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Scientific Society Journal  ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​​​ 

ISSN: 2595-8402

Journal DOI: 10.61411/rsc31879

REVISTA SOCIEDADE CIENTÍFICA, VOLUME 7, NÚMERO 1, ANO 2024
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ARTIGO ORIGINAL

Educação em saúde sobre pé diabético: jogo educativo

Kamila Raele Ribeiro1; Eugênio José de Oliveira Silva2; Richard Pedroso de Souza Filho3; Tiago Vilela Cerqueira4; Eunice Gomes de Siqueira5; Diba Maria Sebba Tosta de Souza6

 

Como Citar:

RIBEIRO, Kamila Raele; SILVA, José de Oliveira; FILHO, Richard Pedroso de Souza et al. Educação em saúde sobre pé diabético: jogo educativo. Revista Sociedade Científica, vol. 7, n. 1, p.136-167. 2024. https://doi.org/10.61411/rsc202410117

 

DOI: ​​ 10.61411/rsc202410117

 

Área do conhecimento: Ciências da Saúde

 

Sub-área: Enfermagem.

 

Palavras-chaves: Prevenção. Pé Diabético. Educação em Saúde. Jogo Educativo.

 

Publicado: 08 de janeiro de 2024

Resumo

Diabetes Mellitus acarreta complicações no pé, que podem levar a amputações. Jogos educativos são aliados no compartilhamento de conhecimento sobre cuidados em saúde. Identificar e atualizar o conhecimento por meio de revisão integrativa em educação para prevenção do pé diabético e desenvolver jogo educativo para conscientizar ao autocuidado com seus pés. Trata-se de revisão integrativa: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System on-line (MEDLINE), Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e United States National Library of Medicine (PubMed) em fases: elaboração da pergunta norteadora; busca na literatura; coleta de dados; análise crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados; e apresentação. Jogo seguiu etapas: pesquisa e planejamento; design de personagens e ambientes; desenvolvimento de perguntas e desafios; desenvolvimento das mecânicas de jogo; codificação do jogo; testes e ajustes; design de interfaces e elementos visuais; implementação de recursos de áudio; lançamento e divulgação; monitoramento e avaliação. Encontrados 7.086 artigos e 11 fundamentaram o desenvolvimento de Mario Diet: jogo educativo digital para aprender e compartilhar informações sobre autocuidado com os pés. Revisão integrativa fundamentou a ferramenta tecnológica desenvolvida. O jogo contribui com informações podendo ser revistas regularmente até serem fixadas.

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11. Introdução

As doenças e agravos não transmissíveis (DANT) configuram hoje uma das principais causas de morbimortalidade no Brasil e no mundo, com caráter multifatorial, evoluem no decorrer da vida, são de longa duração e um sério problema de saúde pública, incluindo, principalmente, o grupo das doenças cardiovasculares, neoplasias, doenças respiratórias crônicas, diabetes os acidentes e violências. (1)

O Diabetes mellitus (DM) descrito por um quadro de hiperglicemia persistente possuí classificações como: DM tipo 1, DM tipo 2 e DM gestacional. Sendo a primeira associada a fatores autoimunes, onde o corpo produz pouca ou nenhuma insulina; a segunda relacionado com a resistência periférica à insulina e com a insuficiência gradual das células beta pancreáticas, onde o corpo produz a insulina, mas não utiliza corretamente e a última quando a gestante, sem nenhum diagnóstico anterior de diabetes, apresenta altas taxas de glicose no sangue, podendo acarretar o diabetes tipo 2, que pode desaparecer após a gestação, mas que requer cuidados e supervisão durante toda a gravidez. (2,3)

O DM já se configura um problema de saúde pública e seu predomínio está aumentando de forma exponencial. Projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS) supõem que uma em cada doze pessoas vivem com DM, e que em 2025, o número de pessoas com diagnóstico de DM, chegará à quase 110 milhões. Com incidência do diabetes aumentando na América Latina, acredita-se que ao menos 11,3% da população brasileira apresentará diabetes em 2030. (4)

Contudo, o DM pode acarretar complicações agudas ou crônicas, podendo ser graves e/ou irreversíveis, vários fatores levam a chegar nestas condições, como: desconhecimento da doença, descoberta tardia, falta de controle clínico e acompanhamento inadequado. As complicações incluem: retinopatia, insuficiência renal, doença coronariana, polineuropatia, acidente vascular encefálico e vasculopatia periférica, causando alterações nos membros inferiores. (5)

Outra complicação importante e de grande impacto para os pacientes com DM é o pé diabético. Caracterizando-se pela presença de úlceras nos membros inferiores, infecção e destruição de tecidos, relacionado a infecção, neuropatia periférica e doença arterial periférica, comorbidades que cooperam para o comprometimento vascular periférico dos pacientes. (6)

A Doença Arterial Periférica (DAP) é caracterizada por uma redução gradual do fluxo sanguíneo para os membros inferiores devido algum fator oclusivo das artérias. Sendo, uma das maiores causas de amputações de membros inferiores, esta, em associação com a neuropatia e ulceração dos pés, aumenta o risco de gangrena e amputação dos membros. (7)

A polineuropatia diabética sensitivo-motora, neuropatia diabética autonômica e a DAP, são os principais fatores de risco para o desenvolvimento de úlceras, infecções, osteomielite e em último caso a amputação. E ainda, o diagnóstico de DM há mais de 10 anos, controle glicêmico não adequado e a idade avançada estão associados ao desenvolvimento do pé diabético. (9)

O DM aumenta o risco de amputação da extremidade decorrentes de infecções em úlceras que não cicatrizam no pé. Estudos recentes sugerem que muitas das infecções do pé diabético são causadas por bactérias em biofilme, embora a infecção em biofilme seja difícil de se diagnosticar clinicamente. (8) Biofilme são bactérias patogênicas que estão encapsuladas em uma camada de exopolissacarídeo e se comunicam através da secreção de moléculas de sinalização. Elas são refratárias às respostas do paciente e ao tratamento, portanto atrapalhando feridas crônicas como úlceras de pé diabético. (10)

Com tantos fatores agravantes, as taxas de amputação nessa população são de cerca de 10 a 20 vezes maiores que da população de não diabéticos. Das amputações de pacientes diabéticos, 85% são antecedidas por ulceração do pé.

