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Scientific Society Journal  ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​​​ 

ISSN: 2595-8402

Journal DOI: 10.61411/rsc31879

REVISTA SOCIEDADE CIENTÍFICA, VOLUME 7, NÚMERO 1, ANO 2024
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ARTIGO ORIGINAL

Tendências nas pesquisas sobre filmes de ficção científica no ensino de ciências: uma revisão narrativa da literatura

Rodrigo Vasconcelos Machado de Mello1; Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho2

 

Como Citar:

DE MELLO, Rodrigo Vasconcelos Machado; FILHO, Luiz Augusto Coimbra de Rezende. Tendências nas pesquisas sobre filmes de ficção científica no ensino de ciências:uma revisão da narrativa da literatura. Revista Sociedade Científica, vol.7, n. 1, p.3743-3768, 2024.

https://doi.org/10.61411/rsc202467317

 

DOI: 10.61411/rsc202467317

 

Área do conhecimento: Ensino.

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Palavras-chaves: ensino de ciências, filmes de ficção científica, revisão da literatura.

 

Publicado: 23 de agosto de 2024.

Resumo

Propomos neste trabalho uma revisão narrativa da literatura, de caráter qualitativo sobre filmes de ficção científica nas pesquisas em Ensino de Ciências. Assim, 33 publicações foram submetidas à análise de conteúdo de Bardin, de modo a identificar as funções pedagógicas e os aspectos teóricos e metodológicos considerados nas investigações sobre estes filmes, que possam revelar tendências nessas pesquisas. Nossos resultados evidenciam como funções pedagógicas a abordagem de conteúdos científicos e a capacidade de motivar a aprendizagem atribuída a tais filmes. Dentre os aspectos teóricos e metodológicos, há a tendência à análise fílmica e a pouca ocorrência de análises da audiência, holísticas ou do reendereçamento deste processo comunicativo. Nota-se ainda escassas referências à crítica literária da ficção científica, da comunicação e do cinema. Por meio da identificação destas tendências, foi traçado um panorama das abordagens de pesquisa sobre filmes de ficção científica no Ensino de Ciências, que esperamos contribuir com orientações para pesquisas futuras.

 

 

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Trends in research on science fiction films in science teaching

Abstract

In this work, we propose a narrative review of the literature of a qualitative nature, on science fiction films in Science Teaching research. To this end, 33 publications were subjected to Bardin's content analysis, in order to identify the pedagogical functions and theoretical and methodological aspects considered in investigations into these films, which may reveal trends in this research. Our results highlight the approach to scientific content and the ability to motivate learning attributed to such films as pedagogical functions. Among the theoretical and methodological aspects, there is a tendency towards film analysis and the little occurrence of audience analysis, holistic or readdressing this communicative process. There are still few references to literary criticism of science fiction, communication and cinema. By identifying these trends, an overview of research approaches to science fiction films in Science Education was outlined, which we hope will contribute with guidelines for future research.

Keywords: science teaching, science fiction films, literature review.

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1. Introdução

Tendo se tornado um dos gêneros literários e cinematográficos mais consolidados do século XX, a ficção científica (FC) é hoje extremamente popular1. Este dado se confirma na lista das dez maiores bilheterias mundiais de cinema, que atualmente é composta majoritariamente por títulos que de algum modo se enquadram no gênero2.

Mais do que meramente um produto do mercado, a FC é uma “forma de pensar o mundo”3, ou seja, uma ferramenta de reflexão, que fornece esquemas mentais que nos possibilitam organizar pensamentos à cerca da contemporaneidade. Sendo assim, temas emergentes como mudanças climáticas, biotecnologia ou inteligência artificial têm, em alguma medida, suas concepções pautadas por obras de FC4.

No entanto, definir o que é a FC como gênero cinematográfico não é uma tarefa trivial. Embora na prática um filme possa ser facilmente identificado como sendo de FC, não existe consenso quanto a uma definição do gênero, havendo propostas que posicionam a FC de maneiras variadas em relação a outros gêneros, tais como a fantasia e a ficção realista5,6. Por conta disso, Suppia identifica a FC como sendo atualmente um gênero multifacetado, heterogêneo e universal, talvez um dos mais complexos “modos de expressão e comportamento” que extrapolam as fronteiras de um gênero textual específico, estendendo-se por uma variedade de mídias (a literatura, o cinema, a televisão, o teatro, o videogame, etc.)1.

Apesar da reconhecida dificuldade de definição do gênero, acadêmicos das áreas da literatura e do cinema buscaram identificar algumas de suas particularidades. Suvin7 propõe que narrativas do gênero apresentam novums, ou seja, elementos que introduzem, em cenários semelhantes à realidade empírica, novos tipos de dispositivos, criaturas, ambientes ou relações. Csicsery-Ronay Jr.3 sugere que estes novums frequentemente se apropriam da racionalidade e da linguagem científicas, criando uma ciência imaginária, que emula a ciência propriamente dita. Ainda de acordo com Csicsery-Ronay Jr., novums podem evocar o senso de sublime ou grotesco nos espectadores, aspecto particularmente notório no cinema de FC, dado seu apelo visual e potencializado pelo recurso de efeitos especiais.

