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Scientific Society Journal  ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​​​ 

ISSN: 2595-8402

Journal DOI: 10.61411/rsc31879

REVISTA SOCIEDADE CIENTÍFICA, VOLUME 7, NÚMERO 1, ANO 2024
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ARTIGO ORIGINAL

Ensino integrado: fundamentos filosóficos e sociológicos

Edlaine Ronconi de Abreu Dias1; José Vitor Ranieri Moreira2. Jean Rodrigo Dias3

 

Como Citar:

DIAS, Edlaine Ronconi de Abreu; MOREIRA, José Vitor Ranieri; DIAS, Jean Rodrigo. Ensino integrado: fundamentos filosóficos e sociológicos. Revista Sociedade Científica, vol.7, n. 1, p.2643-2650, 2024.

https://doi.org/10.61411/rsc202424117

 

DOI: 10.61411/rsc202424117

 

Área do conhecimento: Ensino.

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Palavras-chaves: Juventude;Ensino Médio; Protagonismo; Projeto de Vida.

 

Publicado: 13 de junho de 2024.

Resumo

O ensino integrado é uma proposta pedagógica que busca combinar o ensino médio com a educação profissional, tendo como objetivo formar profissionais capazes de entender a integralidade do processo produtivo e agir de maneira crítica e criativa na transformação da realidade social. Este artigo tem como finalidade analisar os fundamentos filosóficos e sociológicos do ensino integrado, a partir de uma abordagem qualitativa que inclui uma revisão bibliográfica das teorias de autores como Kuenzer, Frigotto, Arroyo e Saviani.

 

 

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Enseñanza integrada: fundamentos filosóficos y sociológicos

Resumen

La enseñanza integrada es una propuesta pedagógica que busca combinar la educación secundaria con la educación profesional, teniendo como objetivo formar profesionales capaces de entender la integralidad del proceso productivo y actuar de manera crítica y creativa en la transformación de la realidad social. Este artículo tiene como finalidad analizar los fundamentos filosóficos y sociológicos de la enseñanza integrada, a partir de un enfoque cualitativo que incluye una revisión bibliográfica de las teorías de autores como Kuenzer, Frigotto, Arroyo y Saviani.

Palabras clave: Educación Profesional, Educación Secundaria, Formación Ciudadana, Trabajo Y Escuela.

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1.Introdução

É possível afirmar que que nos últimos anos, a educação tem sido alvo de diversas políticas neoliberais que visam a sua instrumentalização, limitando-a a uma formação técnica e desconsiderando a dimensão humana dos indivíduos. No entanto, a educação deve desenvolver as capacidades cognitivas, sociais e emocionais dos estudantes.

Nesse contexto, o ensino integrado surge como uma alternativa crítica, buscando integrar o ensino médio com a educação profissional e formar profissionais capazes de compreender a totalidade do processo produtivo e atuar de forma crítica e criativa na transformação da realidade social. Esta proposta pedagógica tem como base fundamentos filosóficos e sociológicos que visam uma formação integral e emancipatória dos sujeitos.

Este artigo tem como objetivo analisar os fundamentos filosóficos e sociológicos do Ensino Médio ​​ Integrado (EMI), a partir de pesquisa bibliográfica que contempla as obras de autores como Kuenzer [6], Frigotto [5], Arroyo [2]​​ e Saviani [9].

A partir dessa análise, busca-se compreender como o ensino integrado pode ser uma alternativa crítica frente às políticas neoliberais de educação, possibilitando uma formação que contemple não apenas o conhecimento técnico, mas também a compreensão dos processos sociais e políticos que permeiam a produção.

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2. Metodologia

Para a realização deste artigo optou-se pela abordagem de pesquisa qualitativa onde foram realizadas pesquisas em livros e artigos científicos relacionados ao tema do ensino integrado, num recorte temporal entre os anos de 2000 a 2023. Utilizou-se Técnica de Análise de Conteúdo de Minayo (2001) [7] ​​​​ seguindo as fases de: Leitura Flutuante – exploração do Material – Resultados: Inferência e Interpretação.

O foco temático teve como base os aspectos filosóficos e sociológicos que fundamentam ​​ proposta pedagógica do EMI. As obras de Kuenzer (2002) [6]​​ e Frigotto (2011) [5]​​ foram utilizadas como referências teóricas centrais para a abordagem sociológica do tema, enquanto que as obras de Arroyo (2004) [2]​​ e Saviani (2022) [9]​​ foram utilizadas para a abordagem filosófica.

 Para complementar a análise Também foram consultados trabalhos de outros autores, como Araújo (2015) [1] Costa (2012) [4], Mortatti (2012) [8]​​ , ​​ Souza (2017) [11]​​ e Silva (2003) [10]. Assim sendo, ​​ foram selecionados os principais pontos de reflexão sobre os aspectos filosóficos e sociológicos do EMI e detalhados nas seções do desenvolvimento deste artigo.