Estimativas são de que um membro inferior é amputado a cada 30 segundos devido ao diabetes. Em contrapartida, outro estudo demonstra que até 50% das amputações e úlceras nos pés diabéticos podem ser evitadas por meio da identificação e educação preventiva eficazes. (11)

O exame periódico dos pés em conjunto com o cuidado integral do indivíduo, propicia a identificação precoce e o tratamento apropriado das alterações encontradas, viabilizando a prevenção de um número expressivo de complicações do pé diabético. (11) Prevenção efetiva significa atenção à saúde de modo eficaz. No diabetes, isso quer dizer, prevenção do seu início (primária), prevenção das complicações agudas e crônicas (secundária) ou reabilitação e limitação das incapacidades produzidas pelas suas complicações (prevenção terciária). (9)

Além de ser uma causa de sofrimento para o paciente, também traz ônus para seus familiares, profissionais, entidades de saúde e toda população em geral, pois possui um significativo custo financeiro devido aos altos níveis de morbidade e mortalidade. (11) Portanto a identificação precoce do risco de complicações nos pés, com programas de rastreamento, acompanhamento, ações e educação em saúde eficiente, podem reduzir consideravelmente os custos diretos e indiretos para o sistema de saúde. (5)

Todavia, verificam-se que as complicações do pé diabético são altamente evitáveis com a prática regular do autocuidado, decorrente de uma educação em saúde que conscientize a população (2) acerca dos cinco pilares da prevenção da úlcera no pé diabético conforme o IWGDF, 2023: 1. Identificar o pé em risco; 2. Inspecionar e examinar regularmente o pé em risco; 3. Educar o paciente/usuário, familiares e profissionais de saúde; 4. Incentivar o uso rotineiro de calçados apropriados; e por fim, 5. Tratar os fatores de risco para ulceração. (8)

Quando um indivíduo recebe o diagnóstico de DM, ele deve receber dos profissionais de saúde, orientação adequada sobre os cuidados com os pés e supervisão durante as consultas na Atenção Primária à Saúde. (13) Esses cuidados podem permitir uma identificação precoce das alterações presentes, promovendo um tratamento oportuno e evitando complicações. (12)

Cuidados básicos, partindo, do inspecionar os pés todos os dias com auxílio de um espelho para melhor visualização, hidratação dos pés, corte adequado das unhas em linha reta, secagem entre os dedos, uso de meias brancas e de algodão, evitar andar descalço, e escolha dos sapatos de tamanhos apropriados, adequados e confortáveis são algumas das medidas para prevenção das úlceras nos pés diabéticos. (8)

Na assistência ao paciente diabético a educação em saúde é uma estratégia educativa eficaz, principalmente no que tange ao estímulo à adoção de medidas preventivas e de autocuidado. (13)

Uma educação estruturada é considerada uma parte essencial e integrante da prevenção de úlceras nos pés, sempre possuindo como objetivo melhorar o conhecimento do paciente sobre os cuidados com os pés e o autocuidado, e encorajá-lo a aderir ao conhecimento fornecido. (8)

A educação estruturada sobre os cuidados com os pés deve consistir em orientações conforme o Quadro 1.

 

Quadro ​​ 1​​ - Orientações sobre cuidados com os pés

Realizar a inspeção diária dos pés, incluindo as áreas entre os dedos. Se não conseguir visualizar a região plantar utilize um espelho ou peça para alguém;

Realizar a higiene regular dos pés, seguida da secagem cuidadosa deles, principalmente entre os dedos;

A temperatura da água deve estar sempre inferior a 37°C, para evitar o risco de queimadura;

Evitar andar descalço seja em ambientes fechados ou ao ar livre;

Sempre usar meias claras e, de preferência, sem costura;

Inspecionar e palpar diariamente a parte interna dos calçados, à procura de objetos que possam machucar seus pés;

Use calçados confortáveis e de tamanho apropriado;

Compre os seus sapatos no fim da tarde (já que os pés costumam inchar ligeiramente ao longo do dia);

Usar cremes hidratantes para pele seca, porém, evite usá-los entre os dedos;

Corte as unhas em linha reta e não retire cutículas;

Em caso de deformidade, úlcera ou ponto de pressão, considerar a confecção de calçados e palmilhas adaptados;

Dê preferência para calçado terapêutico que se adapte ao formato dos pés e que se ajuste adequadamente, para reduzir a pressão plantar e ajudar a prevenir uma úlcera no pé;

Não utilizar agentes químicos para remover calos. Calos e calosidades devem ser avaliados e tratados pelo profissional capacitado;

Vá até uma unidade de saúde para ter seus pés examinados regularmente, uma vez ao ano pelo menos, ou mais vezes caso seja solicitado;

Procure imediatamente sua Unidade de Saúde se uma bolha, corte, arranhão ou ferida aparecer ou em caso de dúvidas.

Fonte: IWGDF, 2023

 

A tecnologia de informação é um importante instrumento para facilitar o acesso à informação e comunicação. Ela, atrelada à saúde, possibilita otimizar as atividades da assistência. Consequentemente, os avanços na área de tecnologia de informação favorecem o compartilhamento de conhecimentos e cuidados em saúde, podendo auxiliar na redução da morbimortalidade, além de assumir um papel importante no cotidiano de pacientes e profissionais, trazendo contribuições para uma assistência de melhor qualidade. (15)

Os aplicativos ganharam força nos últimos anos na área da saúde, com funcionalidades que melhoram a acessibilidade e eficácia dos tratamentos, bem como, trazendo funções capazes de instrumentalizar os usuários para buscarem sua autonomia e se caso não possuírem condições para tal, alcançarem formas alternativas de assim fazer.