Dada a importância sociocultural do gênero, foi inevitável o crescimento do interesse pelo uso de filmes de FC no Ensino de Ciências e, consequentemente, a emergência de pesquisas sobre o tema nesta área. A fim de fornecer um panorama destas pesquisas, propomos neste trabalho uma revisão narrativa da literatura, identificando tendências emergentes em publicações da área.

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2. Metodologia

Empreendemos aqui uma revisão narrativa da literatura de caráter qualitativo, considerando trabalhos que tratam de filmes de FC no Ensino de Ciências que tenham chegado até nós ao longo dos anos de pesquisas do tema. Predominantemente, estes trabalhos foram obtidos por meio de buscas no Portal Periódicos Capes, mas também consideramos artigos que nos chegaram por outras plataformas, como por exemplo a Education Resources Information Center (ERIC). Sendo assim, analisamos nesta revisão 33 artigos que variam entre trabalhos de natureza teórica e empírica, publicados entre os anos de 2006 e 2023. A inclusão destes trabalhos no corpus se deu primeiramente mediante a leitura de seus títulos e resumos, de modo a se avaliar a pertinência ao tema, quando identificadas publicações que tratam de filmes de outros gêneros, estas foram desconsideradas. Buscamos assim reunir o maior número de trabalhos, procurando esboçar de maneira ampla o cenário de pesquisas de filmes de FC na área de Ensino de Ciências. Os trabalhos do corpus aqui considerado estão listados no Quadro 1, acompanhados de seus respectivos códigos, recorrentes em outros momentos do trabalho.

Quadro 1. Publicações do nosso corpus.

Código

Título

Ano

Autor(es)

FC01

The impact of science fiction film on student understanding of Science

2006

Barnett, Wagner, Gatling, Anderson, Houle e Kafka

FC02

Possibilidades dos filmes de ficção científica como recurso didático em aulas
de Física: a construção de um instrumento de análise

2006

Piassi e Pietrocola

FC03

Filmes de ficção científica como mediadores de conceitos relativos ao meio ambiente

2008

Machado

FC04

A ficção científica e o ensino de ciências: o imaginário como formador do real e do racional

2008

Gomes-Maluf e Sousa

FC05

Ficção científica e ensino de ciências: para além do método de 'encontrar erros em filmes'

2009

Piassi e Pietrocola

FC06

A ficção científica e o estranhamento cognitivo no ensino de ciências: estudos críticos e propostas de sala de aula

2013

Piassi

FC07

Clássicos do cinema nas aulas de ciências - a física em 2001: uma odisseia no espaço

2013

Piassi

FC08

Lights, camera, action! Developing a methodology to document mainstream films' portrayal of nature of science and scientific inquiry

2013

Koehler, Bloom e Binns

FC09

Genetics and cinema: personal misconceptions that constitute obstacles to learning

2014

Muela e Abril

FC10

Teaching introductory weather and climate using popular movies

2014

Yow

FC11

A ficção científica como elemento de problematização na educação em ciências

2015

Piassi

FC12

The material co-construction of hard science fiction and physics

2015

Hasse

FC13

El cine de ciencia ficción en las clases de ciencias de enseñanza secundaria (II). Análisis de películas

2016

Petit

FC14

Cine de ciencia ficción y enseñanza de las ciencias. Dos escuelas paralelas que deben encontrarse en las aulas

2016

Silva

FC15

"A ton of faith in science!" Nature and role of assumptions in, and ideas about, science and epistemology generated upon watching a sci-fi film

2016

Myers e Abd-El-Khalick

FC16

Superhero physiology: the case for Captain America

2017

Brown, Smith, McAllister e Joe

FC17

Potencialidades do filme de ficção Avatar para a alfabetização científica dos sujeitos no contexto da educação básica

2017

Santos e Silva

FC18

The affordances of fiction for teaching chemistry

2017

Yerrick e Simons

FC19

“Frankenweenie”: um olhar para o meio fílmico e o ensino de ciências; Filosofia e sociologia da ciência

2017

Silva e Cunha

FC20

As questões sociocientíficas e a trama do filme
Elysium: conexões entre ciência e cidadania no “chão
da escola”

2017

Silva, Barros e La Rocque

FC21

Sherlock Holmes e a Química: análise e utilização de filmes de ficção no ensino de química

2017

Amorim e Silva

FC22

Os discursos nos filmes de ficção científica ensino de ciências e a produção de sentidos na perspectiva socioambiental

2018

Ferreira e Barbosa

FC23

Interstellar: a relatividade na ficção científica e o ensino de física

2018

Ghizoni E Neves

FC24

O ensino de ciências e a franquia Star Wars: possibilidades pedagógicas

2020

Vargas e Lopes

FC25

Ciência, arte e filosofia: mobilizando discursos no uso educativo do cinema numa atividade não formal

