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ISSN: 2595-8402

DOI: 10.5281/zenodo.5806532

Publicado em 27 de dezembro de 2021

REVISTA SOCIEDADE CIENTÍFICA, VOLUME 4, NÚMERO 1, ​​ 2021

 

JESUS CRISTO: HUMANO, DIVINO OU HUMANO E DIVINO?

 

​​ Marcelo Victor Rodrigues Nascimento1

 

Instituto Aliança de Linguística, Teologia e Humanidades (IALTH) - Recife, Brasil

​​ galetinho1967@gmail.com

 

RESUMO

Este artigo teve por objetivo dar um parecer acerca da pessoa de Jesus Cristo, procurando esclarecer, segundo as Escrituras Sagradas e pareceres de estudiosos das Escrituras Sagradas, se Jesus era unicamente humano, unicamente divino ou humano e divino ao mesmo tempo. Para tanto, foram abordados os seguintes aspectos: a humanidade de Jesus; Jesus um homem perfeito; a divindade de Jesus; Jesus e a Doutrina da Trindade; e, solução para incongruências bíblicas da Trindade. Após análise dos textos bíblicos e das posições de alguns estudiosos das Escrituras Sagradas, é possível concluir que Jesus, enquanto homem, era igual a todos os mortais, e, enquanto Deus, era a Palavra que se fez carne, esvaziando-se da Sua glória (dos Seus atributos incomunicáveis), a fim de poder nascer, crescer, viver e morrer pelos pecadores (sem cometer pecado algum), vindo a ser ressuscitado pelo poder de Deus, o qual o trouxe de volta à vida.

Palavras-chave: Humanidade; Divindade; Trindade; Palavra de Deus; Verbo.

ABSTRACT

This article aimed to give an opinion about the person of Jesus Christ, seeking to clarify, according to the Holy Scriptures and opinions of scholars of the Holy Scriptures, whether Jesus was uniquely human, uniquely divine or human and divine at the same time. Therefore, the following aspects were addressed: the humanity of Jesus; Jesus a perfect man; the divinity of Jesus; Jesus and the Doctrine of the Trinity; and, solution to biblical incongruities of the Trinity. After analyzing the biblical texts and the positions of some scholars of the Holy Scriptures, it is possible to conclude that Jesus, as a man, was equal to all mortals, and, as God, was the Word made flesh, emptying himself of His glory (of His incommunicable attributes), in order to be able to be born, grow, live and die for sinners (without committing any sin), coming to be resurrected by the power of God, which brought him back to life.

Keywords: Humanity; Divinity; Trinity; God's word; Verb.

 

1 INTRODUÇÃO

A pessoa de Jesus Cristo é, para muitos, um dos maiores mistérios das Escrituras Sagradas, sendo um tema de muita controvérsia ao longo da história [1], desde que Ele veio ao mundo, conforme relata o apóstolo João, que viveu no primeiro século da Era Cristã: ... porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus” (1 João 4:1-3) [2].

​​ Embora a Bíblia pareça ser clara, em algumas passagens, acerca da divindade de Cristo, há determinados grupos religiosos que entendem que tal crença não passa de má interpretação das Escrituras, como é o caso das Testemunhas de Jeová, que trazem, em seu site oficial, os seguintes dizeres sobre a pessoa de Jesus:

“Jesus foi mais do que apenas um bom homem. No mínimo, ele foi o homem mais influente da História. Considere o que alguns historiadores e escritores famosos disseram sobre ele: ‘Jesus de Nazaré [...] é sem dúvida a personagem que mais se destacou na História.’ — H. G. Wells, historiador inglês. ‘[Jesus] foi a pessoa mais influente que já viveu neste planeta, e a sua influência continua a aumentar.’ — Kenneth Scott Latourette, historiador e escritor americano. A Bíblia revela porque é que Jesus teve uma influência maior do que qualquer outro homem bom que já viveu. Quando Jesus perguntou aos seus seguidores mais achegados quem é que eles pensavam que ele era, um deles respondeu corretamente: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.’ — Mateus 16:16[3].

Até mesmo o fato de Jesus ser referido, na Bíblia, como “a Palavra de Deus” e “o Verbo que se fez carne” não escapa ao escrutínio de alguns estudiosos, os quais entendem que, associar tais expressões à pré-existência de Jesus, não passa de uma exegese descuidada (Apocalipse 19:13; João 1:14) [2] [4].

Para Franco (2021) [4], a frase “o verbo se fez carne” é uma referência ao cumprimento da promessa feita por Yahweh (o Deus de Abraão, Isaque e Jacó) na pessoa de Jesus. Isto é, o logos divino (a Palavra de Yahweh) tinha encontrado, substância e realidade no momento em que Jesus veio ao mundo, como parte dos propósitos eternos do Soberano Criador (onde existia como pessoa): De muitas e várias maneiras Deus falou aos nossos pais pelos profetas; mas nestes últimos dias ele falou conosco por Seu filho (Hebreus 1:1-2) [2].

Já, para a maioria absoluta da cristandade, a pessoa de Jesus foi gerada na eternidade por Yahweh (a quem Ele chamou de Pai) e teve participação ativa no ato criador, juntamente com as pessoas do Pai e do Espírito Santo. Segundo tal crença, apesar de serem distintas, essas três pessoas possuem a mesma substância e natureza, e, juntas, formam o único Deus [5] [6].

Dessa forma, este artigo tem por objetivo dar um parecer acerca da pessoa de Jesus Cristo, procurando esclarecer, segundo as Escrituras Sagradas e pareceres de estudiosos das Escrituras Sagradas, se Jesus era unicamente humano, unicamente divino ou humano e divino ao mesmo tempo.

 

2 DESENVOLVIMENTO

2.1  A HUMANIDADE DE JESUS

 Segundo as Escrituras Sagradas, Jesus era um homem como os demais, de carne e osso: Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lucas 24:39) [2].