O jogo é considerado um instrumento educacional potencial capaz de colaborar para o desenvolvimento da educação assim como para a construção do conhecimento em saúde. (16) Com isso, os jogos educativos: não são apenas para puro entretenimento, eles podem ser grandes ferramentas para educar, ensinar ou treinar o jogador na vida real. Jogos educativos têm a habilidade de prender a atenção do usuário, ajudando-o a entender suas condições de saúde e levando uma melhor qualidade de vida, contribuindo na adesão à terapêutica e aos cuidados.

Além disso, sabe-se da existência de muitas propostas de educação e protocolos para cuidados de prevenção do pé diabético, porém poucas têm se transformado em tecnologias que sejam de baixo custo e fácil acesso. A tecnologia educativa além de levar conhecimento, deve desenvolver a autonomia do indivíduo, sendo um dos principais objetivos da educação em saúde.

Diante da problemática que envolve a doença DM e a traumática complicação da amputação de membros inferiores, surgiu a hipótese que o jogo educativo auxiliaria na conscientização da prevenção relacionada às alterações e cuidados inadequados dos pés, assim, minimizando traumas e complicações severas.  ​​​​ 

O desenvolvimento deste estudo torna-se relevante para atualizar o conhecimento por meio de uma revisão integrativa da literatura, sobre estratégias de educação em saúde para prevenção do pé diabético e desenvolver jogo educativo para ampliar de forma dinâmica a conscientização de toda a sociedade, com foco nos portadores de DM, para atitudes relacionadas ao autocuidado com seus pés, reduzindo assim, a possibilidade de complicações graves como as amputações de membros inferiores.

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2.Metodologia

2.1 Tipos de Estudo

O tipo de estudo é descritivo, aplicado na modalidade de tecnologia e desenvolvimento de jogo educativo.

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2.2Local e Período

O estudo foi realizado na Universidade do Vale do Sapucaí - UNIVÁS e Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação - FAI no período de janeiro de 2023 a novembro de 2023.

 

2.3 Procedimentos

2.3.1 Revisão Integrativa da Literatura

Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizada a revisão integrativa da literatura com busca criteriosa no mês de janeiro de 2023, nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); Medical Literature Analysis and Retrieval System on-line (MEDLINE) via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e United States National Library of Medicine (PubMed).

A revisão integrativa determina o conhecimento atual sobre uma temática específica, já que é conduzida de modo a identificar, analisar e sintetizar resultados de estudos independentes sobre o mesmo assunto, contribuindo, pois, para uma possível repercussão benéfica na qualidade dos cuidados prestados ao paciente. Pontua-se, então, que o impacto da utilização da revisão integrativa se dá não somente pelo desenvolvimento de políticas, protocolos e procedimentos, mas também no pensamento crítico que a prática diária necessita. (17)

A seguir, são apresentadas, de forma sucinta, as seis fases do processo de elaboração da revisão integrativa:

1ª Fase: elaboração da pergunta norteadora:

A definição da pergunta norteadora é a fase mais importante da revisão, pois determina quais serão os estudos incluídos, os meios adotados para a identificação e as informações coletadas de cada estudo selecionado. Logo, inclui a definição dos participantes, as intervenções a serem avaliadas e os resultados a serem mensurados. Deve ser elaborada de forma clara e específica, e relacionada a um raciocínio teórico, incluindo teorias e raciocínios já aprendidos pelo pesquisador. (17)

2ª Fase: busca ou amostragem na literatura:

Intrinsecamente relacionada à fase anterior, a busca em base de dados deve ser ampla e diversificada, contemplando a procura em bases eletrônicas, busca manual em periódicos, as referências descritas nos estudos selecionados, o contato com pesquisadores e a utilização de material não publicado. Os critérios de amostragem precisam garantir a representatividade da amostra, sendo importantes indicadores da confiabilidade e da fidedignidade dos resultados. A conduta ideal é incluir todos os estudos encontrados ou a sua seleção randomizada; porém, se as duas possibilidades forem inviáveis pela quantidade de trabalhos, deve-se expor e discutir claramente os critérios de inclusão e exclusão de artigos. Desta forma, a determinação dos critérios deve ser realizada em concordância com a pergunta norteadora, considerando os participantes, a intervenção e os resultados de interesse. (17)

3ª Fase: coleta de dados:

Para extrair os dados dos artigos selecionados, faz-se necessária a utilização de um instrumento previamente elaborado capaz de assegurar que a totalidade dos dados relevantes seja extraída, minimizar o risco de erros na transcrição, garantir precisão na checagem das informações e servir como registro. Os dados devem incluir: definição dos sujeitos, metodologia, tamanho da amostra, mensuração de variáveis, método de análise e conceitos embasadores empregados. (17)

4ª Fase: análise crítica dos estudos incluídos:

Análoga à análise dos dados das pesquisas convencionais, esta fase demanda uma abordagem organizada para ponderar o rigor e as características de cada estudo. A experiência clínica do pesquisador contribui na apuração da validade dos métodos e dos resultados, além de auxiliar na determinação de sua utilidade na prática. (17)

5ª Fase: discussão dos resultados:

Nesta etapa, a partir da interpretação e síntese dos resultados, comparam-se os dados evidenciados na análise dos artigos ao referencial teórico. Além de identificar possíveis lacunas do conhecimento, é possível delimitar prioridades para estudos futuros. Contudo, para proteger a validade da revisão integrativa, o pesquisador deve salientar suas conclusões e inferências, bem como explicitar os vieses. (17)

6ª Fase: apresentação da revisão integrativa:

Durante a busca, cada base de dados foi acessada em um único dia, 21/01/2023, de modo a esgotar as buscas das publicações e evitar viés que prejudicasse a fidedignidade dessa etapa. Utilizou-se o DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) para a verificação dos descritores, os quais consistiram nos seguintes: Prevention; Diabetic foot. A busca foi realizada utilizando descritores em inglês e associando-os ao conectivo booleano “and”.

