustentabilidade de Bacias Hidrográficas (WSI) – importante indicador para gestão de recursos hídricos em situações de escassez - está estruturado em 15 indicadores no modelo pressão-estado-resposta. Sendo cinco indicadores iniciais de pressão, cinco de estado e cinco de resposta. Dentre os diversos indicadores de sustentabilidade de recursos hídricos, um importante indicador referente a análise da sustentabilidade da bacia hidrográfica é a variação na disponibilidade hídrica [24], uma vez que fornece ao decisor a noção de onde se percebe maior variação e portanto, maiores problemas em termos de gestão. Os resultados aqui foram satisfatórios, apontando para a bacia do Rio Seridó como a mais carente de intervenção, uma vez que possui a maior variação neste indicador.
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1. Introdução
1.1 Gestão de bacias hidrográficas
A gestão eficaz das bacias hidrográficas é essencial para garantir o uso sustentável dos recursos hídricos e o desenvolvimento socioeconômico das regiões que dependem delas. A evolução na temática em relação à gestão de bacias hidrográficas não tem sido uniforme, nem estável [28]. Esta evolução se deu a partir de uma ênfase inicial nos aspectos legais (modelo burocrático), passando por uma etapa de investimentos financeiros setoriais, com construções de grandes obras hídricas (modelo econômico-financeiro) e por fim culminando em um tipo de modelo voltado para o uma visão sistêmica e integral ligada a gestão de bacia hidrográfica [29]. As primeiras concepções acerca de manejo de bacias hidrográficas, segundo [28], tiveram o enfoque inicial diretamente ligado à questão dos recursos hídricos, evoluindo posteriormente para outros níveis mais complexos ligados ao meio ambiente e em épocas mais recentes a expansão da concepção de manejo de bacias hidrográficas tem se estendido ao manejo integrado dos recursos naturais e a sua gestão ambiental integrada. Corroborando com este ponto de vista, [35] comenta que o período inicial teve ênfase na questão dos recursos hídricos (com o investimento em construções de obras hidráulicas) evoluindo para a preocupação com os aspectos ambientais e por fim uma ênfase voltada para um tipo de desenvolvimento que integrasse o crescimento econômico com a preocupação ambiental.
No contexto da bacia hidrográfica do Piranhas-Assu, localizada no Nordeste do Brasil, o desafio de equilibrar as demandas por água, a conservação dos ecossistemas aquáticos e o crescimento populacional requer abordagens inovadoras e integradas. Neste artigo, exploraremos um dos indicadores do Índice de Sustentabilidade de Bacia Hidrográfica (WSI) como uma solução promissora para a gestão dessa importante bacia [24]. O WSI é uma ferramenta de avaliação que integra diferentes indicadores sociais, econômicos e ambientais para medir a sustentabilidade de uma bacia hidrográfica. Desenvolvido com o objetivo de fornecer uma visão abrangente do estado de uma bacia, o WSI considera fatores como qualidade da água, disponibilidade hídrica, conservação de ecossistemas, uso da terra, governança e participação da comunidade. Ao aplicar o WSI na bacia do Piranhas-Assu, seria possível avaliar o estado atual da sustentabilidade da bacia, identificar áreas de fragilidade e priorizar ações para melhorar sua gestão. Por exemplo, o índice poderia destacar a necessidade de medidas para reduzir a poluição da água, promover práticas agrícolas sustentáveis, conservar áreas de recarga hídrica e fortalecer a governança dos recursos hídricos. O Índice de Sustentabilidade de Bacia Hidrográfica [24] emerge como uma solução valiosa para abordar os desafios complexos de gestão enfrentados pela bacia do Piranhas-Assu. Ao integrar múltiplos aspectos da sustentabilidade, o WSI oferece uma ferramenta abrangente para avaliar, planejar e monitorar a gestão dos recursos hídricos, promovendo um equilíbrio entre as necessidades humanas e a conservação ambiental. Portanto, investir na implementação do WSI na bacia do Piranhas-Assu é crucial para garantir um futuro sustentável para esta importante região do Brasil.
