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Scientific Society Journal  ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​​​ 

ISSN: 2595-8402

Journal DOI: 10.61411/rsc31879

REVISTA SOCIEDADE CIENTÍFICA, VOLUME 7, NÚMERO 1, ANO 2024
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ARTIGO ORIGINAL

Os principais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento da Neoplasia Colorretal em adultos jovens: uma revisão integrativa

Patricia Maria Marcon dos Santos1; Bruna Thomsem2; Camili Piacentin de Nadai3; Cindy Laís Pett Vieira4; Gustavo Luiz Beiler Girardi5; Jéssica Santos de Freitas Cardoso6; Julia Duarte de Oliveira7; Leonardo Wainer Borges8; Luan Agne Oliveira de Figueiredo9; Luis Gustavo Zonta10; Rebeca de Oliveira Basqueira11

 

Como Citar:

DOS SANTOS, Patricia Maria Marcon; THOMSEM, Bruna; DE NADAI, Camili Piacentin et al. Os principais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento da Neoplasia Colorretal em adultos jovens: uma revisão integrativa. Revista Sociedade Científica, vol.7, n. 1, p.3927-3943, 2024.

https://doi.org/10.61411/rsc202467917

 

DOI: 10.61411/rsc202467917

 

Área do conhecimento: Ciências da Saúde.

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Palavras-chaves: ​​ neoplasias colorretais; adulto; adulto jovem; fatores de risco.

 

Publicado: 25 de agosto.

Resumo

O câncer colorretal é uma neoplasia maligna, caracterizada por um crescimento descontrolado de células malignas no revestimento interno do cólon ou do reto, que surge a partir de lesões precursoras que podem desenvolver carcinomas invasivos levando à morte. Dados do INCA 2022, mostram que o câncer colorretal é o terceiro tipo de câncer mais frequente na população brasileira. Médicos oncologistas e cirurgiões vem percebendo na prática médica diária, um aumento significativo da incidência de câncer colorretal entre adultos jovens abaixo de 50 anos. E, relatam que os fatores de risco não são tão claros. Diante desta problemática encontrada e amplamente discutida, o objetivo desse estudo foi realizar uma revisão integrativa para identificar os principais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento da neoplasia colorretal em adultos jovens. O estudo seguiu os seis passos da revisão integrativa. Na elaboração da pergunta norteadora foi utilizada a estratégia PICO. Para a busca na literatura foram definidos como critérios de inclusão: artigos originais completos, idioma português, inglês e espanhol no período de 2024 a 2019, nas bases de dados: Medline e Lilacs e, os descritores de saúde foram: neoplasias colorretais; adulto; adulto jovem e fatores de risco. Utilizando a estratégia de busca, encontrou-se 197 artigos: após a leitura dos títulos, resumos e da leitura na íntegra, foram selecionados 11 artigos para a análise. Os resultados foram apresentados por meio de um fluxograma e de um quadro de resultados. Foi possível evidenciar os principais fatores de risco para o desenvolvimento de neoplasia colorretal em adultos jovens: falta de conhecimento sobre a doença; consumo de carne vermelha, Diabete Mellitus tipo 2; colecistectomia; diverticulite; hepatite B; dermatite atópica; obesidade; história familiar; sedentarismo; álcool; tabagismo; bebidas açucaradas; alterações intestinais; hipertensão arterial e triglicerídeos elevados. Considerando a multicausalidade para o desenvolvimento de uma neoplasia, o conhecimento sobre os fatores de risco é importante tanto para os profissionais de saúde, como para os indivíduos leigos, uma vez que é possível detectar sinais e sintomas antes do surgimento da doença. E, nos casos de neoplasias com alta incidência, como o câncer colorretal, incentiva-se o rastreamento (screening), visando um início precoce de tratamento.

 

 

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1. Introdução

Câncer é o conceito de um conjunto de mais de 100 doenças, que têm em comum o crescimento desordenado de células que tendem a invadir tecidos e órgãos vizinhos. O crescimento das células normais que formam os tecidos do corpo humano, é um processo contínuo, natural, em que as células crescem, se multiplicam e morrem de maneira ordenada¹. As células cancerosas, crescem de uma maneira rápida, agressiva e descontrolada, formando células anormais, espalhando-se para outras regiões do corpo e, acarretando transtornos funcionais, sendo o câncer um desses transtornos. Sendo assim, o câncer pode ser definido como uma divisão celular incontrolável capaz de invadir outras estruturas orgânicas ¹.