2021

Lima e Pagliarini

FC26

El cine de ciencia ficción como condición que posibilita repensar lo vivo y la vida

2021

Sánchez

FC27

Science fiction and science education: 1984 in classroom

2021

Moraes, Aires e Góes

FC28

Desenvolvimento e aplicação de uma proposta de ensino de ciências baseada no enfoque CTSA a partir de cenas do filme de ficção científica Avatar

2021

Santos e Silva

FC29

El cine de ciencia ficción para desarrollar cuestiones sociocientíficas y el pensamiento crítico

2021

Petit, Solbes e Torres

FC30

A ficção científica e o ensino de ciências: uma incursão significativa no mundo Jurassic Park

2022

Chimes e Vieira

FC31

La ciencia como artefacto cultural: análisis de la narrativa cinematográfica en películas de ciencia ficción

2022

Castilho e Ovigli

FC32

The context of science fiction in the pre-service teachers’ chemistry education

2023

Vošnjak e Devetak

FC33

Cinema e ciência em sala de aula: uma proposta metodológica para o ensino de ciências utilizando filmes e “pausas dialogadas”

2023

Lovato e Sepel

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Para traçar este panorama, nossas reflexões são guiadas por algumas questões: quais são as principais funções pedagógicas atribuídas aos filmes de FC no Ensino de Ciências? Quais são as principais abordagens teóricas e metodológicas empregadas nas investigações sobre filmes de FC no Ensino de Ciências?

De modo a responder tais questões, nosso corpus foi submetido à análise de conteúdo8. Para tanto, primeiramente foi realizada uma leitura inicial do material, possibilitando a elaboração de indicadores que explicitaram temas recorrentes nos textos, logo, sua fragmentação em unidades comparáveis de categorização foi necessária. O recorte do texto levou à identificação de núcleos de sentido que, em seguida, foram agrupados de acordo com suas semelhanças. Este procedimento de recorte do texto e agregação de ideias levou à transformação dos dados brutos a uma representação do conteúdo. O nosso sistema de categorizações não foi definido previamente, sendo resultante dos elementos emergentes da análise.

Por meio desta análise, esperamos responder os questionamentos propostos e traçar um panorama a respeito dos filmes de FC no Ensino de Ciências, que contribua com orientações para pesquisas futuras, permitindo uma melhor compreensão das potencialidades e limitações desta ferramenta no ensino.

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3. Desenvolvimento e discussão

A análise de conteúdo dos trabalhos considerados revelou, no que se refere às funções pedagógicas da FC no Ensino de Ciências, a predominância de duas categorias que rotulamos como: abordagem de conteúdos científicos e aspecto motivador dos filmes de FC no Ensino de Ciências. Quanto às abordagens teóricas e metodológicas, nosso corpus foi categorizado em análises fílmicas, análises da audiência, análises holísticas, e análises do reendereçamento, cada qual desenvolvidas nas seções a seguir. O Quadro 2 sintetiza cada uma destas categorias e suas ocorrências em nosso corpus.

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Quadro 2- Categorias e ocorrências

 

Categorias

Ocorrências

Função pedagógica da FC no Ensino de Ciências

Conteúdo científico

FC02; FC03; FC04; FC06; FC07; FC08; FC09; FC11; FC15; FC17; FC18; FC19; FC20; FC21; FC22; FC24; FC25; FC26; FC27; FC28; FC29; FC30; FC31; FC32.

Motivação

FC03; FC08; FC09; FC10; FC11; FC12; FC14; FC16; FC17; FC18; FC19; FC21; FC26; FC29; FC30; FC32; FC33.

Abordagens teóricas e metodológicas dos filmes de FC no Ensino de Ciências

Análises fílmicas

FC02; FC03; FC05; FC07; FC08; FC13; FC14; FC16; FC17; FC19; FC20; FC22; FC23; FC24; FC26; FC29; FC30; FC31.

 

 

 

 

3.1 Funções pedagógicas atribuídas aos filmes de ficção científica no ensino de ciências

3.1.1Conteúdo científico

Uma das funções pedagógicas dos filmes de FC no Ensino de Ciências mais frequentes relaciona-se com o entendimento segundo o qual os filmes são veículos para o conteúdo científico, o que inclui também os aspectos metodológicos da ciência e seus desdobramentos epistemológicos, éticos, políticos e econômicos. Em paralelo é comum ser atribuído a tais filmes a possibilidade de articular conhecimentos de áreas variadas, o que lhes confere potência interdisciplinar.

No que se refere às questões epistemológicas e sociocientíficas, as colocações dos autores parecem convergir para a pertinência de filmes do gênero em abordar tais questões, proporcionando uma melhor compreensão da atividade científica em seu contexto social9,10,11,12,13,14,15,16,17,18,19,20,21,22. Termos e conceitos distintos são empregados pelos autores, tais como “investigação científica”, “alfabetização científica”, “questões sociocientíficas” e “abordagens CTS” (Ciência-Tecnologia-Sociedade).