A pré-seleção dos artigos foi realizada mediante a leitura dos respectivos títulos e resumos, para verificar a adequação aos critérios de inclusão e exclusão. Como critérios de inclusão, consideraram-se os seguintes: textos disponíveis on-line na íntegra, dispostos nos idiomas português e inglês, textos completos gratuitos, os que abordassem a temática em questão e textos publicados entre os anos de 2020 até 2023. Os critérios de exclusão compreenderam: impossibilidade de aquisição de artigos na íntegra, artigos duplicados nas bases de dados, não gratuitos, artigos escritos no período inferior ao ano de 2020 e os que não abordavam a temática em questão.

Após o cruzamento dos descritores nas bases de dados supracitadas, foram encontradas 7086 publicações referentes à temática investigada. Na sequência, após a remoção dos artigos duplicados e dos que não se enquadravam nos filtros (ano de publicação, texto completo e gratuito) restaram 903 para triagem. Após a leitura dos títulos foram excluídas 859 publicações, onde as 44 que restaram, após a leitura dos resumos dos respectivos estudos, foram excluídas 8 publicações e restando assim 36 estudos condizentes com os critérios de elegibilidade.

Após refinamento da busca, com a leitura minuciosa das publicações elegíveis, foram excluídos 25 estudos que não respondiam à temática em questão ou apresentavam outra intervenção. Sendo assim, foi determinada a amostra final com um total de 11 artigos.

Para organizar e apresentar o resumo da seleção discriminada dos estudos por bases de dados, utilizou-se o instrumento Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses Protocols (PRISMA) representada na Figura 1.

 

 

 

Figura 1- Fluxograma de busca conforme as recomendações do PRISMA 2020. Fonte: Instrumento Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses Protocols (PRISMA) 2020

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2.3.2 Desenvolvimento do Jogo

Devido à especificidade do conhecimento tecnológico exigido na criação de um jogo educativo digital foi realizada uma parceria com o curso de Sistemas de Informação do Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação – FAI, para o desenvolvimento do jogo educativo pelos alunos do 2º período do curso: Eugênio José de Oliveira Silva, Richard Pedroso de Souza Filho e Tiago Vilela Cerqueira do Carmo sob orientação da Prof.ª Mª Eunice Gomes de Siqueira.

O jogo Mario Diet tem a proposta de ser um jogo educativo digital para promover a conscientização sobre a importância dos cuidados preventivos do pé diabético.

Mario Diet é um jogo que apresenta o famoso personagem Mario, do universo dos jogos eletrônicos da Nintendo, em uma jornada para aprender sobre a prevenção de úlceras nos pés de pessoas com diabetes e, assim, compartilhar informações cruciais sobre prevenção e autocuidado. Ao longo do jogo, os jogadores acompanham os ensinamentos de Mario a respeito de cuidados a serem tomados para evitar que essa problemática ocorra.

Durante o jogo, os jogadores são desafiados a selecionar itens relacionados ao autocuidado de pacientes diabéticos, que vão desde o uso de produtos adequados para os pés até a importância da inspeção diária para detecção precoce de lesões. Ao selecionar corretamente os itens, os jogadores avançam pelo jogo, passando de fase e obtendo uma determinada pontuação. No entanto, se o item escolhido for incorreto, o jogador não receberá a pontuação da fase.

O objetivo deste jogo é ajudar Mario a passar por todas as fases, aumentando a conscientização sobre os cuidados necessários que as pessoas com diabetes devem seguir, além de incentivar a possuir uma vida saudável e repleta de bons hábitos.

Essa abordagem incentiva a aprendizagem ativa e engaja os jogadores, proporcionando uma experiência divertida e ao mesmo tempo educativa.

Com o jogo "Mario Diet", busca-se impactar positivamente a conscientização e o conhecimento dos jogadores sobre as práticas de autocuidado essenciais para a prevenção do pé diabético nos portadores de DM.

Espera-se que, ao final da jornada, os jogadores estejam preparados para implementarem as medidas preventivas necessárias para evitar complicações graves do DM.

Para desenvolver o jogo de forma eficiente foram elaboradas na metodologia de trabalho:

  • Pesquisa e planejamento: realizada uma pesquisa detalhada sobre Diabetes Mellitus, os riscos de amputações e as boas práticas de prevenção. Isso ajudará a criar uma base sólida de conhecimento para embasar o conteúdo e os desafios do jogo. Além disso, é importante planejar a estrutura do jogo, definindo as fases, obstáculos e perguntas relacionadas;

  • Design de personagens e ambientes: criar o personagem principal, Mario, e outros personagens relevantes para a história do jogo. Desenvolver o design de ambientes e cenários que sejam visualmente atraentes e adequados ao tema do jogo;

  • Desenvolvimento de perguntas e desafios: elaborar uma lista de perguntas relacionadas ao autocuidado com o pé diabético, abrangendo tópicos como calçados adequados e cuidados com a pele. Certificar-se de que as perguntas sejam relevantes, desafiadoras e educativas;

  • Desenvolvimento das mecânicas de jogo: definir as mecânicas de jogo, como a forma de apresentação das perguntas, a resposta correta, os obstáculos a serem superados e as consequências das respostas incorretas. Garantir que o jogo ofereça uma experiência equilibrada, estimulante e divertida para os jogadores;

  • Codificação do jogo: utilizar uma linguagem de programação e um ambiente de desenvolvimento adequado para criar a estrutura do jogo, implementar as mecânicas de jogo, integrar os elementos visuais e sonoros, e garantir que o jogo funcione corretamente em diferentes plataformas;

  • Testes e ajustes: realizar testes para identificar possíveis erros, problemas de jogabilidade ou dificuldades excessivas. Coletar feedback dos jogadores e fazer ajustes necessários para aprimorar a experiência do jogo e garantir que os objetivos educacionais sejam alcançados de forma eficaz;

  • Design de interfaces e elementos visuais: criar uma interface de usuário intuitiva e atrativa, que facilite a interação do jogador com o jogo. Desenvolver elementos visuais, como ícones, botões e telas de instruções, para transmitir informações e orientações de forma clara e atraente;

  • Implementação de recursos de áudio: incluir trilha sonora e efeitos sonoros para enriquecer a experiência do jogo e aumentar o engajamento dos jogadores;

  • Lançamento e divulgação: preparar o jogo para o lançamento, disponibilizando-o em plataformas para uso em computadores. Promover o jogo por meio de estratégias de marketing e divulgação, como redes sociais, blogs ou parcerias com instituições de saúde;

  • Monitoramento e avaliação: acompanhar o desempenho do jogo, coletar dados sobre o engajamento dos jogadores e a eficácia do jogo.

