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Scientific Society Journal  ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​​​ 

ISSN: 2595-8402

Journal DOI: 10.61411/rsc31879

REVISTA SOCIEDADE CIENTÍFICA, VOLUME 7, NÚMERO 1, ANO 2024
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ARTIGO ORIGINAL

Perspectivas das estudantes universitárias sobre os atravessamentos das questões de gênero

Ludmila Lins Bezerra1; Armando Paulo Ferreira Loureiro2; Isilda Teixeira Rodrigues3

 

Como Citar:

BEZERRA, Ludmila ​​ Lins; LOUREIRO, Armando Paulo; RODRIGUES, Isilda Teixeira. Perspectivas das estudantes universitárias sobre os atravessamentos das questões de gênero. Revista Sociedade Científica, vol.7, n. 1, p.2809-2815, 2024.

https://doi.org/10.61411/rsc202457517

 

DOI: 10.61411/rsc202457517

 

Área do conhecimento: Educação.

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Sub-área: Estudos de Gênero; Ensino Superior.

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Palavras-chaves: Ensino superior; Gênero; Engenharias; Mulheres; Formação docente.

 

Publicado: 24 de março de 2024.

Resumo

Este artigo compõe uma tese de doutorado em desenvolvimento e objetiva analisar e discutir as perspectivas das estudantes de uma universidade no Norte de Portugal sobre os atravessamentos das questões de gênero. Os dados foram coletados com o uso de questionário que foi aplicado online pelo Google forms e contou com a participação de 45 estudantes mulheres dos cursos das engenharias. Escolhemos as engenharias por ainda ser um curso majoritariamente ocupado por homens. Classificado como exploratório quanto ao objetivo, a presente investigação possui abordagem quantitativa. Os resultados apontaram que ainda há fragilidades e ausências de discussões na universidade sobre as questões de gênero; 43,2% das participantes tem uma ideia sobre os estudos de gênero e 31,8% nunca leu ou pesquisou sobre os estudos, mas tem vontade de estudar. É possível concluir que a universidade precisa ressignificar e ampliar os espaços de discussão sobre as questões que são atravessadas pelo gênero. Para isto, é primordial uma postura docente aberta para discussões e problematizações que envolvam os discentes neste processo e objetive romper com as situações que sejam atravessadas pela discriminação e barreiras de gênero.

 

 

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Perspectivas de estudiantes universitarias sobre el cruce de cuestiones de género

Resumen

Este artículo forma parte de una tesis doctoral en curso y tiene como objetivo analizar y discutir las perspectivas de los estudiantes de una universidad del norte de Portugal sobre la intersección de las cuestiones de género. Los datos se recopilaron mediante un cuestionario que se administró en línea a través de formularios de Google y contó con la participación de 45 estudiantes de ingeniería. Elegimos ingeniería porque todavía es una carrera ocupada mayoritariamente por hombres. Calificada como exploratoria en términos de objetivo, la presente investigación tiene un enfoque cuantitativo. Los resultados mostraron que aún existen debilidades y ausencia de discusiones en la universidad sobre temas de género; El 43,2% de los participantes tiene una idea sobre los estudios de género y el 31,8% nunca ha leído ni investigado los estudios, pero quiere estudiar. Es posible concluir que la universidad necesita resignificar y ampliar los espacios de discusión sobre temas atravesados ​​por el género. Para ello, es fundamental tener una actitud docente abierta a discusiones y problematizaciones que involucren a los estudiantes en este proceso y apunten a romper con situaciones atravesadas por la discriminación y las barreras de género.

Palabras clave: Enseñanza superior; Género; Ingeniería; Mujer; Formación docente.