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3.Desenvolvimento

A interação entre a tecnologia e a sociedade é um tema de grande relevância no campo da filosofia e sociologia. Desde os primórdios da humanidade, o surgimento de novas tecnologias tem tido um impacto significativo na forma como as sociedades se organizam e evoluem. Enquanto a tecnologia pode trazer grandes benefícios, como melhorias na qualidade de vida e avanços científicos, também pode apresentar desafios e dilemas éticos e morais. Por isso, entender a interação entre tecnologia e sociedade é crucial para tomar decisões informadas sobre como usar a tecnologia para o bem-estar humano e para garantir um futuro sustentável.

Uma das temáticas a ser debatida a partir dessa interação trata-se do Currículo Integrado. Segundo Saviani [9]​​ não se pode delimitar a questão do currículo numa perspectiva única e exclusiva de preparar o estudante conforme as exigências profissionais, com objetivo único e limitador. O currículo deve ser pensado com o intuito de atingir a formação integral desses jovens e não se pautar em uma questão tecnicista/desenvolvimentista para atender unicamente aos anseios do capital.

O Currículo Integrado está diretamente atrelado ao conceito de "Formação Integrada" [6], na educação socialista, o que significa formar o ser humano na sua integridade física, mental, cultural, política, científico-tecnológica. Enquanto pautado somente na pedagogia das competências, remete-se à fragmentação disciplinar e ignora aspectos essenciais, tais como: caráter político e social.

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3.1.Aspectos Filosóficos e Sociológicos

A proposta do ensino integrado tem sua fundamentação filosófica na concepção de educação como processo formativo que busca a formação integral dos sujeitos, não se limitando apenas à aquisição de habilidades técnicas. Para Demerval Saviani ​​ (2022) [9], a educação deve ser libertadora e crítica, capaz de proporcionar aos alunos uma compreensão profunda da realidade social em que estão inseridos e desenvolver sua capacidade de transformá-la.

Seguindo essa concepção, o ensino integrado busca proporcionar aos alunos uma formação que possibilite a compreensão da totalidade do processo produtivo, incluindo não apenas o conhecimento técnico, mas também a compreensão dos processos sociais e políticos que permeiam a produção.

A concepção de ensino integrado tem uma fundamentação sociológica que se baseia na análise das mudanças do mundo do trabalho e da necessidade de formar profissionais capazes de atuar criticamente e criativamente na transformação da realidade social. Para Kuenzer (2002) [6], as políticas neoliberais de educação têm como objetivo adaptar a formação profissional às necessidades do mercado, desconsiderando a formação integral dos sujeitos.

Nesse sentido, a proposta do ensino integrado surge como uma alternativa crítica, que busca formar profissionais capazes de compreender a totalidade do processo produtivo e atuar de forma crítica na transformação da realidade social. Conforme Araújo e Frigotto (2015) [5], é direito dos nossos estudantes terem a oportunidade de um processo de formação, inclusive escolar, que proporcione o progresso intelectual. O ensino médio integrado não pode se limitar à escolha de determinados fragmentos do saber.

 Os autores reforçam a necessidade de uma perspectiva crítica às abordagens históricas reducionistas de ensino. Eles destacam alguns pressupostos na perspectiva integradora: o compromisso com a formação integral e sustentável dos indivíduos, abrangendo todas as suas capacidades; Enfoque na práxis como referência para as ações formativas; Integração entre teoria e prática educativa como eixo central da formação profissional; Revitalização contínua da teoria através da prática educativa; Prática educacional como ponto inicial e final do processo educativo; Ação docente manifestada na prática concreta e na realidade social [1]​​ [5].

O ensino integrado é um modelo educacional que busca integrar diversas áreas do conhecimento em um único currículo, em vez de abordá-las de forma isolada. Esse modelo tem ganhado cada vez mais destaque no debate educacional, principalmente por sua capacidade de oferecer uma formação mais completa e contextualizada aos estudantes.

Do ponto de vista filosófico, o ensino integrado tem suas raízes na teoria da educação holística, que busca uma abordagem mais abrangente e integrada da aprendizagem. Segundo essa perspectiva, o aprendizado deve ser entendido como um processo complexo que envolve não apenas o desenvolvimento cognitivo, mas também o emocional, social e espiritual [2].

Já do ponto de vista sociológico, o ensino integrado é visto como uma resposta aos desafios da sociedade contemporânea, que exige cada vez mais profissionais com habilidades multidisciplinares e capazes de lidar com a complexidade e a diversidade do mundo atual [5]. Nesse sentido, o ensino integrado pode ser entendido como uma forma de preparar os estudantes para os desafios da vida real, oferecendo uma formação mais ampla e conectada com o mundo ao seu redor.

Como afirmou Saviani [9], "não há educação neutra. Ou se aprende a ser crítico ou se aceita a condição de ser objeto da história de outros". Nesse sentido, o ensino integrado pode ser visto como uma forma de promover a educação crítica, que permite aos estudantes compreender e transformar a realidade em que vivem, por meio de uma formação mais completa e contextualizada.