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3.Desenvolvimento e discussão

Quadro ​​ 2​​ - Descrição dos artigos selecionados para compor a revisão sistemática

AUTOR E ANO

BASE DE DADOS

TÍTULO

OBJETIVO

MÉTODO

CONCLUSÃO

Arrigotti T, Silva Júnior JA, Fraige Filho F, Cavicchioli MG, Rosa AS, Jorgetto JV, et al (2022). (5)

Scielo

Rastreamento de risco de ulceração nos pés em participantes de campanhas de prevenção e detecção do diabetes mellitus

 

 

Analisar as características clínicas e sociodemográficas relacionadas ao rastreamento de risco de ulcerações nos pés em participantes de campanhas de detecção do diabetes mellitus.

Estudo seccional

Os sinais de risco para ulcerações nos pés durante as campanhas de detecção do diabetes foram identificados e contribuem para o rastreamento das complicações e se constituem em estratégias para as ações de prevenção realizadas por estudantes de extensão acadêmica.

Arruda, CeciliaBoell, Julia EWSilva, Denise MGVda; Lopes, Soraia GRLauterte,PriscyllaJunkes, Cintia (2021). (18)

LILACS

Tecnologia educativa para cuidados e prevenção do pé diabético

Delinear o percurso metodológico da criação de uma tecnologia educativa para a prevenção do pé diabético.

Pesquisa metodológica

A tecnologia educativa, construída sob uma perspectiva pedagógica problematizadora, é uma ferramenta assistencial de baixo custo e simples aplicação que pode contribuir para a prevenção do pé diabético.

Chaves, Maria AA; Santos, Rosimeire F; Moura, Luana KB; Lago, Eliana C; Sousa, Kayo HJF; Almeida, Camila APL (2021). (19)

Scielo

Elaboração e validação de um álbum seriado para prevenção do pé diabético

Elaborar e validar o conteúdo e aparência de um álbum seriado sobre prevenção do pé diabético para utilização por profissionais da Atenção Primária à Saúde.

Estudo metodológico

O álbum seriado foi considerado válido pelos especialistas e uma tecnologia capaz de auxiliar o profissional de saúde no rastreio do pé em risco da pessoa com diabetes mellitus.

Fernandes FCGM, Santos EGO, Morais JFG, Medeiros LMS, Barbosa IR (2020). (20)

Scielo

O cuidado com os pés e a prevenção da úlcera em pacientes diabéticos no Brasil

Avaliar a prevalência e os fatores associados às ações de prevenção das úlceras dos pés em pacientes diabéticos no Brasil.

Estudo transversal

Desse modo, no Brasil, a adesão dos profissionais na orientação para prevenção de úlceras diabéticas é considerada precária, com as menores prevalências de realização do cuidado nos grupos mais vulneráveis.

Gomes LC, Moraes NM, Souza GFP, Brito FI, Antônio Júnior ME, Cipriano AE, et al (2021). (21)

LILACS

Contribuições de um programa educativo na prevenção de lesões nos pés de pessoas com diabetes mellitus

Avaliar as contribuições de um programa educativo na prevenção de lesões nos pés em pessoas com diabetes mellitus tipo 2.

Estudo de intervenção com abordagem quantitativa

O programa educativo se mostrou benéfico na redução do risco para o pé diabético, o que reitera a necessidade de proporcionar intervenções dessa natureza às pessoas com diabetes mellitus.

Lima LJL, Lopes MR, Botelho Filho CAL, Cecon RS (2022). (2)

LILACS

Avaliação do autocuidado com os pés entre pacientes portadores de diabetes melito

Avaliar a prática de medidas de autocuidado com os pés, segundo sexo e escolaridade, em pacientes portadores de DM na região nordeste no estado da Bahia

Estudo quantitativo, observacional, analítico, transversal

Os portadores de DM entrevistados não realizaram todas as medidas de autocuidado com os pés e desconheciam o termo “pé diabético”. Houve associação entre menor escolaridade e menor capacidade de realização dessas medidas, o que sugere que o letramento em saúde seria importante para melhoria desse autocuidado, contribuindo para diminuição de complicações e amputações dos pés.

Moreira JB, Muro ES, Monteiro LA, Iunes DH, Assis BB, Chaves ECL (2020). (22)

LILACS

Efeito do grupo operativo no ensino do autocuidado com os pés de diabéticos: ensino clínico randomizado

Avaliar o efeito do grupo operativo no ensino do 

autocuidado com os pés para prevenção do pé diabético

Ensaio clínico, randomizado, controlado e cego

A intervenção educativa por meio do grupo operativo foi eficaz, pois estimulou o autocuidado e reduziu o potencial de risco para o pé diabético

Quinta, AFP; Souza, DF; Pereira, RR (2020). (23)

PUBMED

Prevenção do pé diabético: uma revisão bibliográfica

Analisar a literatura já publicada acerca do Diabetes Mellitus, identificar o conhecimento de enfermagem e da complicação do pé diabético, atentando quanto as práticas de prevenção e a necessidade do autocuidado.