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1.Introdução

A inserção das mulheres no Ensino Superior redimensiona o espaço feminino tanto no ambiente profissional quanto no familiar [1]. No entanto, o maior desafio atualmente não é o de ingressar na universidade, mas sim em ocupar espaços e cursos que foram naturalizados como masculinos. A engenharia ainda é vista como uma profissão que requer grande habilidade em cálculos e tais aspectos, por muito tempo, foram vistos como distantes de serem possíveis para as mulheres ocuparem. Este manuscrito objetiva analisar e discutir os atravessamentos das questões de gênero no campo universitário, em específico nos cursos das engenharias e com recorte para estudantes do gênero feminino. Para isto, buscaremos analisar as compreensões que as estudantes possuem sobre as questões de gênero e qual a realidade atual na universidade sobre possibilidade de dialogar sobre tais questões.

Gênero, aqui em nossa pesquisa, é delineado pela construção histórica, social e cultural das diferenças pautadas no sexo. A produção de identidades e suas intricadas relações ocorrem em diversos espaços e são múltiplas práticas sociais que cercam o sujeito, produzindo e reproduzindo diferenças, distinções e desigualdades [2]. Ao problematizar as questões de gênero no processo de vivência dos cursos superiores, possibilita a compreensão de como se consolidaram as diferenças sexuais na educação e nas profissões e possível inserção no mercado.

Em relação às questões de equidade de gênero no campo acadêmico é necessário reconhecer que a problematização e a reflexão precisam ser pontuadas desde o início do processo. Isto é, as demarcações de gênero se iniciam, na maioria das vezes, muito antes do nascimento do sujeito, desde a cor do quarto, separação de brinquedos e estímulos diferenciados de acordo com o gênero da criança. As crianças são, por natureza, propensas a brincar, mas a cultura acaba definindo que jogos podem ser jogados [3]. As brincadeiras e os brinquedos acabam sinalizando e limitando os caminhos que cada um deve pertencer: os meninos são estimulados com jogos que envolvem raciocínio lógico-matemático, já as meninas são estimuladas com brinquedos que estimulam o cuidado e as atividades domésticas [4]. Com estes estímulos, as meninas crescem e internalizam determinados estereótipos e compreendem que alguns espaços não são possíveis de participar.

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2.Metodologia

Nossa pesquisa se caracteriza como exploratória, de abordagem quantitativa. A pesquisa quantitativa ​​ busca um entendimento do todo, ou seja, da totalidade do recorte da pesquisa. Ela foi desenhada a partir da aplicação de um questionário com as estudantes das engenharias de uma universidade no norte de Portugal. Ao todo participaram 45 estudantes e ele foi aplicado via Google forms e foi analisado estatisticamente.

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3.Desenvolvimento e discussão

O feminismo luta até os dias de hoje contra a dominação masculina e visa promover a igualdade de gênero. Quanto ao mercado de trabalho no setor da Engenharia, é importante salientar que apesar dos processos transformadores e tecnológicos na área, ainda é um espaço permeado de incertezas para as mulheres. Neste tópico do artigo, trouxemos um trecho do questionário utilizado em nossa investigação em que buscou investigar qual a importância que as estudantes acreditam ter em propor discussões específicas sobre as questões de gênero na universidade; investigamos também qual a relevância em se promover situações de igualdade entre homens e mulheres; por fim, procuramos analisar qual a compreensão que as estudantes têm sobre os estudos de gênero.

 

Tabela 1Valores de porcentagem da importância de discussões específicas

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Sim, acho muito importante  ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​​​ 91,2

Indiferente  ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​​​ 4,4

Não acho necessário  ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​​​ 4,4

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Fonte: Dados da pesquisa

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É possível observar na tabela 1 que quando perguntamos às estudantes se acreditam que a universidade deveria discutir mais as questões de igualdade entre homens e mulheres, 91,2% das mulheres considerou que sim, é muito importante. Neste sentido, nota-se a fragilidade na universidade no que se trata de diálogos e espaços para discutir a igualdade de gênero. Nas instituições de ensino, encontros e palestras são mínimos para esclarecimentos em torno desta temática [5].

