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ISSN: 2595-8402

Journal DOI: 10.61411/rsc31879

REVISTA SOCIEDADE CIENTÍFICA, VOLUME 7, NÚMERO 1, ANO 2024
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ARTIGO ORIGINAL

Diversidade linguística e as palavras pouco frequentes na Língua Portuguesa

Louise Bogéa Ribeiro1; Manoel da Silva Filho2

 

Como Citar:

RIBEIRO, Louise Bogéa; FILHO, Manoel da Silva. Diversidade linguística e as palavras pouco frequentes na Língua Portuguesa. Revista Sociedade Científica, vol.7, n. 1, p.3529-3544, 2024.

​​ https://doi.org/10.61411/rsc202462717

 

DOI: 10.61411/rsc202462717

 

Área do conhecimento: Letras.

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Sub-área: Linguística.

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Palavras-chaves: diversidade; palavras incomuns; preconceito linguístico.

 

Publicado: 14 de agosto de 2024.

Resumo

O presente estudo teve por objetivo entender o que é diversidade linguística, apresentando palavras pouco frequentes na Língua Portuguesa e conhecer os desafios inerentes à prática pedagógica do docente de Língua Portuguesa à perspectiva de uma formação humana. Nota-se a necessidade de conhecer ainda mais acerca da diversidade linguística que habita nas diferentes formas de falar da população brasileira, assim como pela importância de colaborar para que ela não se torne uma arma racista e ​​ preconceituosa, usada para desdenhar e humilhar as dessemelhantes formas de falar em português. Para tanto, o presente estudo foi concretizado através de uma abordagem qualitativa, fundamentada em pesquisa bibliográfica e estudo de caso. A pesquisa possui um aspecto exploratório. Concluiu-se que, ao dominar o Português e familiarizar-se ​​ com uma variedade ampla de palavras, o usuário torna-se mais apto a compreender textos complexos e a produzi-los, aprimorando a sua capacidade de expressão de ideias. Esse processo de aprendizagem facilita o domínio de outras línguas. Com isto, espera-se disseminar e valorizar o vasto patrimônio linguístico.

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Abstract

The present study aimed to understand what linguistic diversity is, presenting words that are uncommon in the Portuguese language and to understand the challenges inherent to the pedagogical practice of Portuguese language teachers from the perspective of human training. There is a need to know even more about the linguistic diversity that inhabits the different ways of speaking of the Brazilian population, as well as the importance of collaborating so that it does not become a racist and prejudiced weapon, used to disdain and humiliate dissimilar ways. to speak in Portuguese. To this end, the present study was carried out through a qualitative approach, based on bibliographical research and case study. The research has an exploratory aspect. It was concluded that, by mastering Portuguese and becoming familiar with a wide variety of words, the user becomes more capable of understanding complex texts and producing them, improving their ability to express ideas. This learning process makes it easier to master other languages. With this, it is hoped to disseminate and enhance the vast linguistic heritage.

Keywords: diversity; unusual words; linguistic prejudice.

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1. Introdução

O panorama da educação do Brasil, na atualidade, vem sendo alvo de críticas no que se refere ao desempenho não suficiente de alunos no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e em demais exames nacionais, a exemplo da Prova Brasil, do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e no Programa de Avaliação Internacional (PISA). Os alunos corroboram dificuldades sobretudo no que se alude à compreensão escrita, o que pode ser resultado do uso de metodologias instrucionais ou avaliativas impróprias, em meio a preparação da formação estudantil (Silva; Siqueira, 19).

Assim, em prol de uma formação mais qualificada, a ação de ler não pode ser ​​ ignorada na sala de aula, considerando-se as restrições sucedidas do próprio indivíduo. As competências demandadas para as competências de leitura e escrita necessitam ser destacadas no espaço escolar, oferecendo autonomia para o aluno na prática de sua cidadania, para a formação da sua própria identidade, perante as relações sociais e culturais (Nunes; Jesus, 2009).