 Enquanto em alguns trabalhos esta concepção se revela de forma mais sutil, em outros são discutidos em maiores detalhes ou propostos em atividades didáticas. Myers e Abd-El-Khalick23, por exemplo, assumem que ao assistirem filmes de FC, estudantes podem ir além dos conteúdos disciplinares, concebendo ideias epistemológicas e de investigação científica. Neste sentido, Koehler, Bloom e Binns24 argumentam que o gênero estimula debates em torno de aspectos como natureza da ciência e a investigação científica, sendo os conteúdos mais facilmente apreendidos pelos estudantes quando apresentados por meio de narrativas fílmicas.

Alguns destes trabalhos indicam que filmes de FC podem servir como fontes de dilemas morais desdobrados, por exemplo, de tecnologias de manipulação genética25. Tal como se dão em propostas com os filmes “Parque dos Dinossauros” (1993)26,27 e “Star Wars: Episódio II – Ataque dos clones” (2002)28, debatendo a ética das tecnologias de Biologia Molecular. Além de tópicos relativos à genética, Petit, Solbes e Torres29 indicam a pertinência do gênero para abordar os desdobramentos éticos de outros temas como pandemias e a exploração de energias renováveis. Em consonância com estas propostas, Santos e Silva18 sugerem o filme “Avatar” (2009) como uma forma de desenvolver a alfabetização científica em estudantes por meio de uma proposta CTS, afim de permitir ir além do conteúdo científico, e possibilitar a abordagem de aspectos interdisciplinares e da investigação científica.

 Embora tal caráter filosófico e social da ciência seja frequentemente associado aos filmes de FC, Ferreira e Barbosa30 destacam a recorrente associação de discursos de uma ciência ideal, negligenciando valores, preconceitos e ideologias, o que para os autores reforça um caráter de neutralidade e salvacionismo da ciência, aspecto pouco problematizado em nosso corpus.

 Dentre a função pedagógica do conteúdo científico também são notórias abordagens interdisciplinares dos filmes de FC no Ensino de Ciências. Para alguns autores, a interdisciplinaridade pode permitir aos estudantes experimentarem a ciência por meio de disciplinas diversas12, facilitando a compreensão de problemas reais24,14, como naqueles relativos à genética26,28.

Questões ambientais também são frequentemente citadas, sendo os filmes de FC tomados como capazes de levantar questões norteadoras que podem ser apropriadas pelo professor, através de abordagens transversais dos conteúdos31. Neste sentido, Santos e Silva17 recomendam o filme “Avatar” (2009) como recurso na educação ambiental, além da abordagem de discussões entre diferentes culturas e etnias, problematizações de questões sociais e antropológicas, bem como conteúdos diversos dos currículos das disciplinas das Ciências da Natureza. Deste modo, os autores julgam ser esta obra pertinente para estimular a alfabetização científica dos estudantes, por meio da abordagem ciência, tecnologia, sociedade e ambiente (CTSA), podendo ser aplicado por professores de diferentes áreas do conhecimento em propostas interdisciplinares.

 A possível articulação com a abordagem CTSA é notada também no trabalho de Silva, Barros e La Rocque ao assumirem a capacidade de filmes de FC em “problematizar a relação complexa e controversa entre nós e o ambiente no qual estamos integrados”20. As autoras sinalizam ainda que, ao serem abordados de modo interdisciplinar, os filmes de FC podem ser empregados, inclusive em contextos não formais de ensino. Esta visão converge com o que empreendem Lima e colaboradores32, ao propor o diálogo entre arte, ciência e filosofia por meio de um debate realizado após a exibição do filme “A Origem” (2010) no cinema.

Dada sua natureza narrativa, filmes de FC possibilitam a convergência tanto de aspectos epistemológicos e sociocientíficos, quanto interdisciplinares. Como é observado na atividade descrita por Moraes e colaboradores11 ao propor o filme “1984” (1984) em atividade conjunta entre as disciplinas de Artes, Filosofia e Biologia para abordar questões sociocientíficas. Do mesmo modo, Petit, Solbes e Torres29 afirmam que, ao apresentar questões sociocientíficas, filmes de FC podem estimular abordagens interdisciplinares, motivando os estudantes a se debruçarem no conhecimento científico.

Esta última colocação encontra diálogo ainda com outro fator emergente da análise da literatura e um tanto quanto controverso, o caráter motivador de filmes de FC no Ensino de Ciências.

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3.1.2Motivação

A motivação promovida por obras de FC no Ensino de Ciências é indicada em muitas publicações. Por “motivação” os autores entendem uma forma de estimular a curiosidade dos estudantes ou intensificar o interesse no estudo de ciências16, 21,24,25,26,29,31,33,34,35. Tal caráter pode ser atribuído à popularidade dos filmes entre os estudantes9 ou de seus atores36, ou ainda, à presença de certos tipos de personagens19, ao enredo ou ao apelo visual da obra17.