Esse crescimento não controlado dessas células, forma uma massa anormal do tecido, denominada neoplasia, classificada como benigna ou maligna. As neoplasias benignas ou tumores benignos, crescem de forma organizada, lentamente, sem invadir tecidos vizinhos, sendo os lipomas, miomas e adenomas. As neoplasias malignas ou tumores malignos, podem crescer rapidamente, invadindo tecidos vizinhos, causando metástases e podendo levar à morte. O câncer é um exemplo de neoplasia maligna ¹.

Ao direcionar esse estudo ao câncer colorretal, é importante compreender a anatomia do sistema digestório, composto por órgãos que atuam no processamento de alimentos, absorção de nutrientes e eliminação de resíduos do corpo. A digestão inicia na boca, passa pela faringe e esôfago até chegar ao estômago, onde são parcialmente digeridos. Em seguida, os alimentos entram no intestino delgado, onde ocorre a maior parte da digestão e absorção de nutrientes. E, ao final, chegam ao intestino grosso (cólon), que absorve água e minerais e armazena temporariamente os resíduos antes da eliminação pelo reto e ânus. Anatomicamente, o cólon é dividido em: cólon ascendente, transverso, descendente e sigmóide e, termina no reto ¹.

O câncer colorretal é uma neoplasia maligna, caracterizada por um crescimento descontrolado de células malignas no revestimento interno do cólon ou do reto, que surge a partir de lesões precursoras, como pólipos adenomatosos, que podem se desenvolver em carcinomas invasivos ao longo do tempo ¹.

Dados mundiais de 2022, mostram que os tipos de câncer no mundo variam de acordo com a região geográfica e hábitos de vida. No entanto, alguns tipos permanecem consistentemente prevalentes: em primeiro lugar, aparece o câncer de pulmão como um dos mais comuns e letais, atribuído principalmente ao tabagismo e à exposição a agentes carcinogênicos ambientais. Em seguida, é constatado o câncer de mama, que afeta tanto homens quanto mulheres e é objeto de intensos esforços de conscientização e pesquisa em busca de tratamentos mais eficazes. E, dados recentes mostram que o câncer colorretal está em terceiro lugar, acometendo indivíduos no mundo todo. Há ainda o câncer de próstata, câncer de estômago e câncer de fígado como os tipos de câncer mais comuns ².

Ao encontro dos dados mundiais, os dados nacionais evidenciam o câncer colorretal ocupando a terceira posição entre os tipos de câncer mais frequentes no Brasil. E, estudos apontam que o número estimado de casos novos de câncer de cólon e reto para o triênio de 2023 a 2025, é de 45.630 casos, correspondendo a um risco estimado de 21,10 casos por 100 mil habitantes, sendo 21.970 casos entre os homens e 23.660 casos entre as mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 20,78 casos novos a cada 100 mil homens e de 21,41 a cada 100 mil mulheres ³.

Até anos atrás, o Câncer Colorretal acometia, em sua maioria, adultos com mais de 50 anos de idade. Entretanto, na última década, autores observaram na prática médica diária, um aumento significativo da incidência de câncer colorretal entre adultos jovens abaixo de 50 anos, sendo a terceira principal causa de morte entre jovens adultos com menos de 50 anos de idade, no mundo. A incidência de câncer colorretal de início precoce tem aumentado muito entre indivíduos com menos de 50 anos e, destaca-se a preocupação que os fatores de risco não são claros ⁴,⁵,⁶.

Diante desta problemática encontrada e atualmente sendo discutida na medicina, o presente estudo tem por objetivo realizar uma revisão integrativa para identificar os principais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento da neoplasia colorretal em adultos jovens.

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2. Metodologia

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, conceituada como uma abordagem metodológica de revisão de literatura que tem por finalidade sintetizar de forma abrangente e ordenada o conhecimento existente na literatura resultante de estudos experimentais e não experimentais, dados da literatura teórica e empírica, definição de conceitos, revisão de teorias e evidências, e análise de problemas metodológicos de um tema. A revisão integrativa gera um panorama consistente de conceitos, teorias ou problemas da temática em questão, capaz de orientar a prática profissional .