Ao lidar com experiências novas, o sistema nervoso do ser humano possui a ​​ capacidade de reorganizar os circuitos neurais, procedendo no aprendizado ou ao que se pode chamar de “neuroplasticidade”. Deste modo, as práticas pedagógicas direcionadas podem incitar o fenômeno da neuroplasticidade ao promover a obtenção de novos conhecimentos e habilidades, promovendo modificações no comportamento (Guerra, 9).

Por diversas décadas, notou-se que investigações no campo do aprendizado possuem maior foco nas competências cognitivas, assim como nos fatores ​​ motivacionais, ambos podendo ser tidos como dois fatores decisivos no sucesso do ​​ procedimento de ensino-aprendizagem. Na década de 1970, teve-se o surgimento de ​​ uma terceira categoria de variáveis, que são os processos metacognitivos, esses que ​​ coordenam as capacidades cognitivas emaranhadas na memória, leitura, ​​ entendimento de textos etc. (Guerra, 9).

A este conhecimento, bem como a competência de planejar, de conduzir o entendimento e de avaliar o que foi aprendido, adjudica-se a designação de ​​ metacognição. Ressalta-se que fatores concernentes à idade, formação e ensino, possuem conexão direta com o desenvolvimento de capacidades metacognitivas para ​​ alcançar o entendimento (Ribeiro, 16).

A falta de êxito de alguns estudos feitos com o objetivo de promover a ​​ utilização de estratégias e/ou mudanças nas já utilizadas, e a investigação de ​​ distinções expressivas observadas no desempenho escolar, não apenas em cargo da utilização de estratégias cognitivas, entretanto, também de estratégias metacognitivas, levou alguns autores a entenderem que os bons estudantes são mais ​​ apropriados tanto na utilização de estratégias para contrair, organizar e utilizar o ​​ seu conhecimento, como também na regulação de seu avanço cognitivo (Joly et al.,11).

Deste modo, tem-se que a diversidade linguística exibe ampla influência nas ​​ relações que acontecem no espaço escolar e, por conseguinte, no ensino aprendizagem. Tais influências ficam mais manifestas em se tratando do ensino da ​​ Língua Portuguesa. Por certas vezes, docentes que não levam em consideração as ​​ variações linguísticas em suas práxis pedagógicas, convergem a adotar uma ideia entre o “certo” e o “errado”, condenando as variantes linguísticas que se afastam do ​​ padrão (Travaglia, 21).

Sabe-se que a linguagem se trata de uma ferramenta essencial usada pelo ser ​​ humano nas suas expressões e comunicações – ela configura o seu pensamento que é ​​ impresso pela fala nos mais diferentes intercâmbios sociais. E, ao se pensar na Língua ​​ Portuguesa, logo, pensa-se em uma língua que tem extensas e variadas formas, ​​ portanto, uma ampla diversidade linguística, com palavras incomuns e pouco usadas (Gavazzi, 7).

Neste contexto, a língua, essa enquanto fator social, mostra-se intensamente assinalada por aspectos culturais e por eles influenciada, transformando-se em ​​ artefato constituinte de uma das expressões culturais de um povo. Assim, a língua ​​ enquanto bem imaterial, acaba fazendo com que os limites de grupos sociais calhem com os seus, deste modo, a falta de uma língua insinuaria um estado recente ou ​​ artificialmente estabelecido (Antunes, 2007).

Como problema da pesquisa, observa-se que a fluência na leitura e produção ​​ textual na sala de aula deve ser tratada com primazia, porém, a maioria dos ​​ estudantes apresenta desempenho insuficiente nos principais exames do país. Apesar da riqueza sociocultural da Língua Portuguesa, com mais de 400 mil palavras em seus dicionários, numerosos vocábulos ainda permanecem desconhecidos tanto na modalidade escrita quanto na fala dos usuários (Observatório da Língua Portuguesa, 14).