Pesquisa tipo bibliográfica

Frente aos resultados sugerimos que novos estudos sejam explorados devido à complexidade do tratamento pois, se faz necessário um profissional qualificado que programe ações preventivas, visando minimizar o sofrimento e tais complicações decorrentes do diabetes.

Silva AFR, Neto FJC, Guimarães MR, Bernardes RA, Brito VRR, Silva ARV (2020). (24)

LILACS

Tecnologia móvel no cuidado com os pés em pessoas com diabetes mellitus: revisão integrativa

Analisar produções científicas sobre o uso das tecnologias móveis na prevenção e diagnóstico do pé diabéticos, bem como publicações que abordem o autocuidado com os pés em pessoas com diabetes melittus.

Revisão integrativa

Apesar da escassez de estudos, o uso de tecnologias móveis voltadas para a prevenção e autocuidado com os pés em pessoas diabéticas e as voltadas para diagnóstico de úlceras nos pés, mostraram-se efetivas.

Sousa VM, Sousa IA, Moura KR, Lacerda LSA, Ramos MGS, Silva ARV (2020). (25)

LILACS

Conhecimento sobre medidas preventivas para

desenvolvimento do pé diabético

Analisar o conhecimento de pessoas com diabetes mellitus acerca das medidas preventivas para o desenvolvimento do pé diabético.

Estudo transversal

Os participantes apresentaram baixo nível de conhecimento acerca das medidas preventivas e desconheciam hábitos importantes de autocuidado, como uso de calçado adequado e não hidratação entre os dedos dos pés.

Trombini, F., Schimith, M., Silva, S., & Badke, M. (2021). (26)

LILACS

Prevenção do pé diabético: práticas de cuidados de usuários de uma unidade saúde da família

Conhecer as práticas de cuidados com os pés realizadas por usuários com Diabetes Mellitus atendidos em uma Unidade de Saúde da Família.

Estudo descritivo, com abordagem qualitativa

Os usuários têm dificuldade em realizar os cuidados com os pés de forma correta e de associar que cuidados básicos são importantes para a prevenção de lesão nos pés.

Fonte: Autoria própria

 

3.1 Jogo: Mario Diet

Na primeira fase da confecção do jogo foram definidos o formato, o conteúdo a ser trabalhado, o público-alvo e a forma como será abordado o tema. Considerou-se que o jogo seria em formato digital para uso em computador com sistema operacional Windows, público de interesse seria o portador de DM e a faixa etária seria para qualquer idade. O jogo foi intitulado Mario Diet pensando em uma versão saudável do personagem, aproximando da realidade dos participantes que precisam além do autocuidado com os pés, manter hábitos de vida saudável, assim, instigando e motivando os usuários.

O jogo é composto de 10 perguntas contando com 1 minuto para resposta de cada questão. Do lado direito se encontra marcando uma dica de resposta, quantas afirmativas são válidas, o tempo e no fim a pontuação. A cada erro são perdidos pontos e no final apresenta-se qual a porcentagem de conscientização o jogador adquiriu.

Mario Diet, portanto, é um jogo educativo digital que permite ao usuário aprender e compartilhar informações de formas de prevenção com o autocuidado dos pés, desenvolvido principalmente para portadores de DM.

Após a leitura minuciosa da revisão integrativa da literatura, desenvolveu-se o delineamento e organização da produção textual que irá compor o jogo acerca das questões com os principais cuidados com o pé diabético e foi elaborado o conteúdo de cada tela assim como o tutorial da execução do jogo.

E após seguir todas as etapas destacadas na metodologia: Pesquisa e planejamento; Design de personagens e ambientes; Desenvolvimento de perguntas e desafios; Desenvolvimento das mecânicas de jogo; Codificação do jogo; Testes e ajustes; Design de interfaces e elementos visuais; Implementação de recursos de áudio; Lançamento e divulgação; e Monitoramento e avaliação do jogo pronto. A seguir, são descritos e apresentados os casos de uso principais e respectivos fluxos de eventos:

  • Usuário abre o jogo.

  • Usuário escolhe entre as opções para jogar, apresentar créditos e sair.

   Figura 2​​ - Tela inicial do jogo. Fonte: Autoria própria

  • O programa analisa a escolha e processa os dados para gerar as telas do jogo.

  • O programa gera a tela com os itens e a partir disso o usuário pode começar a jogar.

 

  Figura 3​​ - Tela com instruções após clicar no botão “jogar”. Fonte: Autoria própria

 

  • O usuário analisa a tela com dicas e uma pergunta na parte superior da mesma.

  • O usuário escolhe as opções e o programa analisa a resposta, computa o tempo decorrido, contabiliza e mostra na tela os pontos de acertos ou os erros.

 

  Figura 4​​ – Questões (1-10) encontradas no jogo. Fonte: Autoria própria

 

  • O usuário chega ao final das fases e o programa mostra a porcentagem de conscientização e uma lista com todos os cuidados para reforçar o aprendizado transmitido ao longo do jogo.

 

Figura 5​​ - Tela final após responder todas as questões. Fonte: Autoria própria

 

  • O programa mostra a tela de créditos e o fim do jogo.

 

Figura 6​​ - Tela de créditos do jogo. Fonte: Autoria própria

 

  • O usuário escolhe o fim do jogo e o programa é encerrado.

Enfatiza-se que apesar das complicações do DM ser uma preocupação mundial foram encontradas poucas publicações buscando métodos inovadores como o uso de tecnologias de informação voltadas para prevenção dessas complicações e autocuidado do pé diabético.

Todos os estudos incluídos na revisão integrativa relatam a importância da prevenção do pé diabético e dentro dessas propostas destacam-se as atividades educativas em saúde. A análise dos artigos indica que todos são consensuais quanto a necessidade de intervenções voltadas para prevenção e importância da educação e ensino do autocuidado para este objetivo. Além do que é uma ferramenta que possibilita maior confiança ao profissional assegurando que as orientações que foram transmitidas serão implementadas com uma maior autonomia pelo paciente.