 Nasceu, cresceu, viveu, teve todas as necessidades fisiológicas (fome, frio, sede, cansaço, dor, angústia) e morreu, como morrem todos os mortais [1]. Foi, em tudo (corpo, mente e coração), semelhante aos demais, exceto no tocante ao pecado: Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. Por isso convinha que EM TUDO (grifo do autor) fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Hebreus 2:16-18) [2].

 Sua mente humana desenvolveu-se ao longo da Sua vida, conforme Lucas 2:52 [2], possuindo limitações de conhecimento [1]: “Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai” (Marcos 13.32) [2].

Ainda que era Filho, Jesus aprendeu a obediência pelos sofrimentos pelos quais passou: “Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem” (Hebreus 5:8,9) [2].

 Jesus experimentou toda sorte de tentação humana [1], mas, pelo muito amor com que amou a humanidade, renunciou aos prazeres e deleites desta vida, a fim de cumprir a missão que Lhe estava proposta: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hebreus 4:15) [2].

Prestes a ser traído, sentiu forte angústia e reconheceu a fraqueza da Sua carne, pedindo ao Pai que, se possível, passasse d’Ele aquela hora: “Na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca. E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade” (Mateus 26:41,42) [2]. Em meio ao terrível sofrimento, Seu suor tornou-se em gotas de sangue: E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão” (Lucas 22:44) [2].

Ao ser crucificado, sentiu dores aterrorizantes, verteu o Seu sangue imaculado no duro madeiro da cruz, rendeu seu fôlego de vida e exibiu, ao mundo, toda a Sua humanidade: E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou” (Lucas 23:46) [2].

Todas essas manifestações físicas e psicológicas mostram que Jesus era inteiramente humano, possuidor das características físicas fisiológicas comuns a todos os viventes, conforme a passagem do Livro de Hebreus supracitada: “Convinha que EM TUDO (grifo do autor) fosse semelhante aos irmãos” [1].  ​​​​ 

 

2.2 JESUS UM HOMEM PERFEITO

Embora tenha sido humano como os demais, Jesus tinha algo que o diferenciava, pois a Bíblia diz que n’Ele não se achou pecado algum, desde a Sua concepção: Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus” (Hebreus 7:26) [2].

A integridade de caráter de Jesus é mostrada nas seguintes passagens bíblicas:

(1) O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1 Pedro 2:22) [2];

(2) “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hebreus 4:15) [2];

(3) “Quem dentre vós me convence de pecado” (João 8:46) [2];

(4) E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1 João 3:3) [2];

(5) E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado” (1 João 3:5) [2]; e

(6) Quem pratica justiça é justo, assim como ele é justo” (1 João 3:7) [2].

 

Tais características revelam que Jesus foi concebido em estado de perfeição moral, à semelhança de Adão [7], e, (também) por isso, recebeu a alcunha de “último Adão”: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu” (1 Coríntios 15:45-47) [2].

Sua santidade não era apenas um princípio subjetivo, mas tratava-se de algo palpável, vivido, minuto a minuto, durante as situações reais da vida humana. Por isso, os Seus ensinamentos eram um retrato fiel das Suas qualidades morais e não uma mera retórica: E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina; porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas” (Mateus 7:28,29) [2] [8].

Sendo a expressa imagem da pessoa de Yahweh (Colossenses 1:15), Jesus revelou como seria o mundo se não tivesse ocorrido a queda da Adão e Eva, e os tais não tivessem desejado ser igual a Deus: O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas” (Hebreus 1:3) [1] [8].

 

2.3  A DIVINDADE DE JESUS

 Desde os primeiros séculos da era cristã, a divindade de Jesus tem sido matéria de muita controvérsia, com relatos de perseguição, martírio e morte de cristãos que não concordavam a crença majoritária, conforme mostram os escritores Fo et al. (2007) [9], na obra O Livro Negro do Cristianismo: dois mil anos de crimes em nome de Deus.

Alguns estudiosos entendem que determinadas passagens bíblicas são claras em mostrar a pré-existência de Jesus. Outros, porém, garantem que as mesmas são lidas com olhos tendenciosos, apresentando interpretações diferentes para as mesmas [10] [11].

O estudioso bíblico Al Franco (2021), em seu Blog “A Humanidade de Jesus”, apresenta as seguintes interpretações para alguns versos bíblicos tidos, pelos trinitarianos, como provas inequívocas da divindade de Jesus:

- PRIMEIRO VERSO: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (João 1:1-3) [2]. Para Franco (2021) [4]: a palavras “princípio” refere-se ao princípio do ministério de Jesus; o termo “verbo” quer dizer a materialização da promessa da vinda do Messias; a expressão “o verbo era Deus” é uma referência ao que Yahweh fez com Moisés em Êxodo 4:16, dizendo que Moisés seria por Deus para Israel; a expressão “tudo foi feito por Ele” significa a nova criação em Cristo e não ao princípio da criação de Yahweh (Efésios 2:10; 1 Pedro 1:23) [2].

- SEGUNDO VERSO: De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Filipenses 2:5-8) [2]. Para Franco (2021) [12]: a expressão “em forma de Deus” quer dizer que Jesus era a expressa imagem do Criador e, mesmo assim, não intentou ser igual a Ele, como fez Adão (Hebreus 1:3; Gênesis 3:5-6) [2]; a expressão “esvaziar-se” significa que Jesus, sendo Filho de Deus, não se julgou maior do que os demais homens; a expressão “forma de servo” significa que Jesus veio para servir e não para ser servido; a expressão “forma de homem” quer dizer que Jesus viveu uma vida comum como um ser humano normal[12].