Além do mais, a aprendizagem de palavras incomuns do português ​​ proporciona o fenômeno da neuroplasticidade, e a utilização de estratégias ​​ metacognitivas representa um desafio mental ao testar o cérebro, estimulando o ​​ pensamento crítico e a capacidade de assimilar informações complexas, o que ​​ possibilita aos aprendizes um instrumento para expressão mais precisa, diversificada ​​ e criativa.

Portanto, o presente estudo teve por objetivo entender o que é diversidade ​​ linguística, apresentando palavras pouco frequentes na Língua Portuguesa e conhecer ​​ os desafios inerentes à prática pedagógica do docente de Língua Portuguesa à ​​ perspectiva de uma formação humana.

Como justificativa para o desenvolvimento do presente estudo, nota-se uma necessidade de conhecer ainda mais acerca da diversidade linguística que habita nas ​​ diferenças formais de falar da população brasileira, assim como pela importância de ​​ colaborar para que ela não se torne uma arma racista e preconceituosa, usada para ​​ desdenhar e humilhar as dessemelhantes formas de falar em português. ​​ 

Para tanto, o presente estudo foi concretizado através de uma abordagem ​​ qualitativa, fundamentada em pesquisa bibliográfica e em estudo de caso, com o objetivo de se aprofundar ​​ no conhecimento acerca do tema aqui abordado. O presente estudo foi abordado com ​​ o auxílio de livros, artigos científicos e sites de Internet. Apresentamos também palavras incomuns que foram pesquisadas por estudantes durante aulas de Português em nível técnico que envolvem as palavras-chave descritas no resumo deste estudo. A pesquisa possui um aspecto exploratório.

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2. Diversidade linguística brasileira e as práticas pedagógicas

Inicialmente, compete dizer que os humanos são os únicos animais conhecidos ​​ por serem capazes de uma linguagem complexa. Neste contexto, já tem muito tempo ​​ que a neurociência cognitiva procura compreender como os cérebros são ​​ singularmente capazes de processar padrões hierárquicos e de aprender regras ​​ avançadas necessárias para a linguagem (Abutalebi, 1).

Na verdade, a capacidade de aprender a linguagem é inata ao cérebro humano: ​​ as crianças demonstram a capacidade de detectar padrões complexos na fala e gerar ​​ automaticamente regras implícitas para detectar e produzir de forma fiável esses ​​ padrões no futuro (Hartwigsen; Saur,13).

Além do mais, a capacidade de aprender certos aspectos da linguagem, ​​ entretanto, é limitada após a primeira infância. Este período sensível para a ​​ aprendizagem de línguas torna-o em um sistema modelo importante para o estudo da ​​ plasticidade do desenvolvimento em crianças (Liao; Vasilakos; He, 12). Evidências científicas recentes, no entanto, desafiaram esta visão. Em ​​ particular, estudos cognitivos e cerebrais sobre a aquisição da linguagem bilíngue, ​​ juntamente com estudos de memória, atenção e percepção, demonstraram uma ​​ neuroplasticidade contínua para a aprendizagem da linguagem no cérebro adulto que ​​ nunca foi imaginada anteriormente (Rubinov; Sporns, 18).

O estudo da neuroplasticidade da aprendizagem da linguagem na idade adulta e a compreensão dos correlatos neurais do processamento e representação da linguagem fizeram progressos significativos na última década devido aos acelerados avanços nas tecnologias de neuroimagem (Price, 15).

Estudantes precisam ser direcionados a comunicar-se de formas variadas, substituindo palavras comuns por termos incomuns, por exemplo, sarça, ​​ enlevo, jocosidade, amplexo, etc. Isso pode ser particularmente útil em algumas situações como em redações de vestibular e concursos públicos. Tais sinônimos infrequentes são capazes de ocasionar ruídos ou até mesmo falha na comunicação, apesar de estarem entre palavras comuns (Liao; Vasilakos; He, 12). Por essa razão, devem ser utilizados de maneira adequada, conforme orientações do docente de Português.

