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ISSN: 2595-8402

Journal DOI: 10.61411/rsc31879

REVISTA SOCIEDADE CIENTÍFICA, VOLUME 7, NÚMERO 1, ANO 2024
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ARTIGO ORIGINAL

Uso do Mepolizumabe como terapia adjuvante na asma alérgica eosinofílica grave: uma revisão bibliográfica

Alex Martiniano Martins1; Bruno Debona Souto2; Camila Botelho Miguel3; Severino Correia do Prado Neto4

 

Como Citar:

MARTINS, Alex Martiniano; SOUTO, Bruno Debona; MIGUEL, Camila Botelho; NETO, Severino Correia do Prado. Uso do Mepolizumabe como terapia adjuvante na asma alérgica eosinofílica grave:uma revisão bibliográfica. Revista Sociedade Científica, vol. 7, n. 1, p. 1-16, 2024. https://doi.org/10.61411/rsc20238416

 

DOI: 10.61411/rsc20238416

 

Área do conhecimento: Ciências da Saúde

Sub-área: Medicina; Imunologia; Alergologia

 

Palavras-chaves: Asma alérgica; Eosinofilia; Imunobiológico; Mepolizumabe.

 

Publicado: ​​ 28 de dezembro de 2023

Resumo

A asma alérgica é uma doença respiratória crônica que afeta as vias aéreas inferiores, ocasionada por uma inflamação recorrente dos brônquios. A asma eosinofílica alérgica, marcada por uma hiperprodução de eosinófilos, desencadeia-se por uma série de danos nos tecidos dos brônquios pela alta infiltração tecidual destas células de defesa, ocasionando um elevado processo inflamatório. A interleucina 5 (IL-5) é a principal citocina mediadora responsável pela sintetização dos eosinófilos. A utilização de um imunobiológico que consegue inibir a ligação da IL-5 com seu receptor expresso nos eosinófilos, contribui no controle das exacerbações. Assim, este estudo visa elucidar os aspectos gerais da asma com foco na asma alérgica eosinofílica grave e o uso terapêutico do Mepolizumabe. As bases de dados utilizadas foram o Google Scholar e Pubmed, priorizando artigos científicos, estudos com humanos e animais que explanassem dados a respeito do Mepolizumabe no tratamento desta doença. De acordo com os dados da literatura, o uso do Mepolizumabe contribui para controle das exacerbações de asma diminuindo a quantidade de células eosinofílicas séricas, oferecendo qualidade de vida aos portadores dessa doença. Pacientes com asma alérgica eosinofílica grave podem se beneficiar do uso do Mepolizumabe, visto que a medicação altera o curso evolutivo desta doença.

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1.Introdução

A asma alérgica pode ser definida por uma doença inflamatória crônica nas vias aéreas inferiores, causada por uma confluência entre os fatores alergênicos externos e o carreamento genético, estimulando um efeito de cascata inflamatória nas camadas teciduais dos brônquios, levando a uma reação de hiperresponsividade nesta via aérea e, consequente, redução do seu lúmen. Como resultado destes eventos, o portador desta doença comumente apresenta dispneia em seu histórico clínico e a presença de sibilos na ausculta durante o exame físico1. Os principais fatores alergênicos são os ácaros do pó domiciliar, fungos, baratas, animais, pólens, ocupacionais, intradomiciliares e extradomiciliares2.

No Brasil, estima-se que 23,2% da população nacional, englobando todas as faixas etárias, sejam portadores de asma com uma prevalência variando entre 19,8% a 24,9%, dependendo da região brasileira. Em 2021, foram registradas 1,3 milhões de consultas em pacientes asmáticos na atenção primária à saúde, indicando um aumento de 17,76% em relação ao número de atendimentos do ano anterior3. Em relação à prevalência da faixa etária adulta, estima-se que cerca de 4,4% dos indivíduos sejam portadores desta doença, sendo que em relação ao número total de asmáticos, 3,7% equivalem a forma grave4. Em 2018, um estudo realizado pela American Thoracic Society/European Respiratory Society (ATS/ERS) no Reino Unido, relatou que menos de 1% dos portadores de asma em geral são classificados com asma grave eosinofílica não controlada5.