- TERCEIRO VERSO: Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se. Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinqüenta anos, e viste Abraão? Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, EU SOU” (João 8:56-58) [2]. Para Franco (2021) [13], tal verso não se refere à divindade de Jesus, pois, segundo o que acredita, há, nessa passagem, um problema de tradução, pois as palavras de Jesus (“EU SOU”) foram escritas em grego, mas a declaração de Yahweh, em Êxodo 3:14 [2], foi grafada em hebraico, usando termos distintos: “AQUELE QUE É” e não “EU SOU”, de tal sorte que os tradutores verteram os termos do Velho Testamento de forma errada para o Novo Testamento, a fim de ajustá-los às palavras de Jesus (“EU SOU”), a fim de dar base à Sua pré-existência.

- QUARTO VERSO: E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (João 17:5) [2]. Para Franco (2021) [14], tal passagem indica que Jesus sabia que tinha sido amado por Yahweh (em Seus eternos propósitos) antes que o mundo existisse e nisso consistia a Sua glória, não que tivesse estado com Ele antes de nascer.

 

​​ Além do citado estudioso, há um grupo religioso que também oferece argumentos desfavoráveis à pré-existência de Jesus, qual seja: as Testemunhas de Jeová. No entanto, o fato de terem elaborado uma tradução para as Escrituras Sagradas (a Tradução do Novo Mundo), que traz afirmações adaptadas à sua forma peculiar de enxergá-Las, inviabiliza uma análise mais profunda dos seus argumentos extra-bíblicos [15].

Apesar da razoabilidade dos argumentos ora mencionados, os quais são desfavoráveis à pré-existência de Jesus, há uma citação do apóstolo Paulo que comprova, de forma clara e inequívoca, a divindade de Jesus, qual seja: “Porque não quero, irmãos, que vocês ignorem o fato de que todos os nossos antepassados estiveram sob a nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem e no mar. Todos comeram do mesmo alimento espiritual e beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam da ROCHA (grifo do autor) espiritual que os acompanhava, e essa ROCHA (grifo do autor) era Cristo” (1 Coríntios 10:1-4) [2].

As palavras do apóstolo Paulo mostram que a história do saída do povo de Israel do Egito estava na sua mente quando escreveu tal carta aos corintios, fazendo referência aos seguintes eventos narrados no VT: a nuvem que protegia o povo de Deus; a passagem milagrosa de Israel pelo mar; o maná fornecido aos israelistas, de forma sobrebatural, por quarenta anos (Êxodo 13:21-22; 14:19-20, 24; Êxodo 14:24-30; Êxodo 16:11-35) [2].

No mesmo versículo, mais à frente, Paulo usa o termo ROCHA (grifo do autor), revelando que conhecia a fundo as passagens que Moisés atribuiu esse termo à pessoa de Yahweh, quais sejam:

(1) Porque apregoarei o nome do Senhor; engrandecei a nosso Deus.
Ele é a ROCHA (grifo do autor), cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é” (Deuteronômio 32:3,4) [2].

(2) "E, engordando-se Jesurum, deu coices (engordaste-te, engrossaste-te, e de gordura te cobriste) e deixou a Deus, que o fez, e desprezou a ROCHA (grifo do autor) da sua salvação" (Deuteronômio 32:15) [2].

(3) "Esqueceste-te da ROCHA (grifo do autor) que te gerou; e em esquecimento puseste o Deus que te formou" (Deuteronômio 32:18) [2].

(4) “Como pode ser que um só perseguisse mil, e dois fizessem fugir dez mil, se a Sua Rocha os não vendera, e o SENHOR os não entregara? Porque a sua ROCHA (grifo do autor) não é como a Nossa Rocha, sendo até os nossos inimigos juízes disso” (Deuteronômio 32:30-31) [2].

 

Em seguida, o apóstolo finaliza o verso dizendo, de forma cristalina e transparente, que a ROCHA que interagia com os israelitas no VT era Jesus Cristo, tornando Yahweh e Jesus Cristo a mesmíssima e uma única pessoa [7].

Não só tal verso bíblico faz associação de Yahweh com o termo ROCHA, mas outros escritores bíblicos também referiram-se a Yahweh como sendo a ROCHA de Israel, tais como Davi, Isaías e Habacuque, nas seguintes passagens:

(1) “O SENHOR é a Minha ROCHA (grifo do autor), a Minha cidadela, o Meu libertador" (2 Samuel 22:2, ARA) [2].

(2) “Pois quem é Deus além do SENHOR? E quem é ROCHA (grifo do autor) senão o Nosso Deus? (2 Samuel 22:32, NVI) [2].

(3) “Vive o SENHOR, e bendita seja a minha ROCHA (grifo do autor)! Exaltado seja o meu Deus, a ROCHA (grifo do autor) da minha salvação! (2 Samuel 22:47, ARA) [2].

(4) “Disse o Deus de Israel, a ROCHA (grifo do autor) de Israel a mim me falou...” (2 Samuel 23:3) [2].

(5) “O SENHOR é a minha ROCHA (grifo do autor), a minha cidadela, o meu libertador...” (Salmos 18:2, ARA) [2].

(6) “Pois quem é Deus além do SENHOR? E quem é ROCHA (grifo do autor) senão o nosso Deus? (Salmos 18:31, NVI) [2].

(7) “Vive o SENHOR, e bendita seja a minha ROCHA (grifo do autor)!...” (Salmos 18:46, ARA) [2].

(8) “A ti clamarei, ó SENHOR, ROCHA (grifo do autor) minha...” (Salmos 28:1) [2].

(9) “Sê a minha firme ROCHA (grifo do autor), uma casa fortíssima que me salve” (Salmos 31:2) [2].

(10) “Porque tu és a minha ROCHA (grifo do autor) e a minha fortaleza...” (Salmos 31:3) [2].

(11) “Direi a Deus, a minha ROCHA (grifo do autor)...” (Salmos 42:9) [2].

(12) "Leva-me para a ROCHA (grifo do autor) que é mais alta do que eu" (Salmos 61:2) [2].

(13) “Só Ele é a minha ROCHA (grifo do autor) e a minha salvação...” (Salmos 62:2) [2].

(14) “Só Ele é a minha ROCHA (grifo do autor) e a minha salvação...” (Salmos 62:6) [2].