 

Tabela 2 – Valores de porcentagem da importância da promoção de igualdade entre mulheres e homens na universidade

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Acredito que já existam medidas que promovem igualdade entre homens e mulheres 17,8

Sim, penso que ​​ seja um tema muito necessário para o ambiente acadêmico  ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​​​ 82,2

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Fonte: Dados da pesquisa

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Nesta questão, 82,8% das estudantes consideram ser necessário que a universidade adote medidas específicas para promover a igualdade entre homens e mulheres. Os números revelam a emergência em proporcionar espaços de diálogo, discussões e problematizações sobre a igualdade entre os gêneros.

As universidades têm um papel relevante para atuar, devendo considerar a educação como uma ferramenta para a construção igualitária de gênero na sociedade. Seria importante, no âmbito do contexto das estudantes engenheiras, que fossem investidas nas práticas docentes cotidianas uma cultura de igualdade.

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Tabela 3 – Valores de porcentagem da compreensão das estudantes sobre os estudos de gênero

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Tenho uma ideia do que se trata       42,2

Tenho bastante interesse pelo tema      ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​​​  15,5

Não conheço, mas tenho interesse em pesquisar     33,3

Não faço ideia do que se trata       8,8

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Fonte: Dados da pesquisa.

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Os dados acima fortalecem a importância da universidade adotar debates que possibilitem a desconstrução dos estereótipos de gênero que são reproduzidos no espaço universitário. Os processos de luta feminista ressignificaram diversas áreas, como questionamentos às atribuições designadas a mulheres e homens, como também a ocupação das mulheres em diversos espaços que por muito tempo foram declarados masculinos.

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4.Considerações finais

Os dados trazem que são necessárias mudanças curriculares na instituição e que as discussões que envolvem as situações de gênero sejam aprofundadas e não mais invisibilizadas pelos docentes. Para que seja possível um melhor equilíbrio de gênero na área das engenharias, a universidade deve fortalecer seus esforços e que sejam garantidas políticas públicas mais direcionadas que atravessem não apenas a universidade, mas a sociedade em geral, onde seja possível vivenciar uma equidade de gênero efetiva.

A universidade tem a responsabilidade de auxiliar e promover estudantes com conhecimento e compromisso, além de criar espaços de mudanças que rompam com a discriminação pautada em concepções machistas. Os estudos e debates sobre as situações que envolvem tais questões devem ter como prioridade capacitar os docentes para que possam propor em suas práticas a intenção de gerar alterações no desenvolvimento de atitudes, valores e comportamentos que rompam as barreiras estereotipadas pelo gênero.

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5.Declaração de direitos

O(s)/A(s) autor(s)/autora(s) declara(m) ser detentores dos direitos autorais da presente obra, que o artigo não foi publicado anteriormente e que não está sendo considerado por outra(o) Revista/Journal. Declara(m) que as imagens e textos publicados são de responsabilidade do(s) autor(s), e não possuem direitos autorais reservados à terceiros. Textos e/ou imagens de terceiros são devidamente citados ou devidamente autorizados com concessão de direitos para publicação quando necessário. Declara(m) respeitar os direitos de terceiros e de Instituições públicas e privadas. Declara(m) não cometer plágio ou auto plágio e não ter considerado/gerado conteúdos falsos e que a obra é original e de responsabilidade dos autores.

 

6.Referências

  • Borsatto, J.M. (2022). Mulheres no ensino de Física: percepções e práticas docentes sobre gênero na disciplina de Física. Dissertação de Mestrado. Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

  • Louro, G. (2002). Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista . Vozes, Rio de Janeiro.

  • García-Prieto, I. Arriazu-Munõz, R.(2020) Estereótipos de gênero na Educação Infantil: um estudo de caso a partir da perspectiva sociocultural. Zero-a-seis, v.22, n.41.

  • Kishimoto, T.; Otto, A.T. (2008). Brinquedo, gênero e educação na brinquedoteca. Pro-posições. Campinas, v.19. 3(57). p.209-223, set/dez.

  • Biase, E. G. (2008). Motivos de escolha do curso de graduação: uma análise da produção científica nacional. Campinas, SP.

     

1

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal.

2

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal.

3

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal.


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