Fisiopatologicamente, essa doença é caracterizada pela diferenciação do linfócito T CD4+ no perfil Th2 (linfócito T helper-2), que induzem o recrutamento de outras células inflamatórias. Essa resposta Th2 culmina na sintetização de interleucina 4 (IL-4), que fará com que outros linfócitos TCD4+ repitam este ciclo. Consequentemente, ocorre ativação de linfócitos B, responsáveis pela produção de imunoglobulina E (IgE), fazendo com que os mediadores inflamatórios sejam liberados por mastócitos, resultando na broncoconstrição. Por conseguinte, as células Th2 também irão liberar a Interleucina 5 (IL-5), sendo esta uma citocina que ativa e atrai os eosinófilos, que são células que liberam substâncias inflamatórias. As exacerbações recorrentes originadas destas reações inflamatórias resultam no processo de cronificação desta doença, culminando na alteração morfológica dos brônquios, facilitando um novo quadro de crise asmática quando houver contato com o alérgeno exacerbador6.

De acordo com a Global Initiative for Asthma (GINA), existem cinco etapas preferíveis para o tratamento farmacológico da asma, utilizados para controle e alívio dos sintomas, no qual a primeira e segunda etapas são indicadas a pacientes com uma asma leve somada a sintomas esporádicos, envolvendo doses baixas da associação de corticoides inalatórios e broncodilatador de longa ação (LABA), conforme necessário. Na terceira fase, envolvem-se sintomas que ocorrem com maior frequência, sendo necessário uma manutenção utilizando a mesma associação do corticoide inalatório e LABA. Na quarta etapa é sugerido a pacientes com uma asma considerada grave, no qual os sintomas são limitantes e persistentes, sendo necessário doses médias da combinação do LABA com corticoide inalatório, em manutenção. Na quinta etapa, engloba-se os antagonistas do receptor muscarínico de longa duração, altas doses da associação de corticosteroides inalatórios com LABA e os imunobiológicos, como opção de terapia adjuvante. Esta associação de medicamentos é a forma mais atual e eficaz no manejo clínico da asma grave7,8.

Um indivíduo portador de asma que realiza tratamento utilizando a associação de medicamentos da quinta etapa (Figura 1) preconizado pelo relatório principal da Global Initiative for Asthma (GINA), após ter realizado todas as 4 etapas anteriores sem sucesso terapêutico e apresenta alguns dos seguintes critérios, sendo: um quadro asmático não controlado; duas ou mais crises no último ano utilizando corticosteroide sistêmico por mais de 3 dias; uma crise com quadro grave que tenha ocorrido no último ano, no qual houve necessidade de hospitalização, internação na unidade de terapia intensiva ou utilização de ventilador mecânico ou uma limitação ao fluxo aéreo abaixo de 80% do volume expiratório forçado, que pode ser avaliado com espirometria, pode ser classificado como asma grave7,8.

Os imunobiológicos podem ser considerados alternativas terapêuticas adjuvantes com elevada seletividade e especificidade, no qual sua atuação possui intuito de impedir a sintetização de moléculas ligadas a patogênese desta doença. Estes medicamentos que atuam no manejo da asma são classificados como anticorpos monoclonais, podendo ser humanizados ou totalmente humanos9.

No caso, o Mepolizumabe trata-se de um anticorpo monoclonal humano que identifica e se acopla ao receptor IL-5 com uma alta afinidade, bloqueando a conexão receptor-IL5, causando uma abrupta queda do número de eosinófilos no plasma sérico do paciente, que por consequência leva a redução do processo inflamatório nos brônquios pulmonares. Desta maneira, ao conseguir reduzir os quadros de exacerbações causados pela inflamação, este fármaco pode ser considerado apropriado para uso terapêutico adjuvante da asma eosinofílica grave10.

Assim, este estudo visa elucidar os aspectos gerais da asma com foco no subtipo da asma eosinofílica alérgica grave, bem como sua fisiopatologia, epidemiologia e o correto manejo para o sucesso do tratamento dos portadores desta doença, objetivado explanar a terapia adjuvante utilizando um anticorpo monoclonal humano, o Mepolizumabe, em portadores de asma grave.

 

 

 

 

 

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