(15) “Em Deus está a minha salvação e a minha glória; a ROCHA (grifo do autor) da minha fortaleza...” (Salmos 62:7) [2].

(16) "Tu és a minha ROCHA (grifo do autor) e a minha fortaleza" (Salmos 71:3) [2].

(17) "E lembravam-se de que Deus era a sua ROCHA (grifo do autor), e o Deus Altíssimo, o seu Redentor" (Salmos 78:35) [2].

(18) "Tu és meu Pai, meu Deus, e a ROCHA (grifo do autor) da minha salvação" (Salmos 89:26) [2].

(19) “Para anunciarem que o SENHOR é reto; Ele é a minha ROCHA (grifo do autor)...” (Salmos 92:15) [2].

(20) "Mas o SENHOR foi o meu alto retiro; e o meu Deus, a ROCHA (grifo do autor) em que me refugiei" (Salmos 94:22) [2].

(21) “Cantemos com júbilo à ROCHA (grifo do autor) da nossa salvação!” (Salmos 95:1) [2].

(22) “Bendito seja o SENHOR, minha ROCHA (grifo do autor)...” (Salmos 144:1) [2].

(23) “Há outro Deus além de mim? Não! Não há outra ROCHA (grifo do autor) que eu conheça” (Isaías 44:8) [2].

(24) “Não és tu desde sempre, ó SENHOR, meu Deus, meu Santo?...ó ROCHA (grifo do autor), o fundaste para castigar” (Habacuque 1:12) [2].

​​ 

Assim sendo, as Escrituras Sagradas comprovam que, em certo aspecto, Jesus era realmente divino, ainda que Ele próprio tenha se referido à Sua divindade por parábolas e de forma indireta. Resta, contudo, entender, biblicamente, a maneira como a divindade e a humanidade de Jesus estão dipostas e se relacionam, ​​ conforme questiona Leite (2010) [10], nas seguintes palavras: ​​ 

“O Velho Testamento apóia o ensinamento da divindade de Jesus, e o Novo Testamento irresistivelmente ensina que Jesus é Deus. As Escrituras também confirmam que o entendimento de si próprio por Jesus é consistente com este ensinamento. Ainda que ele não tenha promovido sua própria identidade, ele fez declarações que são equivalentes a declarações de divindade. E, mais ainda, suas obras demonstraram sua identidade, e sua aceitação de adoração mostrou seu próprio entendimento. Em última análise, a ressurreição é a testemunha mais significativa da divindade de Jesus. Ela declara poderosamente que Jesus é o Filho de Deus (Romanos 1:4). A questão sobre a identidade de Jesus não terminará tão cedo ... Seja qual for a posição com que se termine, ela será aceita através de algum processo de “fé” ... ​​ Baseado em considerações bíblicas, históricas e outras, eu escolhi crer que Jesus foi, e ainda é, Deus. Ele nunca pode ser menos do que isso” (p. 54).

 

2.4 A DIVINDADE DE JESUS E A DOUTRINA DA TRINDADE

Dizer que Jesus era perfeitamente homem e, ao mesmo tempo, era o próprio Deus pode soar estranho para muitos, mas não representa um problema teológico para os trinitarianos, pois eles crêem que Jesus e Yahweh (o Pai) são pessoas distintas, as quais,  ​​​​ juntamente com o Espírito Santo, formam um único Deus: o “Deus trino” (Hilário, 2005, p. 51) [5].

Contudo, o conceito “pessoas distintas que formam um único Deus” não aperece em nenhum lugar das Escrituras Sagradas [16], sendo fruto de um raciocínio puramente filosófico e dedutivo, que resulta da mescla de textos bíblicos fora de contexto, conforme se percebe nos seguintes dizeres do catecismo da igreja católica:

“Quando o Pai envia o seu Verbo, envia sempre o seu Espírito: missão conjunta na qual o Filho e o Espírito Santo são distintos mas inseparáveis. Sem dúvida, é Cristo quem aparece, Ele que é a Imagem visível de Deus invisível; mas é o Espírito Santo quem O revela” (Igreja Católica Apostólica Romana, 2021, p. 1) [17].

Com relação à pessoa de Jesus, o Filho de Deus, o mesmo catecismo católico afirma que Ele possuia duas naturezas distintas em si, nos seguintes termos:

Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único, que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é abolida pela sua união; antes, as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas numa só pessoa e numa só hipóstase” [17]

Entretanto, tal dedução acaba, inevitavelmente, por fazer de Jesus um ser híbrido, uma espécie de “semi-deus”, ou um “deus menor”, ou um “homem-Deus” [1], como afirma o estudioso Al Franco, nos seguintes termos:

“... se Jesus é humano e divino, isso não faz dele uma espécie de híbrido? Como ele pode, nesse caso, ainda ser classificado como verdadeiro ser humano? E se ele não é verdadeiramente humano, se ele possui poderes ou uma natureza que é mais do que humano, como ele pode servir como um exemplo de como os seres humanos devem viver? [12].

Fruto dessas deduções, a doutrina ensinada pelo catecismo católico termina por originar dois problemas teológicos seríssimos, quais sejam:

(1) A crença de que Jesus teria, supostamente, deixado de usar Seus atributos incomunicáveis, mantendo-os “adormecidos” [1].

(2) A impossibilidade da morte real de Jesus, pois, possuindo a natureza divina, Ele jamais poderia ter morrido de fato.

No primeiro caso supracitado, se Jesus deixou Seus atributos “adormecidos”, ele agiu como uma a pessoa rica que resolveu dizer-se pobre, mas que manteve em seu nome toda a sua fortuna, o que acaba por ser uma grande hipocrisia, pois, para ser pobre de fato, o rico teria que ter transferido todos seus bens para outrem, tornando-se verdadeiramente pobre [7].

Dessa forma, é possível dizer que, segundo a doutrina trinitariana, Jesus participou de um jogo de “faz-de-conta” [7], não cumprindo, na sua pessoa, o que disse o apóstolo Paulo na seguinte passagem: Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis” (2 Coríntios 8:9) [2].