As seis fases do processo para construção de uma revisão integrativa são: elaboração da pergunta norteadora; busca ou amostragem na literatura; coleta de dados; análise crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa ⁷.

Na primeira etapa, foi utilizada a estratégia PICO para a elaboração da pergunta norteadora, em que a população foram os adultos jovens na faixa etária entre 19 e 40 anos; a intervenção, o diagnóstico de neoplasia colorretal; não houve comparador e o outcome foram os fatores de risco . Sendo assim, definiu-se a pergunta norteadora: Quais os principais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento da neoplasia colorretal em adultos jovens?

Os critérios de inclusão foram artigos originais completos, revisados por pares, quantitativos, qualitativos ou métodos mistos, no idioma português, inglês e espanhol, dos últimos 5 anos, entre 2019 e 2024. E, os critérios de exclusão foram os estudos preprints, monografias, dissertações, teses, resumos publicados em eventos científicos, capítulos de livro, artigos indexados duplicados e não liberados gratuitamente.

A seleção de artigos ocorreu no dia 21 de março de 2023, às 14h22min, nas seguintes bases de dados: Medline e Lilacs. Os descritores de saúde DECs.MESH utilizados foram: neoplasias colorretais; adulto; adulto jovem; fatores de risco. E, a estratégia de busca elaborada foi ("neoplasias colorretais" AND adulto” AND adulto jovem” AND fatores de risco”).

Para a coleta de dados utilizou-se um instrumento, construído pelos autores, em formato de planilha de excel com o propósito de organizar a extração dos dados. As variáveis utilizadas foram: referência, título do artigo, ano, base de dados, país de origem, objetivo, metodologia, amostra, resultados, fatores de risco relacionado ao desenvolvimento da neoplasia colorretal e faixa etária da população no estudo e nível de evidência ⁹.

Com o uso da estratégia de busca nas bases de dados citadas acima, foram encontrados um total de 197 artigos. Após a seleção pela leitura dos títulos dos artigos, obteve-se 98 artigos. Em seguida, foi realizada a seleção pela leitura dos resumos desses artigos, e elegeram-se 41 artigos para a leitura completa do artigo. ​​ Após a leitura crítica do artigo completo, 11 artigos foram selecionados para compor a amostra da revisão integrativa.

Utilizou-se o instrumento The PRISMA 2020 statement: An updated guideline for reporting systematic reviews para contemplar as quatro etapas de seleção dos artigos no fluxograma abaixo10.

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3. Desenvolvimento e discussão

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Figura 1 - Fluxograma de identificação, triagem e inclusão dos ​​ artigos.

Fonte: Compilado dos autores, 2024

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O Quadro abaixo apresenta os artigos ordenados pelo fator de risco independente e associado, com dados sobre a referência, ano de publicação, país de estudo, fatores de risco relacionados ao desenvolvimento do câncer colorretal, faixa etária da população acometida e nível de evidência dos artigos ⁹.

Quadro 1 - Categorização dos estudos incluídos na revisão integrativa

Estudo

Referência

Ano

País

Fator de risco

Faixa etária

Nível de evidência

1

ELSHAMI M. et al. Public Awareness and Barriers to Seeking Medical Advice for Colorectal Cancer in the Gaza Strip: A Cross-Sectional Study. J Glob Oncol. USA, V.5, mai. 2019.

2019

Palestina

Falta de conhecimento sobre a doença

+15 anos

5

2

DAO, H. V. et al. A Case-Control Study of Meat Mutagens and Colorectal Cancers in Viet Nam. Asian Pacific journal of cancer prevention, Bangkok, v. 21, n. 8, p. 2217-2222, ago. 2020.

2020

Vietnã

Carne vermelha ​​ (Carcinógenos químicos dietéticos gerados na carne cozida em altas temperaturas de cozimento)

+25 anos

3

3

CHEN, C.H. et al. Insulin enhances and metformin reduces risk of colorectal carcinoma in type-2 diabetes, QJM: An International Journal of Medicine, v. 113, n. 3, p. 194-200 mar. 2020.