Ressalta-se que o uso desse vocabulário, dependendo do contexto da comunicação, pode ser alvo de preconceito linguístico, isto é, não somente verbetes não enquadrados na linguagem culta podem ser discriminados, mas expressões extremamente formais também podem sê-lo. O processo de ensino e aprendizagem desses termos mostra-se enquanto melhor ferramenta para combater preconceitos a partir do ganho dessa informação. Em um contexto pedagógico, em vários casos, acabam propiciando uma ortografia truncada e desafiadora para o docente trabalhar dentro da sala de aula. A partir de então, tem-se a importância de práticas pedagógicas inclusivas e que trabalhem a diversidade linguística dentro da Língua Portuguesa (Price, 15).

De acordo com Geraldi (8), o ensino da diversidade da língua surge como uma das revelações da linguagem, além de constituir a utilização, e se exibir como uma ação de construção de sentidos, sendo igualmente domínio do homem ​​ pelo homem, a maneira como ele se comunica e transmite suas compreensões acerca ​​ de verificado fato ou objeto.

Sendo assim, a diversidade linguística se encontra conexa ao fato de como a sociedade exibe sua forma de falar, conforme o momento, local, utilização no cotidiano, com suas particularidades e expressividades. Essa diversidade possui particularidades heterogêneas, portanto, são caracterizadas por cada camada da sociedade, que evidencia em sua linguagem o entendimento da língua materna (Bagno, 4).

A língua é componente da cultura, que igualmente possui proeminência do ​​ todo e com ele põe em ação essencialmente o intercâmbio cultural na sociedade e, ​​ portanto, advém a ser o acompanhamento de cada acontecimento cultural de duas maneiras: como efeito da cultura e o meio para que tal cultura opere, sendo essa a ​​ condição de sua existência (Geraldi, 8).

Além do mais, em se tratando de diversidade linguística, torna-se necessário ​​ compreender que sua estrutura se desponta no panorama da sociedade, em suas ​​ distinções das falas, por meio da sua linguagem formal e não formal. Logo, com as relações entre o domínio da variante culta da língua materna e o poder que se é obtido por meio deste atributo, avulta-se a importância de se instrumentalizar os educandos igualmente, referente à norma-padrão, para que este não seja objeto de manipulação ​​ pela classe predominante e consiga, por meio da sua interpretação e assimilação de ​​ saberes, concretizar um empoderamento social (Bagno, 4).

Como bem ressalta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), trabalhar as ​​ relações da língua na concepção da sociedade, advém a ser um recurso significativo na ​​ formação dos educandos. Assim, a prática pedagógica precisa ser pautada em diferentes textos semióticos, como histórias em quadrinhos, charges e anúncio publicitário, e ​​ conversando com o procedimento de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa no ​​ ambiente escolar, transportando-os de maneiras expressivas, com referências ao ​​ desenvolvimento do educando inteiramente (Brasil, 5).

A Língua Portuguesa possui mais de quatrocentas mil palavras. Evidentemente, ​​ não é necessário conhecer todas elas para se comunicar. No entanto, é sempre bom e interessante aprender novas palavras e expandir o vocabulário. Para tanto, aqui, exibe-se no Quadro 1 trinta palavras desconhecidas da Língua Portuguesa e as suas respectivas significações (Educa+Brasil, 6).

Palavras desconhecidas tratam-se daquelas que não são utilizadas frequentemente pelos falantes ou que possuem uma significação pouco conhecida ou ​​ característica. Determinadas palavras podem ser tidas como obsoletas, portanto, que ​​ caíram em desuso com o transcorrer do tempo (Gnerre, 2009).

Já demais palavras podem ser neologismos, sendo assim, que foram criadas de ​​ modo recente ou que ainda não foram incorporadas a uma utilização trivial. Existem ​​ ainda as palavras que incumbem a áreas técnicas ou científicas e que não fazem parte ​​ do vocabulário do cotidiano da população em geral (Educa+Brasil, 6).