Portanto, segundo o conceito tirnitário, Jesus teria fingido-se pobre, sem o ser de fato, não tendo necessidade de absolutamente nada fora de si, nem mesmo da ajuda do Pai, pois continuava a ser onipotente, onipresente, onisciente, imortal, eterno, imultável, etc. [7]

No segundo caso supracitado, se Jesus possuia a imortalidade, logo não se cumpriu aquilo que Ele próprio havia dito sobre a Sua morte, visto que não podia morrer: Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra” (Mateus 12:40) [2].

Para livrar-se desse último problema teológico sério, os trinitarianos recorrem à crença platônica da “imortalidade da alma”, algo com fundamentos bíblicos bastante frágeis, d’onde originou-se, por exemplo, a doutrina do purgatório, que consiste em um lugar onde as almas estariam pagando os seus pecados para irem, posteriormente, ao céu [17]. Dessa forma, os tais sustentam a fé de que o que morreu foi o corpo de Jesus e não propriamente Ele, anulando, assim, Sua morte e, consequentemente, o plano de salvação [17] [18].

Mas, se morte não significa “fim de existência”, logo, as palavras que a serpente disse a Eva no jardim do Éden são legítimas e o homem efetivamente não morre: Certamente não morrereis” (Gênesis 3:4). Além disso, todas as refências bíblicas de que, no além, para onde o homem vai após a morte, não querem dizer o que dizem (fim da existência), tal como: Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma” (Eclesiastes 9:10).

Tal doutrina (da imortalidade da alma) possui implicações mais severas do que parece, como as citadas pelo pastor Ezequiel Gomes, no livro Jesus e a alma imortal, quais sejam:

“A queda e o pecado não trouxeram a morte ao homem; no máximo apenas trouxeram morte à “parte material” do homem e não à sua “alma imortal e imaterial”. O homem não é “totalmente depravado”, mas mantém parte ou a essência de sua natureza, a alma, sem a corrupção do pecado de forma que esta não sofre a morte, que é o salário do pecado. Cristo não é o único que possui a imortalidade; todos os homens a possuem. Além disso, a imortalidade do homem não vem através do evangelho, mas lhe é concedida no exato momento exato da criação de sua própria alma indestrutível. A criação do homem tal qual narrada na Bíblia é, no mínimo, parcial, uma vez que se refere ao contexto mais amplo da criação do que seria o corpo material e não se refere em momento ou texto algum à misteriosa criação da alma imor- tal, jamais referida diretamente nas páginas sagradas. A universalidade do pecado como explicação da univer- salidade da morte se torna uma “verdade” bem menos esclare- cedora e importante do que de fato é, dada a pressuposição de que tal se refere unicamente a aspecto supostamente secundá- rio, descartável e menos importante da natureza humana, ou seja, ao corpo. Toda alma é imortal, a despeito do evangelho e da graça de Cristo, e sem referência a tais, mas como dom de sua própria natureza essencial desde sua criação original. Em resumo, o paradigma da imortalidade esvazia e nega várias verdades essenciais da conexão entre o pecado e a morte de forma que todo pecador seja mortal” [19].

​​ Outra questão bastante difícil para a crença trinitária é o bastismo de Jesus, em cujo acontecimento o Espírito Santo O ungiu, descendo sobre Sua pessoa na forma de uma pomba (Mateus 3:13-17) [2]. Mas, se Jesus era possuidor de todos os atributos divinos, qual a necessidade d’Ele ter recebido o Espírito Santo? Por que razão Deus ungiria Deus? [7].

Assim sendo, como se pode notar, mais uma vez, os trinitarianos acabam por sugerir que Jesus teria participado de uma peça teatral, algo sem o menor sentido, tendo a desfaçatez de dizer que o fez por humildade [7].

Outro fato curioso na doutrina trinitária é que ela apregoa que Jesus foi gerado por Yahweh na eternidade, havendo, portanto, um tempo em que Ele não existiu, não sendo, portanto, eterno como Yahweh. Para tanto, os trinitários pervertem o Salmos 110:3, a fim de dar base bíblica para tal pensamento, traduzindo-o desta maneira: “Eu te gerei do meu seio antes da aurora” [5].

Contudo, uma leitura natural do referido texto, nas traduções mais populares (NVI e ACF), permite testificar a mudança do sentido, pois este é o correto: Quando convocares as tuas tropas, o teu povo se apresentará voluntariamente; trajando vestes santas; desde o romper da alvorada, os teus jovens virão como o orvalho” (Salmos 110:3) [2] [20].

Portanto, não há nada nas Escrituras Sagradas que sirva de base para afirmar que a geração do Filho de Deus ocorreu na eternidade e que as passagens bíblicas que tratam desse assunto não se refiram à geração do Jesus histórico, que ocorreu há quase dois mil anos atrás no Oriente Médio. Tal conceito católico faz, da Trindade, um arranjo teológico mal elaborado e paradoxal [6].

Todavia, apesar dessas visíveis incongruências, a doutrina trinitariana ainda é tida como verdade suprema pela maioria absoluta dos cristãos (católicos e protestantes), possivelmente por causa da falta de interesse, comodismo e preguiça em penetrar nas profundezas de Deus, preferindo aceitar as fórmulas-prontas a investigar a fundo os mistérios celestiais [1] [7] [21] [22]. ​​ 

Aliás, isso não é uma prerrogativa dos tempos atuais, pois, segundo o apóstolo Paulo, a igreja primitiva já sofria desse mal: Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento” (Hebreus 5:12) [2].

2.5 SOLUÇÃO PARA AS INCONGRUÊNCIAS BÍBLICAS DA TRINDADE

O Salmos 33 parece trazer luz para as incongruências da Doutrina da Trindade, ao dizer as seguintes palavras: Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da sua boca” (Salmos 33:6) [2].