Hasse37 indica que ao propor a busca de incongruências científicas nas obras, o professor pode estimular ao interesse dos estudantes, o que pode engajá-los na prática científica e no acesso à graduação. No ensino superior, cenário semelhante é observado por Yow36, ao apresentar um relato de elaboração de uma proposta alternativa ao curso de Meteorologia na Eastern Kentucky University, em que trechos de filmes populares são postos em diálogo com o conteúdo curricular. Segundo o autor, esta estratégia levou a uma maior participação e interesse dos estudantes.

Embora a motivação seja atribuída aos filmes de FC, a análise do nosso corpus revela que tal correlação carece de investigações empíricas. Neste ponto, os trabalhos de Hasse37 e Yow36 se destacam por preencherem esta lacuna ao apresentarem dados empíricos que avaliam o caráter motivador dos filmes. Yow aferiu a motivação dos estudantes por meio de uma Escala de Likert, e concluiu que a disciplina elaborada foi bem-sucedida em atrair estudantes de outras áreas, além de indicar que grande parte dos estudantes recomendariam o curso para outras pessoas. Já Hasse, ao investigar os motivos de ingresso de estudantes no curso superior de Física, encontra na visualização de filmes de FC no ensino um dos principais motivos. Dados semelhantes foram obtidos em pesquisa realizada pela British Particle Physics and Astronomy Research Council, tal como a autora explicita.

Destacando a ausência de investigações deste caráter motivador, Piassi14 propõe-se a questioná-lo. O autor sublinha que, embora as pesquisas tendam a assumir que o interesse dos estudantes por filmes de FC equivale ao interesse pela ciência, tal correlação necessita de maiores investigações. Seu trabalho de natureza teórica está calcado em Paulo Freire e George Snyders e argumenta que a motivação dos estudantes pode estar relacionada a uma satisfação cultural, que vai além da diversão casual.

Piassi questiona se este atributo motivador pode ter origem em outras manifestações culturais, como desenhos animados, anúncios e propagandas ou se esta característica é exclusiva do cinema de FC. O autor levanta a hipótese de que a própria estrutura das obras de FC gerariam tal motivação, uma vez que dialogam com o repertório cultural dos estudantes, levando à sua reflexão e sistematização no ambiente escolar, sendo um estímulo ao “saber-mais”14.

 Reflexões sobre o caráter motivador dos filmes de FC também são oferecidas na publicação de Yerrick e Simons22. As autoras também assumem tal atributo do gênero, ao pesquisarem, especificamente, na disciplina de Química em uma escola de Ensino Médio norte americana. Elas observaram maior interação entre estudantes e entre os estudantes e o professor, havendo diálogo e perguntas espontâneas, ao longo de uma atividade proposta. Segundo as autoras, isto está associado à transferência de autoridade por parte do professor: ao abrir espaço de diálogo nas atividades, os alunos mostraram-se mais participativos e reflexivos quanto às situações assistidas nos filmes. Isto leva as autoras a inferirem que a aparente motivação de participação dos estudantes talvez não esteja associada exatamente ao uso das obras de FC, mas sim ao espaço de diálogo criado em sala de aula. Neste caso a inserção dos filmes de FC é apenas uma das muitas ferramentas disponíveis para o desenvolvimento deste ambiente de diálogo.

Vemos nos trabalhos destes últimos autores um esforço pela compreensão do caráter motivador das obras de FC. No entanto, seus trabalhos propõem leituras diferentes do processo. Enquanto Piassi vê na estrutura das obras de FC e a relação desta com as expectativas do espectador o gerador do seu interesse, Yerrick e Simons sinalizam que o caráter motivador não é exclusivo dos filmes de FC, mas, no caso pesquisado pelas autoras, originado da transferência de autoridade do professor e da geração de um espaço de diálogo oportunizado pela exibição do filme. Nota-se, portanto, que além de poucas investigações empíricas, não há consenso quanto às origens do caráter motivador dos filmes de FC no Ensino de Ciências.

Nos parece que a motivação é de difícil avaliação em contextos de educação formal, uma vez que parece ter causas multifatoriais e, recorrentemente, as investigações se dão em um cenário onde o pesquisador é o próprio professor mediador das atividades fílmicas. Com isso, os sujeitos da pesquisa podem naturalmente se sentirem impelidos a participarem das atividades. Outra questão que nos parece relevante está relacionada com o fato da audiência investigada não consistir em sujeitos que espontaneamente assistem aos filmes de FC, mas sim em um público construído, artificialmente posto em contato com as obras. Daí a dificuldade de se obter dados das motivações dos sujeitos em assistirem filmes ou estudarem os conteúdos relacionados. Aproximações com referenciais da área de comunicação podem ser pertinentes para entender a natureza específica deste tipo de audiência, nos posicionando além de um pressuposto meramente assumido.