2020

Taiwan

DM2

+20 anos

3

4

KIM, S. B.; KIM, K. O.; KIM, T. N. Prevalence and Risk Factors of Gastric and Colorectal Cancer after Cholecystectomy. Journal of Korean Medical Science, Seoul, v. 35, n. 42, set. 2020.

2021

Coréia do Sul

Colecistectomia

19-45 anos

4

5

JIM-DOMINGUEZ, F. et al. Epidemiology of Diverticulitis and Prevalence of First-Ever Colorectal Cancer Postdiverticulitis in Adults in the United States: A Population-Based National Study. Diseases of the Colon & Rectum, Philadelphia, v. 64, n. 2, p. 181-189, fev. 2021.

2021

EUA

Diverticulite

+18 anos

3

6

SU, F. H. et al. Chronic Hepatitis B Virus Infection Associated with Increased Colorectal Cancer Risk in Taiwanese Population. Viruses, Switzerland, v. 12, n. 1, p. 97, jan. 2020.

2020

Taiwan

Hepatite B

+20 anos

4

7

CHOU, W. Y. et al. Association between atopic dermatitis and colorectal cancer risk: A nationwide cohort study. Medicine (Baltimore), USA, v. 99, n. 1, jan. 2020.

2020

Taiwan

Dermatite Atópica

+20 anos

3

8

CHANG, V. C. et al. Risk factors for early‐onset colorectal cancer: a population‐based case–control study in Ontario, Canada. Cancer Causes Control, Canada, v. 32, n. 10, p. 1063–1083, jun. 2021.

2021

Canadá

Histórico familiar

Sedentarismo

Bebidas açucaradas

20-49 anos

4

9

KIM, N. H. et al. Prevalence of and Risk Factors for Colorectal Neoplasia in Asymptomatic Young Adults (20-39 Years Old). Clinical Gastroenterology and Hepatology, Philadelphia, v. 17, n. 1. p. 115-122. jul. 2019.

2019

Coréia do Sul

Obesidade

HAS

DM2

Triglicerídeos elevados

Álcool

20-39 anos

4

10

SCHUMACHER, A. J. et al. Metabolic Risk Factors Associated with Early-Onset Colorectal Adenocarcinoma: A Case–Control Study at Kaiser Permanente Southern California. Cancer Epidemiology Biomarkers & Prevention, USA, v. 30, n. 10, p. 1792–1798, out. 2021.

2021

EUA

Obesidade

História familiar

15-49 anos

4

11

KIM, B. J.; HANNA, M. H. Colorectal cancer in young adults. Journal of Surgical Oncology, USA, v. 127, n. 8, p. 1247-1251, mai. 2023.

2023

EUA

Histórico familiar

Consumo de Carne

Álcool

Bebidas açucaradas

Tabagismo

Alterações intestinais

18-50 anos

4

Fonte: Compilado dos autores, 2024

A seguir será apresentada a discussão dos resultados e os parágrafos apresentam-se organizados conforme a sequência dos estudos no Quadro 1. Vale ressaltar que os estudos 1 ao 7 direcionaram-se a apresentar dados e informações sobre um fator de risco independente relacionado ao desenvolvimento do câncer de colorretal em adultos jovens, sendo: falta de conhecimento sobre a doença; consumo de carne vermelha, Diabete Mellitus tipo 2; colecistectomia; diverticulite; hepatite B e, dermatite Atópico. Os estudos 8 a 11, apresentaram fatores de risco associados contribuindo para o desenvolvimento de câncer colorretal em adultos jovens, sendo: obesidade, história familiar, sedentarismo, álcool, tabagismo, bebidas açucaradas, alterações intestinais, hipertensão arterial e triglicerídeos elevados.

Ao iniciar a discussão dos artigos selecionados, no estudo 1 foi realizado um estudo transversal na Palestina com uma amostra de 3.080 participantes entre 15 e 40 anos, com diagnóstico de neoplasia colorretal assintomática. O objetivo do estudo foi avaliar o nível de conscientização pública sobre o câncer colorretal na Faixa de Gaza. O principal resultado encontrado nesta população foi a falta de conhecimento e informações sobre a doença, levando à população a não saber identificar hábitos que podem ser fatores de risco para o desenvolvimento de doenças como o câncer de colorretal. Esse estudo foi selecionado para ser o primeiro a ser apresentado e discutido por evidenciar uma realidade presente em muitos países e comunidades: a falta de conhecimento, a falta de informação e a dificuldade de assistência à saúde ¹¹.