Tal verso revela que, quando Yahweh abriu a Sua boca e disse “Haja!”, saiu-Lhe (da Sua boca) o Espírito, através do qual Ele criou todas as coisas. Assim sendo, de forma inequívoca, a Palavra de Yahweh e o Espírito de Yahweh são a mesmíssima e única pessoa, pois, que espírito sairia da boca de Deus, senão o ​​ Espírito Santo? Logo, está lançado por terra o conceito trinitário das “três pessoas distintas formando um único Deus” [7].

Alguém poderia sugerir que, sendo um Espírito, Yahweh não possui boca e, por isso, as expressões usadas no Salmos 33:6 são apenas alegóricas [7]. Entretanto, a Bíblia mostra, nas seguintes passagens, que Yahweh possui um corpo espiritual (uma forma física), de maneira que a tentativa de desporsonalizá-Lo para sustentar uma doutrina não parece ser a melhor saída: ​​ 

(1) No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo” (Isaías 6:1) [2].

(2) E por cima do firmamento, que estava por cima das suas cabeças, havia algo semelhante a um trono que parecia de pedra de safira; e sobre esta espécie de trono havia uma figura semelhante a de um homem, na parte de cima, sobre ele” (Ezequiel 1:26) [2].

(3) Eu continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e um ancião de dias se assentou; a sua veste era branca como a neve, e o cabelo da sua cabeça como a pura lã; e seu trono era de chamas de fogo, e as suas rodas de fogo ardente. Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e milhões de milhões assistiam diante dele; assentou-se o juízo, e abriram-se os livros” (Daniel 7:9,10).

Os versos supracitados comprovam que, ao olhar para os seres humanos, vê-se a figura de Yahweh, o qual transmitiu-lhes Sua imagem e semelhança, por ocasião da criação de todas as coisas: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1:26) [2].

Outrossim, o esvaziamento da Palavra de Deus (quando se fez carne), registrado em Filipensses 2:7 [2], parece ser a gota d’água para desmistificar a tese trinitária da igreja católica de que Jesus teria recebido a natureza humana e passado a desfrutar de duas naturezas distintas (a humana e a divina) [1]. Se tal coisa ocorreu de fato, logo é possível concluir que não houve uma subtração (esvaziamento), mas, sim, uma adição (acréscimo), contrariando o texto bíblico [7].

Entretanto, ao contrário do que pensam os trinitarianos, a Bíblia comprova, nas seguintes passagens, que, embora divino em Seu caráter e mesmo sendo a imagem exata de Yahweh (a mesma que possuia Adão antes da queda), Jesus verdadeiramente despojou-se dos Seus atributos incomunicáveis [7]:

(1) Onipresença:E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele” (João 11:15) [2]. Isto é, Jesus não estava presente em Betânia quando Lázaro morreu, tendo recebido a revelação do que lá se passara pelo Espírito Santo, o ​​ qual veio n’Ele habitar no ato do Seu batismo.

(2) Onipotência: É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mateus 28:18) [2]. Isto é, até a Sua ressurreição e vitória sobre a morte, Jesus não possuía todo o poder, pois ninguém pode receber o que já possui, tendo operado os sinais, durante o Seu ministério, pelo poder do Espírito Santo; aliás, o próprio Jesus disse que, de si próprio, não podia fazer as obras, mas o Pai que estava n’Ele é quem operava os sinais, prodígios e maravilhas (João 5:30; João 14:10) [2].

(3) Onisciência: Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai” (Mateus 24:36) [2]. Isto é, Jesus não sabia todas as coisas; se soubesse, Ele teria mentido ao dizer tal expressão, contudo, a Bíblia diz que não se achou pecado n’Ele (1 Pedro 2:22) [2]; logo, Ele disse uma “verdade verdadeira”.

 

Muitos estudiosos argumentam que o fato de Jesus ter dito, em João ​​ 10:17-18, que daria a Sua vida para depois tornar a tomá-la (pois tinha poder para tal), significa que o esvaziamento do Seu poder não ocorreu e que Sua morte foi parcial (só da carne). Entretanto, Nacimento (2020) [7], no livro Santíssima Trindade, quase dois anos de engano religioso, elucida tal passagem nos seguintes termos:

“Nessa passagem (João 10:17-18), entende-se que, embora Jesus afirmasse que tinha poder para dar a sua vida, claro que tal poder não significava que Ele iria amarrar Seus próprios punhos, chicotear-se a Si próprio, construir uma coroa de espinhos e cravá-la na Sua própria cabeça, dirigir-Se pessoalmente a Pilatos, autoproclamar-Se culpado, atender ao pedido dos judeus e jogar-Se na cruz, martelando, Ele próprio, os cravos (o poder que Ele possuía era de permitir que tudo aquilo ocorresse); da mesma forma, o poder que Jesus tinha para tornar a viver (ressuscitar), dependia do Pai, que foi quem, de fato, O ressuscitou dos mortos (pp. 214, 215)

 

2.6  CONSIDERAÇÕES

Considerando as informações ora apresentadas e o fato da doutrina trinitariana possuir uma série de incongruências que a tornam frágil e fantasiosa, qual seria, então, a resposta para o aparente enigma de Jesus e Yahweh serem a mesma pessoa?

A onipresença divina parece ser a chave para resolver tal questão, pois significa a capacidade que Deus possui para estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo [23]. Tal atributo teria possibilitado que, por cerca de 33 anos, houvesse, na divindade, duas pessoas distintas, Pai e Filho, uma divina e outra humana: “Na vossa lei está também escrito que o testemunho de dois homens (duas pessoas distintas) é verdadeiro. Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai que me enviou” (João 8:17,18) [2].

Há uma passagem bíblica que elucida tal verdade, comprovando que Yahweh esteve em dois lugares ao mesmo tempo, qual seja: Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que ESTÁ NO CÉU (grifo do autor)(João 3:13) [2].