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Quadro 1 - Palavras desconhecidas da Língua Portuguesa e as suas respectivas significações

Palavra

Significado

Acendrar

Tornar idêntico à cinza; diminuir a pó; purificar; apurar,

Bafiento

Que tem cheiro de bafio; abafado; mofado; velho; retrógrado,

Cacofonia

Som desagradável gerado pela junção de sílabas ou palavras; dissonância; ​​ ausência de harmonia,

Dendriforme

Que possui forma de árvore; arborescente; ramificado,

Eflúvio

Emanação subtil; exalação; perfume; influência; encanto,

Fútil

Que não tem importância; insignificante; trivial; superficial; vão.

Gnose

Conhecimento esotérico e místico; sabedoria oculta; ciência divina.

Heteróclito

Que é composto de elementos diferentes ou incongruentes; irregular; anormal; ​​ bizarro.

Inócuo

Que não faz mal; inofensivo; inocente; ineficiente.

Jaez

Qualidade ou condição de algo ou alguém; aspecto; caráter; índole.

Lacónico

Que usa poucas palavras para se expressar; breve; conciso; sucinto.

Melifluo:

Que tem mel na voz ou no modo de falar; doce; suave; lisonjeiro.

Nefando

Que é oposto à natureza ou à moral; abominável; execrável; apavorante.

Obnubilar

Cobrir com nuvens; escurecer; ofuscar; turvar.

Pândego

Que é alegre e divertido; folgazão; brincalhão; jocoso.

Quimera

Monstro mitológico com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de dragão; ​​ ilusão; fantasia; utopia.

Rutilante

Que brilha; resplandecente; cintilante; fulgurante.

Sagaz

Que tem sagacidade; perspicaz; astuto; esperto.

Taciturno

Que fala pouco; silencioso; calado; triste; melancólico.

Ululante

Que ulula; que emite som agudo e prolongado; que grita; que é evidente; ​​ clamoroso.

Vexame

Ação ou efeito de vexar; humilhação; vergonha; constrangimento.

Xenofobia

Aversão ou hostilidade a estrangeiros ou a indivíduos de culturas dessemelhantes; preconceito; discriminação.

Zelote

Componente de uma seita judaica que se opunha à dominação romana na ​​ Palestina; fanático; extremista.

Abnegação

Renúncia aos próprios interesses ou anseios em benefício de uma causa ou de ​​ alguém; sacrifício; altruísmo.

Bizarro

Que é estranho ou excêntrico; grotesco; ridículo.

Cândido

Que é puro ou inocente; ingénuo; sincero.

Díspar

Que não é idêntico ou semelhante; diferente; desigual.

Efêmero:

Que dura pouco tempo; passageiro; transitório.

Fátuo

Que é vaidoso ou presunçoso; arrogante; pretensioso.

Genuíno

Que é verdadeiro ou autêntico; original; natural.

Fonte: Adaptado de Educa+Brasil (6)

Deste modo, observa-se que as palavras difíceis e incomuns da gramática da ​​ Língua Portuguesa são parte da norma culta do idioma. Elas precisam ser usadas com ​​ bom senso, pois, a compreensão dos seus significados não alcança todos os graus de ​​ escolaridade (Bagno, 4).

No Quadro 2, temos 30 palavras incomuns pesquisadas por estudantes de nível técnico, durante aulas de Português, no segundo semestre de 2023, em Marabá-PA.

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Quadro 2 - Palavras incomuns da Língua Portuguesa e as suas respectivas significações.

Palavra

Significado

Animalejo

Animal pequeno.

Sarça

Mata densa, floresta.

Fólio

Livro, folheto.

Enlevo

Sensação de êxtase, contentamento.

Cume

Topo, ápice.

Pulcro

Beleza, gentil, formoso.

Jocosidade

Gesto, brincadeira, alegria.

Rudimento

Origem, início.

Píncaro

O ponto mais alto de um monte.

Doctilóquia

Eloquência, expressividade.

Perquirição

Investigação, averiguação.

Avultado

Grande, volumoso.

Ignomínia

Afronta, desonra, ofensa. Sinônimo de opróbrio, estultícia, vitupério.

Malogro

Frustração, fracasso, insucesso, prejuízo, azar.