A educação em saúde constitui uma parte importante e essencial para a prevenção do pé diabético e o uso de ferramentas tecnológicas podem auxiliar neste processo, melhorando a prática do autocuidado e auxiliando no diagnóstico precoce de lesões nos pés.

Apesar das estratégias e políticas desenvolvidas nos serviços de saúde, as ações de prevenção não estão sendo efetivas, visto que o número de cirurgias para amputação de membros inferiores como complicações do DM tem aumentado consideravelmente.

A Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), por meio de revisão mostrou que mais de 282 mil cirurgias de amputação de membros inferiores (pernas ou pés) foram realizados no SUS entre janeiro de 2012 e maio de 2023, percebendo-se um grande aumento desses procedimentos por todo país. Para os especialistas essa alta está relacionada à falta de cuidados com a diabetes. (27)

O levantamento ainda apontou que só em 2022, no país, os registros atingiram a marca de 31.190 procedimentos realizados, indicando que a cada dia, pelo menos, 85 brasileiros tiveram seus pés ou pernas amputadas na rede pública de saúde. E a probabilidade desses números serem superados em 2023 já é desenhada a partir dos dados dos cinco primeiros meses do ano: pelo menos 12.753 cirurgias foram realizadas entre janeiro e maio deste ano, superior aos 12.350 registros do mesmo período em 2022. (27)

Além de um grave problema de saúde pública, ainda se tem os fortes impactos financeiros com o crescimento constante do número de amputações, consumindo boa parte das verbas destinadas aos estados.

O presidente da SBACV, Julio Peclat destaca que esse volume de gastos poderia ser evitado se os sistemas de saúde investissem mais em medidas preventivas, para que medidas drásticas, como a amputação, não sejam tomadas. (27)

Embora a prevalência e a aparência do pé diabético variem em diferentes regiões do mundo, as vias de ulceração são semelhantes na maioria dos pacientes. Essas úlceras aparecem em pessoa com diabetes com dois ou mais fatores de risco juntamente: a neuropatia periférica e a doença arterial periférica (DAP), que geralmente atuam como um papel central. (8)

A neuropatia leva a um pé insensível e geralmente deformado, causando carga anormal sobre o pé. Em pessoas apresentando neuropatia, traumas leves como, sapatos mal ajustados podem resultar na ulceração no pé. Perda de sensibilidade protetora, deformidades dos pés e limitação da mobilidade articular podem ocasionar uma carga biomecânica anormal sobre o pé e isso produz alto estresse mecânico em algumas áreas, cuja resposta geralmente é um espessamento da pele (calo). O calo, então, leva a um novo aumento na carga sobre o pé, geralmente com hemorragia subcutânea e, eventualmente, ulceração da pele. (8)

Portanto, a promoção do autocuidado é a principal ferramenta para o manejo da prevenção dessas complicações. Sendo uma educação estruturada parte essencial e integrante da prevenção de úlceras nos pés, pois pacientes com diabetes em risco de ulceração nos pés precisam entender sua doença para que se dediquem ao autocuidado com seus pés.

A educação estruturada é qualquer modalidade educacional fornecida aos pacientes de forma estruturada, podendo assumir várias formas como, educação verbal individual, sessões educacionais em grupo, educação com uso de vídeo, livretos, questionários, softwares (8) e no caso deste estudo, jogos.

O uso de ferramentas tecnológicas, neste caso, é algo que auxilia na ampliação dessas informações e permite a conscientização dos portadores de DM sobre maneiras de prevenirem, tratarem ou fazerem o acompanhamento da doença.

Na Jordânia há um estudo, onde eles enviam mensagens de texto por celular reforçando os cuidados com os pés das pessoas com diabetes, com mensagens curtas, como por exemplo: “Observe seus pés todos os dias para verificar se há cortes, feridas, bolhas, vermelhidão, calosidades ou outros problemas” e “ Por favor, seque entre os dedos dos pés”, com a finalidade de testar o efeito do reforço de aprendizagem no conhecimento e prática de cuidados com os pés, após uma aula informal sobre o assunto numa clínica comunitária. (26)

Como os jogos, habitualmente, engajam e motivam os jogadores a atingirem um objetivo, essas características também podem ser empregadas na saúde, ajudando na prevenção e tratamento das doenças crônicas.

Por exemplo, Martin Knoll apresentou diferentes abordagens de jogos, de como ajudar crianças que sofrem de diabetes. Ele instituiu a ideia de jogo para ajudar o jogador a realizar regularmente o teste que mede a taxa de glicose no sangue, sendo possível conceder um feedback compreensível imediatamente, o médico então terá acesso mais rápido ao paciente e suas informações de saúde avaliadas e agrupadas. (3)

No Brasil, Leandro Diehl desenvolveu um jogo, InsuOnline, para educar profissionais da saúde sobre como atender corretamente pacientes com diabetes. Ao longo do jogo, haverá diversas situações em que o jogador terá que prescrever a utilização adequada de insulina em cada caso baseado nos diagnósticos de cada fase. (3)

Ainda no Brasil, o Candy Castle sendo uma adaptação de Knoll, desenvolvido por Matheus Jullien, voltado para crianças com diabetes. Nele, o jogador terá que manter seu castelo protegido por meio de torres que aumentarão e muralhas que serão fortificadas a cada nova medição da taxa de glicose no sangue que o jogador fizer. Quando o número de medições for aumentando, a pontuação final também aumentará de acordo com os critérios do jogo. E neste jogo, os dados obtidos das medições irão para uma base de dados do jogo no celular e de tempos em tempos enviados a um servidor online onde o médico poderá ter acesso as taxas de glicose de seus pacientes, podendo então, monitorá-lo de maneira imediata e com valores atualizados. (3)

O aplicativo Cuidar Tech “Exame dos Pés” é a produção de um software disponível para smartphone e tablets que fornece ao enfermeiro uma ferramenta para auxiliar na avaliação e classificação de risco da pessoa com DM em desenvolver pé diabético, trazendo informações dos principais guidelines nacionais e internacionais. (15)

É raro encontrar jogos relacionados à saúde e direcionado para os pacientes no Brasil, pois a maioria são aplicativos voltados para alimentação, exercícios físicos e outros para auxiliar os profissionais nos diagnósticos e avaliações no momento da consulta.