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1.2 O cenário atual da bacia hidrográfica piranhas-assu
O rio Piranhas-Açu nasce na Serra de Piancó no estado da Paraíba e desemboca próximo à cidade de Macau no Rio Grande do Norte. Como a maioria absoluta dos rios do semiárido nordestino, à exceção do rio São Francisco e do Parnaíba é um rio intermitente em condições naturais. A perenidade de seu fluxo é assegurada por dois reservatórios de regularização construídos pelo DNOCS: O Coremas – Mãe d’Água, na Paraíba, com capacidade de 1,360 bilhões de m³ e vazão regularizada (Q 95%) de 9,5 m³/s e a barragem Armando Ribeiro Gonçalves (ARG), no Rio Grande do Norte, com 2,400 bilhões de m³ e vazão regularizada de 17,8m³/s (Q 90%) (ANA, 2016).
Figura 1. Localização da Bacia hidrográfica do Piranhas-Açu (Fonte: autor)
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A bacia hidrográfica do rio Piranhas – Açu abrange um território de 42.900 km² distribuído entre os Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, onde vivem aproximadamente 1.552.000 mil habitantes. A agropecuária é a principal atividade econômica da região, onde se destaca a pequena agricultura de subsistência de feijão, milho consorciado e a pecuária extensiva. A bacia está totalmente inserida em território semiárido, com precipitações médias variando entre 400 e 800 mm anuais concentradas entre os meses de fevereiro a maio. A concentração das chuvas em poucos meses do ano, conjugada a geomorfologia da região, caracterizada por solos rasos formados sobre um substrato cristalino, com baixa capacidade de armazenamento é responsável pelo caráter intermitente dos rios da região. Além disso, o padrão de precipitação tende a apresentar uma forte variabilidade inter anual, ocasionando a alternância entre anos de chuvas regulares e anos de acentuada escassez hídrica, levando à ocorrência de secas hídricas. Por outro lado as taxas de evapotranspiração são bastante elevadas, podendo chegar a mais de 2000 mm/ano, o que ocasiona um déficit hídrico significativo e se constitui em fator chave a ser considerado na operação dos reservatórios da região [1].
Em termos socioeconômicos a Bacia abrange, completa ou parcialmente, mais de 100 municípios. Nesses municípios vivem aproximadamente 1.280.000 habitantes, 67% deles na Paraíba. A taxa média de urbanização na bacia fica em torno de 66% e a grande maioria dos municípios (75%) tem menos de 10.000 hab. A maior cidade da Bacia é Patos. Outras cidades importantes são Sousa, Cajazeiras e Pombal na Paraíba, e Caicó, Açu e Currais Novos no Rio Grande do Norte. O IDH médio dos municípios da Bacia está em torno de 0,66.
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2. Metodologia
2.1 Aplicação do indicador de variação de disponibilidade
hídrica (ΔD) do Índice de sustentabilidade de bacias hidrográficas - WSI
O Índice de Sustentabilidade de Bacias Hidrográficas (WSI) está estruturado em 15 indicadores no modelo pressão-estado-resposta. Sendo cinco indicadores iniciais de pressão, cinco de estado e cinco de resposta. Dentre os diversos indicadores de sustentabilidade de recursos hídricos, um importante indicador referente a análise da sustentabilidade da bacia hidrográfica é a variação na disponibilidade hídrica [24], uma vez que fornece ao decisor a noção de onde se perbece maior variação e portanto, maiores problemas em termos de gestão. O cálculo do indicador é apesentado por [24] da seguinte forma:
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ΔD = Vi – Vf / hab. [1]
Onde:
ΔD = variação da disponibilidade hídrica;
Vi = valor inicial da disponibilidade hídrica (superficial e subterrânea);
Vf = valor final (superficial e subterrânea);
hab. = habitantes
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3. Desenvolvimento e discussão
3.1 Variação na disponibilidade hídrica
3.1.1 Fonte e origem dos dados
A seguir é apresentada a fonte e origem dos dados da aplicação do índice variação da disponibilidade hídrica superficial para o período de estudo com base na [1] e subterrânea [27].