Segundo tal relato, Jesus afirmou a Nicodemus que, naquele exato momento em que se falavam, Ele estava no céu, algo um tanto quanto curioso, pois Jesus estava visivelmente diante de Nicodemus. Será que o Filho de Deus teria mentindo ao príncipe dos judeus? Certamente não, pois, na Sua boca, nunca se achou engano (1 Pedro 2:22) [2].

Assim sendo, o atributo da onipresença permitiu à Palavra de Deus deixar o seio do Pai, vir ao mundo e retornar ao lugar d’onde, em espírito, nunca saíra, tendo recebido de volta a glória que possuía antes que o mundo existisse:

(1) “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hebreus 2:9) [2].

(2) O Filho unigênito, que está no seio do Pai” (João 1:18) [2].

Mas, o que fazer com as passagens que falam que Jesus assentou-se à destra de Yahweh quando ressuscitou e subiu aos céus, sugerindo a existência de duas pessoas distintas (Marcos 16:19) [2]? ​​ As simbologias empregadas em algumas passagens bíblicas mostram que “direita” é sinal de retidão, nobreza, poder e autoridade, enquanto que “esquerda” indica infortúnio, condenação e trevas [24], tais como:

(1) A tua destra, ó Senhor, se tem glorificado em poder, a tua destra, ó Senhor, tem despedaçado o inimigo” (Êxodo 15:6) [2];

(2) “A tua mão direita está cheia de justiça” (Salmos 48:10) [2];

(3) “Eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça” (Isaías 41:10) [2];

(4) A destra do Senhor se exalta; a destra do Senhor faz proezas” (Salmos 118:16) [2];

(5) O coração do sábio está à sua direita, mas o coração do tolo está à sua esquerda” (Eclesiastes 10:2) [2];

(6) “E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda” (Mateus 25:33) [2].

Portanto, quando a Bíblia diz que Jesus está à direita de Yahweh, tal linguagem é claramente simbólica [7], isto porque, em outras duas passagens, ao invés de estar à direita, a Bíblia coloca Jesus em outras duas posições:

(1) “... engrandeceste a tua palavra (Jesus Cristo) acima de todo o teu nome” (Salmos 138:2) [2]; e

(2) “... o Cordeiro (Jesus Cristo) que está no meio do trono” (Apocalipse 7:17) [2]. ​​ 

A importância dessas verdades bíblicas reside no fato de Yahweh não ter enviado outra pessoa para morrer por Suas criaturas, mas ter assumido sobre si a responsabilidade de resgatá-las pelo Seu próprio sangue, abrindo mão de alguns atributos por um período de tempo: Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (Atos 20:28) [2].

Por tal abnegação e altruismo, a glória de Yahweh será ainda maior naquele grande Dia, quando o universo, visível e invisível, souber que, verdadeiramente, de direito e de fato, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19) [2].

Finalizando, quando o apóstolo Paulo, em Colossenses 2:9, afirma que em Jesus “habita corporalmente toda a plenitude da divindade”, é importante observar o tempo verbal por ele empregado (presente do indicativo), ou seja, Paulo escreveu isso acerca de Jesus depois que Ele havia vencido a morte, momento em que recebeu todo o poder no céu e na terra (Mateus 28:18).

Não resta dúvida, é claro, de que a plenitude da divindade tenha habitado em Jesus durante o Seu ministério terreno, quando foi ungido pelo Espírito Santo (a plenitude da divindade), tornando-O capaz de realizar as obras miraculosas. Assim sendo, conforme afirma Nascimento (2020) [7]: ​​ 

“Na pessoa daquele homem (“corporalmente”), estavam escondidos todos os tesouros da ciência e da sabedoria divinas (reservados àquele que crer), bem como toda a obra da reconciliação, tanto das coisas que estão nos Céus como as que estão na Terra (Colossenses 1.20, Colossenses 2.3 e Efésios1.10). Enquanto em nós, seres humanos, só havia as trevas do pecado, o vazio, a desolação e a vaidades, habitava n’Ele (e não em qualquer outro), a plenitude de tudo que diz respeito à vida, sendo, Ele próprio, a plenitude da divindade (para os que estavam irremediavelmente condenados à morte eterna), e não uma mera sombra, ou uma história que alguém havia contado. Jesus era a realidade divina (em toda a sua plenitude) descrita nas profecias; era a imagem exata das coisas: o nosso altar, o nosso sacrifício, o nosso sacerdote, o nosso incenso, o nosso tabernáculo, o nosso tudo em todos (Hebreus 10.1 e Colossenses 3.11); era a expressão perfeita da glória de Yahweh (Hebreus 1:3); e, enquanto Palavra de Deus (Apocalipse 19.13), Jesus é o princípio e o fim de todas as coisas (Apocalipse 2.8), em quem, por quem e para quem foram criadas todas as coisas que estão nos Céus e na Terra (João 1.3 e Colossenses 1.16). Glória, pois, a Ele eternamente!!! Amém!!!” (pp. 100-102).

 

3  CONCLUSÃO

Considerando os textos bíblicos e as argumentações apresentadas nesta investigação, é perfeitamente possível concluir, salvo melhor juízo, que Jesus, enquanto homem, era igual a todos os mortais e, enquanto Deus, era a Palavra que: (1) desceu do céu, (2) fez-se carne no ventre de uma mulher, (3) esvaziou-se da Sua glória, e (4) depois de ressuscitar, retornou para o lugar d’onde, em espírito, nunca saira, por possuir o atributo da onipresença [7].

Conforme mencionado acima, enquanto esteve na terra, a Palavra de Deus despojou-se de Seus atributos incomunicáveis, preservando Seus atributos morais (Sua divindade), o que lhe permitiu nascer, crescer, viver e morrer pelos pecadores (sem cometer pecado algum), remindo-os da perdição eterna pelo Seu sangue imaculado [7].

Portanto, Jesus possuía origem divina, mas era totalmente humano nos dias da Sua carne, tendo morrido como morrem todos os mortais e ressuscitado no terceiro dia pelo poder de Deus, o qual o trouxe de volta à vida (Atos 13:29,30) [2].