O estudo 2 apresentou um estudo de caso controle observacional no Vietnã. O objetivo do estudo foi examinar a associação entre as aminas heterocíclicas (HCAs), especificadamente a 2-amino-1-metil-6-fenilimidazo piridina (PhIP), como possíveis agentes carcinogênicos liberados no cozimento da carne vermelha e o risco de câncer colorretal. ​​ A amostra foi de 3.928 participantes, destes 512 foram diagnosticados com câncer colorretal por confirmação histopatológica. Os cânceres colorretais incluíram 312 casos de câncer de cólon e 200 casos de câncer de reto, sendo 292 em homens e, 220 em mulheres. Os resultados evidenciaram a ingestão de PhIP, liberadas no cozimento da carne vermelha, como um fator de risco para o desenvolvimento de câncer colorretal. Considera-se este estudo de grande relevância por se tratar de um alimento altamente consumido pela população na maioria dos países do mundo ¹².

O artigo 3 foi um estudo de coorte, de base populacional em Taiwan, com uma amostra de 66.324 participantes. O objetivo do estudo foi investigar a associação entre o uso de insulina ou metformina e o carcinoma colorretal (CCR) em pacientes com diabetes tipo 2 (DM2). Os resultados mostraram que pacientes com DM2 têm um risco aumentado de carcinoma colorretal em comparação aos indivíduos sem diabetes. E, entre os pacientes com DM2, constatou-se que o uso de insulina elevou ainda mais o risco de desenvolver CCR. Entretanto, o uso de metformina não mostrou um risco tão elevado para o desenvolvimento de CCR. Considera-se esse artigo importante, por elencar a DM2 e o uso de insulina como fatores de risco para a neoplasia colorretal. Isso ressalta a importância de estar atento às condições médicas subjacentes tão frequentes quanto a DM2, ao considerar a prevenção e o tratamento do câncer colorretal em adultos jovens ¹³.

O estudo 4, desenvolvido na Coreia do Sul, foi um estudo de prevalência, com uma amostra total de 3.588 participantes, cujo objetivo foi avaliar a relação entre colecistectomia e câncer colorretal (CRC) e os fatores de risco de câncer entre indivíduos que foram submetidos a colecistectomia. Os resultados mostraram que os pacientes submetidos à colecistectomia apresentaram um risco 108% maior de desenvolver CRC do que a população em geral. Essa descoberta destaca a importância da vigilância individualizada para detecção precoce do CCR em pacientes com histórico de colecistectomia. Sendo a colecistectomia uma cirurgia abdominal comum devido à alta incidência de doenças da vesícula biliar, surgem preocupações sobre as possíveis complicações a longo prazo, incluindo o desenvolvimento de câncer colorretal. Este estudo contribui positivamente para uma compreensão mais abrangente dos potenciais impactos da colecistectomia em relação ao câncer colorretal, podendo ser conteúdo de ações de prevenção nas práticas clínicas e políticas de saúde pública 14.

No artigo 5, realizou-se um estudo de coorte retrospectivo nos Estados Unidos, com uma amostra de 31.778.290 participantes. O objetivo do estudo foi descrever a incidência de diverticulite pela primeira vez e a prevalência de câncer colorretal pós-diverticulite. Este estudo revelou a prevalência de 0,57% de pacientes apresentando câncer colorretal até um ano pós diverticulite. Mulheres afro-americanos e adultos de 18 a 65 anos apresentaram maior risco de câncer colorretal pós-diverticulite. Esses achados destacam a importância de realizar exames de acompanhamento como a colonoscopia após o primeiro episódio de diverticulite 15.

O estudo 6, realizado em Taiwan, retratou um estudo de caso-controle de base populacional, cuja amostra foi de 69.478 pacientes e o objetivo foi avaliar a associação entre infecção pelo vírus da Hepatite B e o desenvolvimento de neoplasia colorretal. Os resultados apontaram a infecção crônica pelo vírus da hepatite B como um fator de risco para desenvolver neoplasia colorretal, por afetar a modulação do sistema imunológico do hospedeiro, particularmente em pacientes mais jovens. O estudo ressaltou que em Taiwan existem muitas áreas endêmicas de Hepatite B e, que a infecção ocorre principalmente durante a primeira infância e através da transmissão de mãe para filho, levando o paciente mais jovem a desenvolver doenças afetadas pela inflamação crônica causada pelo vírus. Acredita-se ser importante destacar a Hepatite B como fator de risco para o desenvolvimento de câncer colorretal quando estiver presente no histórico de saúde do paciente 5.