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3.2 Abordagens teóricas e metodológicas da ficção científica no Ensino de Ciências

3.2.1 Análises fílmicas

Ao nos debruçarmos nos trabalhos a respeito de filmes de FC no Ensino de Ciências, notamos uma predominância de análise exclusivamente textual dos filmes de FC, sendo escassos referenciais de análise fílmica. Em lugar disso, a análise é empreendida à luz dos conteúdos de disciplinas diversas em que o filme é proposto28 ou de áreas específicas como a Biologia26,35, a Fisiologia33, a Física38 e de conceitos socioambientais20,31. Observa-se ainda a análise fílmica a partir dos pressupostos teóricos da natureza da ciência e da investigação científica24 ou de questões sociocientíficas29. Outros filmes são analisados a partir de conceitos ainda mais gerais, como a imagem da ciência e do cientista39. Esta ausência de referenciais de análise fílmica é problemática, por não considerarem as especificidades da linguagem audiovisual.

Quando há uso de referenciais de análise, estes se dão por meio de arcabouços teóricos e metodológicos diversos, como a análise do discurso10,30, perspectivas filosóficas, como o da “imagem-conceito”16, ou por meio de aproximações das áreas de cinema. Neste último caso são considerados elementos do texto fílmico, como o posicionamento de câmera, a construção dos personagens, cenários, cenas e diálogos, como na análise do filme “Frankenweenie” (2012)19 por meio do referencial de Vanoye e Goliot-Lété40. Ou ainda, a análise de “Avatar” (2009) por meio da etnografia da tela17.

Nesta seara da análise textual dos filmes de FC, Piassi destaca-se na área de Ensino de Ciências por uma série de publicações. Uma de suas propostas de análise pauta-se, por exemplo, em elementos relacionados a conceitos e fenômenos pertinentes às Ciências da Natureza presentes em filmes de FC15. No entanto, a produção do autor ao longo do tempo dá lugar a aproximações com referenciais da semiótica greimasiana13,41 e dos estudos literários críticos da FC12,14, que buscam lançar luz a características próprias do gênero que justifiquem sua presença em aulas de ciências. Neste sentido, o autor se destaca ao propor em publicações nacionais a aproximação da área de Ensino de Ciências com referenciais dos estudos literários da FC. Conceitos como o de estranhamento cognitivo, novum e senso do maravilhoso são indicados por Piassi como elementos do gênero a serem considerados no Ensino de Ciências. Para tanto, Piassi recorre frequentemente a autores como Isaac Asimov, David Allen, Umberto Eco, Tzevan Todorov e Darko Suvin para empreender suas reflexões12,14,41.

Outros autores esboçam aproximações com estes e outros acadêmicos dos estudos literários da FC, embora sejam minoritários em nosso corpus de análise11,23,27,30,. Este movimento de aproximação com a crítica literária nos parece pertinente, uma vez que tal como Kuhn sinaliza, há uma série de dificuldades no que se refere à delimitação da FC como gênero cinematográfico. Logo,

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escritores da ficção científica literária, que são menos tímidos que os teóricos do cinema ao discutir a ficção científica como gênero, chamam a atenção para um conjunto de temas frequentemente repetidos em histórias de ficção científica6

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O fato de a maior parte dos trabalhos preocuparem-se com a análise textual dos filmes traz algumas limitações como sua inadequação em considerar elementos extratextuais6, as interações entre o filme e o público ou suas relações com outras manifestações culturais, isto é, sua intertextualidade.

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3.2.2 Análises da audiência

Trabalhos centrados no público são insipientes na área e, quando observados, frequentemente carecem de informações. Nos parece relevante considerar tal aspecto, uma vez que as audiências possuem configurações heterogêneas, sendo originadas de diferentes grupos com interesses diversos, não se tratando de uma massa uniforme. Uma análise puramente textual pode supor a passividade do público, desconsiderando seus contextos sociais e políticos de recepção42.

Em nosso corpus de análise, metodologias diversas são observadas, como a já mencionada avaliação pela escala de Likert para investigação da motivação dos estudantes36, a análise do conteúdo de Bardin8 ou questionários on line, provas e formulários aplicados aos estudantes integrantes da audiência21.

Aspectos culturais dos estudantes são considerados por Yerrick e Simons, ao indicarem que a maior parte dos filmes consumidos por jovens norte americanos se enquadram no gênero de FC, constituindo em “ferramenta para trazer o entendimento dos estudantes para dentro da sala de aula”22. De modo a compreenderem o entendimento de conceitos químicos de estudantes após quatro semanas de aulas, o que incluía entre as diferentes estratégias, o uso de filmes de FC, as autoras realizaram entrevistas estruturadas e notas de campo da professora-pesquisadora a respeito de observações das discussões dos estudantes ao longo das atividades.