Donairoso

Elegante, gentil.

Atroz

Cruel, desumano, fracasso.

Jacundidade

Felicidade, alegria, jovialidade.

Garboso

Belo, elegante.

Desdoura

Desonra, vergonha.

Felícia

Boa ventura, felicidade.

Airoso

Boa aparência, agradável, gentileza.

Ignávia

Covardia, preguiça, inércia, indolência.

Comicidade

Cômico, engraçado.

Turbação

Inquietação, agitação, desassossego.

Anelos

Anseios, ambições, aspirações, avidezes.

Demérito

Desmerecimento

Arquejo

Ansiar, arfar.

Opúsculo

Livro pequeno.

Alcantil

Precipício, rocha alta.

Folguedo

Brincadeira, folia, divertimento.

 

Portanto, para dizer que uma palavra é difícil, precisa-se considerar dois ​​ fatores: o seu pouco uso e o conhecimento gramatical para escrevê-la ou pronunciá-la. Tem-se ainda palavras difíceis em razão de possuírem uma escrita e pronúncia ​​ difíceis ou por serem ignoradas por boa parte da população. Também, dependendo da ​​ palavra, até a leitura pode se tornar difícil (Gnerre, 2009).

No que se refere às palavras incomuns, têm-se aquelas que são desconhecidas por grande parte da população, que demandam maior coeficiente de escolaridade para a compreensão da sua significação. Comumente, estas palavras são características de áreas tais como Medicina, Literatura, Direito e Engenharia. Para ​​ citar alguns exemplos, tem-se: exórdio, empedernido, arresto e antologia (Bagno, 4).

Uma outra classificação de palavras incomuns abrange as palavras que ​​ demandam conhecimento em gramática, solicitando assim maior atenção para com ​​ as regras de acentuação e grafia. Como exemplo, pode-se citar aqui as seguintes: inconstitucionalissimamente e traquelossuboccipital (Educa+Brasil, 6).

Há ainda uma crença de que, para que se possa escrever ou falar bem, torna-se necessário utilizar palavras difíceis para causar boa impressão e maior impacto. ​​ Entretanto, o que os linguistas indicam é utilizá-las de maneira moderada, ​​ atentando-se ao grau de instrução do receptor da mensagem (Bagno, 4).

A estruturação do ensino da Língua Portuguesa, em conjuntura escolar, advém ​​ a ser um desafio para os docentes e uma compreensão complexa para os educandos, ​​ porquanto, por meio de um processo em que os textos não são elaborados com as ​​ vivências e entendimentos de mundo dos educandos, para que não se torne maçante e até mesmo impraticável esta prática na escola. Igualmente, tem-se a necessidade de promover o ensinamento das diferentes falas encontradas pelo Brasil, como o jeito de falar dos nordestinos, dos sulistas etc. (Azevedo; Damasceno, 3).

Portanto, a linguagem não é utilizada somente para transportar informações. ​​ Ela igualmente evidencia a identidade cultural de um verificado grupo social, já que, através dela, são manifestados os sentimentos que formam o indivíduo e evidenciam-se ​​ empatias e, até mesmo, repulsas que são expressões de como o sujeito sente-se referente ​​ a verificada circunstância e ou indivíduo (Silveira, 20).

Dentro da teoria da literatura, a língua pode ser trabalhada através de textos ​​ variados, com autores que fazem a utilização de diversas maneiras de linguagem. Assim, trabalhar a linguística dentro da sala de aula trata-se de um período de ação e ​​ reflexão para o docente, já que, dependendo do método, os educandos são ​​ compelidos a dialogarem acerca da leitura e alcançarem uma ponderação sobre o ​​ texto lido, criando conexões e gerando conhecimento (Amaral, 2).

A reflexão sobre a natureza sócio-histórica da língua se mostra imprescindível, ​​ especialmente quando se ambiciona que o educando contraia as capacidades fundamentais para o entendimento textual e igualmente à aquisição de sua autoria. Portanto, parte daqui a possibilidade de formar um leitor-escritor competente, ​​ coerente e consciente de seus fins, do seu mundo e de chegar a uma produção textual ​​ completa (Silveira, 20).