Neste mesmo cenário de pesquisas em Taiwan, o estudo 7 apresentou um estudo de coorte populacional, com uma amostra de 446.837 participantes, cujo objetivo foi investigar a associação entre dermatite atópica (DA) e o risco de câncer colorretal (CCR) em uma população asiática. Nos resultados, percebeu-se que durante o acompanhamento das 446.837 pessoas com DA, houve 508 pacientes recém-diagnosticados com CCR. A taxa de incidência correspondente foi de 11,37 por 10.000 pessoas-ano. Comparativamente, houve 1499 pacientes com CCR sem dermatite atópica, durante o período de acompanhamento de 1.751.978 pessoas-ano, sendo a taxa de incidência correspondente de 8,56 por 10.000 pessoas-ano. Nesse sentido, os autores consideram a dermatite atópica como fator de risco para o desenvolvimento do CCR na população asiática 16.

A partir do estudo 8, os autores evidenciaram fatores de risco associados para o desenvolvimento da neoplasia colorretal. No Canadá, um estudo de caso-controle, com uma amostra de 175 indivíduos entre 20 e 49 anos, teve como objetivo investigar a associação entre vários fatores de saúde, estilo de vida, hábitos alimentares e o risco de câncer colorretal de início precoce. Os resultados mostraram que história familiar de CCR, sedentarismo, consumo de bebidas açucaradas e um padrão alimentar mais ocidentalizado foram os fatores de risco que aumentaram estatisticamente o início precoce do CCR. O estudo sugere que alterações no estilo de vida e na dieta podem ser eficazes para reduzir a incidência deste câncer entre adultos jovens 17.

Nesta mesma perspectiva, no estudo 9, foi realizado um estudo de coorte na Coreia do Sul, com uma amostra de 72.356 participantes e o objetivo foi analisar a prevalência e os fatores de risco para neoplasias colorretais em adultos jovens assintomáticos na faixa etária de 20-39 anos. Os resultados evidenciaram que os principais fatores de risco que os participantes estavam expostos eram: obesidade, obesidade abdominal, pressão arterial elevada, níveis elevados de glicemia, idade, sexo masculino, tabagismo, consumo de álcool, síndrome metabólica e altos níveis de triglicerídeos 18.

O estudo 10, apresentou um estudo de caso-controle realizado nos Estados Unidos com uma amostra de 1.032 pessoas, cujo objetivo foi avaliar se as anormalidades metabólicas são fatores de risco para adenocarcinoma colorretal. No estudo, foram analisados casos de câncer colorretal diagnosticados entre jovens de 15 a 49 anos, comparados com não oncológicos e avaliando fatores como a obesidade, diabetes tipo II, hipertensão e dislipidemia. O estudo utilizou regressões logísticas para analisar a associação entre esses fatores de risco metabólicos e o risco de desenvolvimento de adenocarcinoma colorretal. Como resultado foi observado, a obesidade como um fator metabólico adverso relacionado ao risco aumentado de câncer de colorretal em adultos jovens. E, o outro fator de risco importante e associado foi o histórico familiar de CRC. Acredita-se que alterações metabólicas são condições modificáveis, que podem ser identificadas e orientadas por profissionais da saúde para prevenir doenças como o câncer colorretal ⁶.

Ao finalizar a apresentação dos estudos, destacou-se um dos estudos mais recentes do ano de 2023, realizado nos Estados Unidos. No estudo 11, desenvolveram um estudo observacional com o objetivo de fornecer informações sobre o câncer colorretal em adultos jovens com foco em várias áreas, incluindo: discussão de mudanças epidemiológicas, fatores de risco, variações nas apresentações clínicas e tratamento do subconjunto de pacientes ⁴. Os fatores de risco relacionados ao desenvolvimento de câncer colorretal, foram: histórico familiar, estilo de vida, idade, consumo carnes processadas, álcool, bebidas açucaradas, tabagismo e alterações intestinais 19.