A composição e o contexto da audiência também são considerados por Hasse37, ao realizar um estudo etnográfico de observação participante com estudantes da graduação em Física do Instituto Niels Bohr, em Copenhagen. Dentre as conclusões da autora, destacamos a observação de que estudantes do sexo masculino tendiam a ser estimulados por temas como viagens a Marte e viagens no tempo, enquanto as estudantes do sexo feminino não pareciam ser igualmente estimuladas por estes elementos fantasiosos, possuindo outras preocupações científicas. Portanto, de acordo com a autora, a FC é um elemento importante da cultura dos estudantes, que está sujeita a influências sociais e culturais de gênero. Por meio de questionário proposto a estes estudantes, dentre os motivos de suas escolhas pelo curso de Física, 32% de estudantes do sexo masculino indicaram a influência da FC, contra 7% de estudantes do sexo feminino. Em sala de aula, mesmo que professores não mencionassem a FC, estudantes do sexo masculino familiarizados com o gênero livremente traziam exemplos da ficção, o que não foi observado com estudantes do sexo feminino. Durante seu período na instituição, a autora observou que referências à FC engajaram muito mais o sexo masculino, enquanto as alunas ocasionalmente rejeitavam estas propostas. Portanto, o trabalho de Hasse chama atenção por considerar a influência de um aspecto do repertório cultural dos estudantes, os filmes de FC, em suas dinâmicas de estudo das ciências, em que a questão de gênero é influente.

A compreensão das percepções dos estudantes ao assistirem ao filme “O Núcleo” (2003) é analisada por Barnett e colaboradores43 por meio de entrevistas semiestruturadas, tarefas e desenhos realizados ao longo das aulas. As conclusões dos autores indicam que por fatores diversos o filme de FC empregado pode turvar as distinções dos estudantes entre fato e ficção. Já Myers e Abd-El-Khalick23 tiveram sua audiência composta por doutorandos de áreas diversas diante do filme “Contato” (1997). Estes foram orientados a produzirem uma resenha que serviu de fonte para os dados, complementados por entrevistas categorizados a partir do referencial teórico de “posturas ônticas”. Tanto Barnett, quanto Myers reconhecem a ausência de estudos de recepção de estudantes em contato com filmes de FC e a importância da sua realização, o que reforçamos diante da escassez de trabalhos da área.

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3.2.3 Análises holísticas

Tal como Schrøder44 destaca, nem a análise fílmica, nem a análise das recepções da audiência tomadas isoladamente são capazes de dar conta das nuances e da complexidade do processo comunicativo. Sendo assim, a conjugação de diferentes abordagens metodológicas e de análise proporciona uma compreensão mais robusta das experiências dos sujeitos em contato com os conteúdos midiáticos. Por meio deste contato, o público produz leituras, em seus contextos sociais, a partir de delimitações de significados privilegiados de acordo com as especificidades do texto6. Ou como Hall salienta: “a codificação produz a formação de alguns limites e parâmetros dentro dos quais as decodificações vão operar”45. Assim, por meio de uma concepção holística da relação entre produção e recepção das obras pode-se considerar a totalidade do processo de comunicação46. Embora nenhuma das pesquisas consideradas nesta revisão se apropriem de referenciais teóricos e metodológicos de análise holística, tal como os autores citados preconizam, encontramos em algumas das pesquisas de nosso corpus metodologias que, ainda que sutilmente, ponderam sobre ambos os elementos do processo comunicativo.

Alguns trabalhos conjugam análise fílmica e de audiência, no entanto carecendo de informações quanto aos referenciais teóricos de análise18,25,27,34. Amorim e Silva9 distinguem-se ao fornecer maiores detalhes a respeito da conjugação da análise fílmica, neste caso do filme “Sherlock Holmes” (2009), a partir do método proposto por Piassi e Pietrocola15, com as percepções de estudantes a respeito dos conteúdos de Química presentes em cenas do filme. Isso confere ao trabalho uma aproximação com a perspectiva holística de análise.

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3.2.4 Análise do reendereçamento

Em trabalhos diversos nota-se a confluência no reconhecimento da centralidade do professor em atividades com filmes de FC, dado o seu papel mediador, e as estratégias realizadas neste processo9,28,34,36.

Embora nenhum dos autores faça uso do termo, nos parece que as ideias de mediação encontradas na literatura convergem para o conceito de “reendereçamento”47, que expressa o conjunto de estratégias conduzidas por professores ao fazerem uso de recursos audiovisuais. Estas ações visam promover leituras consonantes com uma proposta curricular, gerando ressignificações de materiais que nem sempre foram produzidos para fins educativos48, como se dá por exemplo com filmes de FC.

Quando nos voltamos para os filmes de FC na literatura de Ensino de Ciências, observamos menções a estratégias que convergem para nossa compreensão de reendereçamento, como a ação de evidenciar elementos sutis das obras15, a conjugação da exibição do filme com textos34 ou a realização de perguntas que estimulem a construção do conhecimento16. Portanto, a partir da ação de reendereçamento do professor os estudantes podem apreender significados diversos daqueles originalmente presentes nos filmes26. Além disso, dada a riqueza de temas que podem ser identificados nos filmes de FC, a curadoria do professor é vista como necessária, uma vez que “a escolha da atividade a ser realizada depende da intencionalidade e dos objetivos que o professor tem com a exibição do filme no âmbito escolar”19.