4 REFERÊNCIAS

[1] J. L. Silva, Teologia sistemática II: cristologia, antropologia e hamartiologia. Indaial, Santa Catarina: UNIASSELVI, 2009.

[2] Bíblia On-line, Bíblia Sagrada. Versões Almeida Corrigida e Fiel/Nova Versão Internacional/Nova Almeida Atualizada., 2021.

[3] Testemunhas de Jeová, “Foi Jesus apenas um bom homem?” Site JW.ORG, Wallkill, EUA, 2021, [Online]. Available: https://www.jw.org/pt-pt/ensinos-biblicos/perguntas/jesus-homem-bom/.

[4] A. Franco, “"No Princípio” – João 1:1 – que princípio?” Blog A humanidade de Jesus, 2021, [Online]. Available: https://ahumanidadedejesus.org/2021/08/01/no-principio-joao-11-que-principio/.

[5] S. Hilário, Patrística - Tratado sobre a santíssima trindade - Vol. 22. São Paulo: Paulus, 2005.

[6] V. Filho, “O que é a trindade?,” Fiel. Blog Unitarismo Bíblico, 2010, [Online]. Available: http://www.unitarismobiblico.com/w/2010/05/10/o-que-e-a-trindade/.

[7] M. V. R. Nascimento, Santíssima trindade: quase dois mil anos de engano religioso, 2nd ed. Joinville, Brasil: Clube de Autores, 2020.

[8] V. M. Pimentel, “A pessoa de Cristo: sua humanidade.” Blog Voltemos ao Evangelho, São José dos Campos, 2012, [Online]. Available: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2012/12/a-pessoa-de-cristo-sua-humanidade-doutrina-biblica-23/.

[9] J. Fo, S. Tomat, and L. Malucelli, “O livro negro do cristianismo: dois mil anos de crimes em nome de Deus,” p. 270, 2007, [Online]. Available: https://docero.com.br/doc/nne0s.

[10] R. Leite, “Educação cristã. A divindade de Jesus Cristo,” Universidade Cândido Mendes, 2010.

[11] C. Palacio, “Humanamente divino e divinamente humano,” IHU On-line, vol. 10, pp. 18–22, 2010, [Online]. Available: http://www.ihuonline.unisinos.br/media/pdf/IHUOnlineEdicao336.pdf.

[12] A. Franco, “‘Existindo em forma de Deus’ (Fp 2: 6,7).” Blgo A Humanidade de Jesus, 2021, [Online]. Available: https://ahumanidadedejesus.org/2019/09/10/existindo-em-forma-de-deus/.

[13] A. Franco, “‘Antes que Abraão existisse, eu sou.’” Blog A humanidade de Jesus, 2021, [Online]. Available: https://ahumanidadedejesus.org/2013/09/22/antes-que-abraao-existisse-eu-sou/.

[14] A. Franco, “‘Pai, glorifica-me com aquela glória.’” Blog A humanidade de Jesus, 2021.

[15] E. S. Silva, “Testemunhas de Jeová: a inserção de suas crenças no texto da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas,” Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2007.

[16] V. Filho, “Admissões chocantes (por Joel Hemphill).” Blog Unitarismo Bíblico, 2015, [Online]. Available: http://www.unitarismobiblico.com/w/2015/04/04/admissoes-chocantes-por-joel-hemphill/.

[17] Igreja Católica Apostólica Romana, Catecismo da Igreja Católica, no. 2. Vaticano: Vaticano, 2021.

[18] H. C. Campos, “‘Descendit ad inferna’: uma análise da expressão ‘desceu ao hades’ no cristianismo histórico,” Fides Reformata, vol. 4, no. 1, pp. 1–8, 1999, [Online]. Available: http://www.escolacharlesspurgeon.com.br/files/pdf/O_Que_Significa_Cristo_Desceu_ao_Hades-_Heber_Campos_Jr.pdf.

[19] E. Gomes, A imortalidade da alma e o castigo eterno: um breve comentário exegético de 2 Pedro, 1st ed. Jundiaí, SP: Editora do Autor, 2020.

[20] G. Barros, “A soberania de Jesus Cristo.” Blog SoliDeoGlória, 2014, [Online]. Available: https://solideogloriacampinas.blogspot.com/.

[21] M. G. Valentim, “Preguiça: um problema da adolescência negligenciado pela pesquisa?,” Universidade Estadual Paulista, 2006.

[22] F. Faus, “A preguiça,” Quadrante Soc. Publicações Cult., vol. 3, pp. 1–27, 2003, [Online]. Available: https://padrefaus.org/wp-content/uploads/2017/11/apreguia.pdf.

[23] E. Lopes, Fundamentos da teologia da educação cristã. São Paulo: Mundo Cristão, 2010.

[24] L. Guerreiro, “O simbolismo do lado ‘direito’ nas Escrituras.” Blog Maisfe.org, 2018.

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Doutor e Mestre em Teologia, pela Universidade da Bíblia - São Paulo. Mestrando em Treino Desportivo, pela Escola Superior de Desporto e Lazer – Melgaço, Portugal. Pós-graduado em Ciência da Religião, pelo Instituto Aliança de Linguística, Teologia e Humanidades (IALTH) – Recife – PE. Especialista em Exercício Resistido na Saúde, na Doença e no Envelhecimento, pela Faculdade de Medicina da USP – SP. Licenciado em Educação Física, pela Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx) - Rio de Janeiro. Licenciado em Filosofia, pelo Instituto Aliança de Linguística, Teologia e Humanidades (IALTH) – Recife – PE. Bacharel em Ciências Militares, pela Academia da Força Aérea Brasileira (AFA) - Pirassununga - SP. Bacharel em Administração de Empresas, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie - São Paulo. Curso Avançado de Teologia, pela Faculdade Teológica Betesda – Jundiaí – SP.


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