Portanto, o ensino integrado tem fundamentos filosóficos e sociológicos importantes, que o tornam uma alternativa promissora para a educação do século XXI. Através de uma abordagem mais abrangente e integrada, esse modelo educacional pode contribuir para formar estudantes mais críticos, reflexivos e preparados para os desafios da vida real [5].

Na contramão desta vertente, percebe-se o contrário através da Lei Federal 13.415/2017 [3]​​ que se presencia a ausência da busca pela autonomia política e intelectual dos jovens e somente uma formação aos filhos dos trabalhadores mais pobres que satisfaça capacidades cognitivas instrumentais básicas para atender aos anseios do “mercado de trabalho”.

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4. Considerações finais

É preciso ressaltar que o processo de formação integral proposto nos Institutos Federais não se reduz somente a mudanças de matrizes curriculares dos cursos. Não basta somente projetos com junção de determinadas disciplinas do Núcleo Comum/Geral com o Núcleo Profissionalizante/Específico [3]. É preciso, a todo o tempo, repensar todos os processos na escola com intuito da formação humana no sentido inteiro, incluindo-se aspectos culturais e políticos.

A proposta do ensino integrado apresenta-se como uma alternativa crítica frente às políticas neoliberais de educação, que desconsideram a formação integral dos sujeitos e se limitam à aquisição de habilidades técnicas. A partir dos fundamentos filosóficos e sociológicos analisados neste artigo, pode-se compreender que o ensino integrado busca formar profissionais capazes de compreender a totalidade do processo produtivo Agir de maneira crítica e inovadora para promover mudanças na sociedade [1]. Isso implica em uma formação que contemple não apenas o conhecimento técnico, mas também a compreensão dos processos sociais e políticos que permeiam a produção.

No entanto, é importante ressaltar que a implementação do ensino integrado não é uma tarefa simples e requer o engajamento de toda a comunidade escolar, bem como a superação de diversos desafios. É necessário repensar as práticas pedagógicas, as estruturas curriculares e a formação dos professores, visando uma abordagem integrada que possibilite a construção do conhecimento de forma interdisciplinar.

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5.Declaração de direitos

 Os autores declaram ser detentores dos direitos autorais da presente obra, que o artigo não foi publicado anteriormente e que não está sendo considerado por outra Revista/Journal. Declaram que as imagens e textos publicados são de responsabilidade das autoras, e não possuem direitos autorais reservados à terceiros. Textos e/ou imagens de terceiros são devidamente citados ou devidamente autorizados com concessão de direitos para publicação quando necessário. Declaram respeitar os direitos de terceiros e de Instituições públicas e privadas. Declaram não cometer plágio ou auto plágio e não ter considerado/gerado conteúdos falsos e que a obra é original e de responsabilidade dos autores.

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6.Referências

  • ARAUJO, Ronaldo Marcos de Lima; FRIGOTTO, Gaudêncio. Práticas pedagógicas e ensino integrado. Revista Educação em Questão, v. 52, n. 38, p. 61-80, 2015.

  • ARROYO, Miguel González. Ofício de mestre: imagens e autoimagens. Vozes, 2004.

  • BRASIL. Casa Civil. Lei nº 13.415, de16 de fevereiro de 2017.Brasília, 2017.

  • COSTA, Ana Maria Rayol da. Integração do ensino médio e técnico: Percepções de alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará − IFPA/Campus Castanhal. 2012. 118f. Dissertação (Mestrado em Educação) − Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Pará, Belém, 2012.

  • FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. Cortez, 2011.

  • KUENZER, Acácia Zeneida. Ensino Médio: construindo uma proposta para os que vivem do trabalho. Autores Associados, 2002.

  • MINAYO, M. C. de S. (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

  • MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Formação integrada: formação humana ou educação para o trabalho? Cadernos de Pesquisa, v. 42, n. 145, p. 37-54, 2012.

  • SAVIANI, Dermeval.Trabalho e educação: fundamentos Ontológicos e históricos. Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 34 jan./abr. 2007. Disponível em: 1-4_iniciais. p65 (scielo.br). Acesso em: 06 maio 2022.

  • SILVA, D. M. S. et al. A (in)disciplina no processo ensino aprendizagem do ensino médio integrado: um estudo de caso no IFMT. Revista Prática Docente - IFMT, v. 6, n. 2, p. 65-76, 2021. Disponível em: https://periodicos.ifmt.edu.br/index.php/rpd/article/view/1218. ​​ Acesso em: 16 maio 2023.

  • SOUZA, Regina Maria de. Ensino Médio Integrado: Uma análise a partir das trajetórias escolares dos estudantes. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Paraná, 2017.

 

     

1

Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), Cuiabá/MT, Brasil.

2

Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), Cuiabá/MT, Brasil.

3

​​ Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina/PR, Brasil.


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