É frequente ainda em nosso corpus a sinalização da importância do reendereçamento para lidar com a ocorrência de erros conceituais nos filmes de FC22,23,24,28,43.

Embora se observem menções frequentes a respeito do reendereçamento no que se refere aos filmes de FC, observamos poucos estudos que se preocupam em investigar suas dinâmicas e estratégias. Yow36 não chega a investigar o processo de reendereçamento, já que ele mesmo é o mediador, mas faz uma descrição das estratégias empregadas, oferecendo um relato de sua experiência ao propor um curso de Meteorologia com a inserção de trechos de filmes de FC.

O caso mais próximo a uma investigação do reendereçamento é oferecido por Lima e Pagliarini32, em que a mediação é realizada por um professor universitário de Física com o filme “A Origem” (2010), perante um público heterogêneo em uma atividade não formal em um cinema, onde o mediador orienta leituras da audiência à luz de termos e conceitos da Física. As dinâmicas estabelecidas são examinadas por meio de uma abordagem metodológica qualitativa e discursiva de estudo de caso e a mediação é analisada a partir da teoria da atividade e do materialismo histórico-dialético.

Portanto, o que nossa análise revela é que embora o reendereçamento seja reconhecidamente relevante no emprego de filmes de FC em aulas de disciplinas das Ciências da Natureza, o campo carece de investigações das estratégias empregadas por professores, sobretudo diante das particularidades do gênero. Em alguns casos, carece também de referencial conceitual para analisar essas mediações e as estratégias desenvolvidas.

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4. Considerações finais

A partir das publicações consideradas em nossa revisão da literatura identificamos e analisamos tendências nas pesquisas sobre filmes de FC no Ensino de Ciências. No que se referem às funções pedagógicas destes filmes, notamos, frequentemente discussões a respeito do conteúdo científico, o que inclui seu caráter epistemológico, sociocientífico e interdisciplinar. É comum ainda em nosso corpus a percepção destes filmes como motivadores do estudo e da aprendizagem das ciências pelos alunos, além do reconhecimento da centralidade da atividade mediadora do professor. As funções pedagógicas atribuídas aos filmes de FC revelam também uma lacuna de pesquisa: a escassez de investigações empíricas a respeito do caráter motivador, que frequentemente é tomado como um pressuposto não verificado e pouco problematizado.

Quanto aos principais aspectos teóricos e metodológicos considerados nestas publicações, notamos uma forte predominância da análise textual, principalmente à luz dos conteúdos disciplinares em que se inserem, sendo incomum o emprego de referenciais de análise fílmica. Uma vez que estamos discutindo a FC em sua manifestação cinematográfica, é oportuno que nos aproximemos de referenciais teóricos e metodológicos que possibilitem investigações mais detalhadas da sua ocorrência em sala de aula ou em ambientes não formais de aprendizado. Referenciais da crítica literária da FC, do cinema, da comunicação e da educação são pertinentes por nos proporcionar um olhar mais criterioso para as particularidades destes textos fílmicos e do seu contato com a audiência, composta majoritariamente por estudantes de disciplinas das Ciências da Natureza.

Esta carência de informações de referenciais de análise tange não só a análise fílmica, mas também da audiência ou propostas que em certa medida tocam em abordagens holísticas e do reendereçamento. O que nos revela um campo de trabalho a ser desenvolvido em publicações futuras, caso desejemos uma robustez maior nas pesquisas desta temática. Este dado está em confluência com um cenário mais amplo, já apontado, no que se refere à ausência de referenciais de comunicação e cinema em investigações de recursos audiovisuais no Ensino de Ciências49,50,51.

Tendo em mente tais tendências e lacunas, pesquisas futuras podem ampliar nosso olhar sobre filmes de FC nos conduzindo para além da concepção do gênero como um produto de consumo, considerando seu potencial como forma de pensar o mundo contemporâneo e, portanto, sua relevância para o Ensino de Ciências.

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5. Declaração de direitos

O(s)/A(s) autor(s)/autora(s) declara(m) ser detentores dos direitos autorais da presente obra, que o artigo não foi publicado anteriormente e que não está sendo considerado por outra(o) Revista/Journal. Declara(m) que as imagens e textos publicados são de responsabilidade do(s) autor(s), e não possuem direitos autorais reservados à terceiros. Textos e/ou imagens de terceiros são devidamente citados ou devidamente autorizados com concessão de direitos para publicação quando necessário. Declara(m) respeitar os direitos de terceiros e de Instituições públicas e privadas. Declara(m) não cometer plágio ou auto plágio e não ter considerado/gerado conteúdos falsos e que a obra é original e de responsabilidade dos autores.

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1

​​ Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro, Brasil. ​​ 

2

​​ Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro, Brasil.


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