Ademais, é preciso fazer com que este procedimento de adaptação da língua às ​​ circunstâncias discursivas fique bem evidente para os educandos, trazendo-lhes, ​​ assim, mais um desafio – que o educador precisa aceitar em sua prática, portanto, ​​ exibir uma gama de probabilidades para uma produção textual íntegra, objetivando não descaracterizar a utilização do currículo de Língua Portuguesa como meio apenas de leitura e interpretação de textos sem ajustamentos com conceitos dialógicos de ​​ mundo e constituição de saberes (Azevedo; Damasceno, 3).

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3.Considerações Finais

Concluiu-se que, ao dominar o Português e familiarizar-se com uma variedade ​​ ampla de palavras, o usuário torna-se mais apto a compreender textos complexos e a ​​ produzi-los, aprimorando a sua capacidade de expressão de ideias, incluindo a ​​ facilitação do conhecimento de outras línguas, com maior chance de destacar-se ​​ profissionalmente. Com isto, espera-se disseminar e valorizar o vasto patrimônio ​​ linguístico.

Constatou-se também que a diversidade linguística é uma forma de falar sobre ​​ vários tipos de características, incluindo família linguística, gramática e vocabulário. ​​ Uma família linguística é um grupo de línguas com origens relacionadas que ​​ compartilham algumas características.

Em se tratando das palavras difíceis e incomuns, observou-se que estas são ​​ aquelas que não são usadas frequentemente, que aparecem sobretudo em uma conjuntura de formalidade (Ribeiro; Rodrigues; Costa, et al.17). Por tal razão, assemelham-se distintas, ou até mesmo estranhas. A grande dificuldade se encontra na compreensão de sua significação, igualmente na ação de falar e sua incorporação no repertório linguístico do estudante.

Por fim, notou-se que o docente e toda a estrutura escolar possuem o desafio ​​ de facilitar que os educandos tenham acesso a um conjunto variado de leitura e ​​ sejam apropriados de se expressarem de diferentes maneiras, sob linguagem ​​ diversificada, com autonomia em sua autoria, transformando-se, porquanto, em ​​ indivíduos ativos na construção de suas atividades linguísticas e culturais, ​​ entendendo e interatuando com o mundo em que vivem igualmente, inicialmente das palavras e das imagens que leem, de sua oralidade e das suas produções textuais.

Ademais, ressalta-se que o uso de estratégias metacognitivas desponta como um valioso recurso secundário para o reforço de conexões sinápticas pelo fenômeno ​​ da neuroplasticidade e aprendizado. Sendo assim, é admissível defender a ​​ necessidade de se destacar a compreensão escrita com estratégias metacognitivas, ​​ enquanto recurso importante para que haja a promoção do completo processo ​​ educacional na apropriação de novos conteúdos linguísticos. Essa ação pode ser incitada pelo docente perante processos didático-pedagógicos simples, que não demandam maior tempo para a aplicação, porém, com consequências apropriadas de exceder os limites da sala de aula.

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4.Declaração de direitos

 O(s)/A(s) autor(s)/autora(s) declara(m) ser detentores dos direitos autorais da presente obra, que o artigo não foi publicado anteriormente e que não está sendo considerado por outra(o) Revista/Journal. Declara(m) que as imagens e textos publicados são de responsabilidade do(s) autor(s), e não possuem direitos autorais reservados à terceiros. Textos e/ou imagens de terceiros são devidamente citados ou devidamente autorizados com concessão de direitos para publicação quando necessário. Declara(m) respeitar os direitos de terceiros e de Instituições públicas e privadas. Declara(m) não cometer plágio ou auto plágio e não ter considerado/gerado conteúdos falsos e que a obra é original e de responsabilidade dos autores.

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1

Universidade Federal do Pará.

2

Universidade Federal do Pará.

 


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