Após a explanação dos artigos selecionados na revisão integrativa é possível descrever que os autores após analisar dados epidemiológicos e tendências globais, identificaram um aumento alarmante na incidência de câncer colorretal entre adultos com menos de 50 anos. Com base nessa realidade, esse compilado de estudos para mapeou e identificou os principais fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de colorretal em diversos países do mundo: falta de conhecimento sobre a doença; consumo de carne vermelha, Diabete Mellitus tipo 2; colecistectomia; diverticulite; hepatite B; dermatite Atópico; obesidade; história familiar; sedentarismo; álcool; tabagismo; bebidas açucaradas; alterações intestinais; hipertensão arterial e triglicerídeos elevados.

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4. Considerações Finais

O câncer colorretal (CCR) abrange os tumores malignos que acometem o intestino grosso (o cólon) e o reto, sendo que cerca de 50% localizam-se no reto e sigmóide e 30% no ceco 19. Além disso, por sua localização, a maioria desses tumores pode ser considerada, histologicamente, de comportamento mais agressivo. No cenário mundial e brasileiro, o câncer colorretal corresponde ao terceiro tipo de câncer mais frequente na população ², ³. ​​ 

Ao considerar o aumento significativo de incidência de câncer colorretal de início precoce entre adultos jovens abaixo de 50 anos e sem fatores de risco claros, foi realizada uma revisão integrativa com o objetivo de identificar os principais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento do CCR entre adultos jovens.

O resultado de onze estudos selecionados, de diferentes países, como: Estados Unidos, Canadá, Taiwan, Coreia do Sul, Vietnã e Palestina, apresentaram os seguintes fatores de risco associados ao desenvolvimento de câncer colorretal em adultos jovens: falta de conhecimento sobre a doença, consumo de carne vermelha, Diabete Mellitus tipo 2, colecistectomia, diverticulite, hepatite B, dermatite atópica, obesidade, história familiar, sedentarismo, álcool, tabagismo, bebidas açucaradas, alterações intestinais, hipertensão arterial e triglicerídeos elevados.

Ao considerar a multicausalidade frequente na formação do câncer, o conhecimento sobre os fatores de risco é importante tanto para os profissionais de saúde, como para os indivíduos leigos, uma vez que é possível detectar sinais e sintomas antes do surgimento da doença. Nesse mesmo sentido, incentiva-se o rastreamento (screening) a indivíduos expostos a tais fatores de risco para uma realização sistemática de exames com o objetivo de identificar a suspeita de uma doença e encaminhar para investigação diagnóstica.

O diagnóstico precoce é realizado com o objetivo de descobrir, o mais cedo possível, uma doença para um início imediato de tratamento, objetivando a cura, o prolongamento da vida e a melhora da qualidade de vida. ​​ Vale ressaltar que existem tratamentos curativos para alguns tipos de câncer, como: Câncer de mama, Câncer do colo do útero, Câncer da cavidade oral (boca) e Câncer de cólon e reto (intestino), quando detectados precocemente e tratados de acordo com as melhores práticas clínicas.

Nesse sentido, o início precoce de tratamento personalizado é essencial diante do aumento alarmante da incidência desse tipo de câncer. A educação contínua para profissionais de saúde e a promoção de hábitos saudáveis é fundamental para enfrentar esse fenômeno e atender às necessidades específicas dessa população em crescimento. Acredita-se que este estudo fornece importantes informações que podem ser utilizadas na atenção primária, com a promoção à saúde por meio de estímulo a hábitos de vida e dietéticos saudáveis voltados para a prevenção do câncer colorretal em adultos jovens.

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5. Declaração de direitos

 Os autores declaram ser detentores dos direitos autorais da presente obra, que o artigo não foi publicado anteriormente e que não está sendo considerado por outra revista. Declaram que as imagens e textos publicados são de responsabilidade dos autores, e não possuem direitos autorais reservados a terceiros. Textos e/ou imagens de terceiros são devidamente citados ou devidamente autorizados com concessão de direitos para publicação quando necessário. Declaram respeitar os direitos de terceiros e de instituições públicas e privadas. Declaram não cometer plágio ou autoplágio e não ter considerado/gerado conteúdos falsos e que a obra é original e de responsabilidade dos autores.

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6. Referências

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