Sabe-se que comportamentos de autocuidado podem reduzir os riscos de lesões e consequentemente as amputações, sendo então, que a promoção do autocuidado se torna a principal ferramenta para o manejo da prevenção de suas complicações.

Mario Diet é um jogo educativo digital inédito no seu propósito, sendo uma inovação tecnológica na saúde, por ser o primeiro jogo digital que traz benefícios e dá autonomia para o portador de DM, auxilia os profissionais de saúde que o acompanham e aos serviços de Atenção à Saúde no enfrentamento da problemática de amputações de membros inferiores decorrentes das complicações do pé diabético.

O jogo Mario Diet permite ao usuário, pelo uso do computador, acesso rápido aos cuidados principais que deve ter com seus pés. Nesse cenário, com a assistência adequada, sobretudo na Atenção Primária, haverá melhora na qualidade de vida dos usuários, diminuição das complicações e números de internações, taxas de morbimortalidade, além de reduzir o impacto socioeconômico dos serviços de saúde.

Espera-se que o jogador se torne mais consciente sobre os desafios enfrentados pelos portadores de DM e possa aplicar esses conhecimentos no cuidado de sua própria saúde ou na ajuda à outras pessoas diabéticas em sua comunidade.

É necessário ainda que os profissionais de saúde atuem como facilitadores e motivadores, apoiando o desenvolvimento e fortalecimento das práticas para o autocuidado, a fim de se ter uma maior adesão dos pacientes ao tratamento, em um processo educativo, individualizado e inovador.

Salientando que a ferramenta não anula a necessidade de acompanhamento e avaliação rotineira com a equipe de saúde e não substitui o comparecimento presencial nas consultas, o jogo atua de forma complementar na propagação sobre os cuidados preventivos que os portadores de DM devem ter com seus pés para evitar complicações.

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3.2. Limitações do estudo

O processo para aprenderem a jogar pode ser complexo para algumas pessoas e a efetividade do jogo irá depender do comprometimento do paciente para o autocuidado, esforço, vontade de aprender, situação socioeconômica e cultural e situações em relação a saúde podem vir a ser uma dificuldade.

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3.3.Contribuições para área da Enfermagem e Saúde Pública

Como impacto social subentende-se que o jogo permitirá ampliar a conscientização dos pacientes sobre a importância do autocuidado com os pés de forma a prevenir, retardar e até controlar as complicações advindas da doença, desenvolvido de forma breve, interativa e dinâmica aumenta a compreensão das medidas de prevenção, necessitando apenas de 10 minutos de interação.

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4.Considerações finais

A revisão integrativa atualiza o conhecimento e contribui para o desenvolvimento do jogo educativo proposto, com o título Mario Diet, um jogo educativo digital inédito, inspirado nas necessidades para realizar a promoção do autocuidado, com orientações simples, mas eficazes e que fazem toda a diferença.

É uma ferramenta tecnológica de baixo custo, de fácil acesso e simples de ser jogado, necessitando apenas de um computador com sistema operacional Windows, não sendo necessário internet, capaz de capacitar e empoderar os portadores de DM para realizarem o autogerenciamento dos cuidados com seus pés de onde estiverem.

Estudos apontam que diferentes estratégias educativas podem ser usadas na prevenção do pé diabético, inclusive com a tecnologia aliada, possuindo resultados satisfatórios. Apesar disso, ainda se faz necessário o desenvolvimento de pesquisas robustas, principalmente no Brasil, sobre a temática abordada.

Desenvolveu-se então, uma ferramenta tecnológica inédita, que certamente, auxiliará aos portadores de DM sobre prevenção de complicações por meio da prática do autocuidado dos pés. O jogo ainda contribuirá para que as informações transmitidas pelos profissionais de saúde não caiam no esquecimento e sejam realizadas regularmente.

Mais estudos com focos educativos sobre o tema e soluções inovadoras como o jogo educativo Mario Diet são necessários, principalmente, atreladas com estratégias que envolvam a prevenção e o autocuidado dos pés fora do ambiente clínico e que desenvolvam a autonomia destes pacientes.

Ressalta-se que atualizações poderão ser feitas.

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    • 5.Declaração de direitos

O(s)/A(s) autor(s)/autora(s) declara(m) ser detentores dos direitos autorais da presente obra, que o artigo não foi publicado anteriormente e que não está sendo considerado por outra(o) Revista/Journal. Declara(m) que as imagens e textos publicados são de responsabilidade do(s) autor(s), e não possuem direitos autorais reservados à terceiros. Textos e/ou imagens de terceiros são devidamente citados ou devidamente autorizados com concessão de direitos para publicação quando necessário. Declara(m) respeitar os direitos de terceiros e de Instituições públicas e privadas. Declara(m) não cometer plágio ou auto plágio e não ter considerado/gerado conteúdos falsos e que a obra é original e de responsabilidade dos autores.

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6.Referências

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  • Lima, L. J. L. D., Lopes, M. R., Botelho Filho, C. A. D. L., & Cecon, R. S. Avaliação do autocuidado com os pés entre pacientes portadores de diabetes melito. Jornal Vascular Brasileiro, 21. (2022).

  • Jullien, M. D. O. Candy castle: um jogo sério para pacientes com diabetes. (2013).

  • Burihan, M. C., & CAMPOS JÚNIOR, W. Consenso no tratamento e prevenção do pé diabético. SBACV-SP, Brasil, 1-76. (2020).

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Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre - MG, Brasil

2

FAI - Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação ​​  ​​ ​​ 

3

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4

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5

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6

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