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ISSN: 2595-8402

Journal DOI: 10.61411/rsc31879

REVISTA SOCIEDADE CIENTÍFICA, VOLUME 7, NÚMERO 1, ANO 2024
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ARTIGO ORIGINAL

Histórias de mulheres artesãs da comunidade quilombola lagoa dos anjos, candiba, bahia: luta, resistência e compartilhamento de saberes-fazeres

Naydson Manoel Ataide Costa1

 

Como Citar:

COSTA, Naydson Manoel Ataide. Histórias de mulhres artesãs da comunidade quilombola Lagoa dos Anjos, Candiba, Bahia. Revista Sociedade Científica, vol.7, n. 1, p.2765-2791, 2024.

https://doi.org/10.61411/rsc202450817

 

DOI: 10.61411/rsc202450817

 

Área do conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas.

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Sub-área: Administração.

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Palavras-chaves: Histórias de vida. Mulheres artesãs. Compartilhamento de saberes-fazeres.

 

Publicado: 21 de junho de 2024.

Resumo

Este texto é parte da pesquisa1 de mestrado desenvolvida com um coletivo de mulheres artesãs da Associação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar e Artesanatos Quilombo Lagoa dos Anjos, no município de Candiba – Bahia. Este estudo procurou compreender as contribuições das práticas de gestão do grupo de mulheres artesãs da referida associação para a organização, compartilhamento de saberes-fazeres e comercialização dos seus produtos. Foi um estudo de abordagem qualitativa, utilizando-se de entrevistas individuais e em grupos. Neste texto, traz-se histórias de luta, resistência e compartilhamentos de saberes-fazeres de oito mulheres artesãs. O estudo evidencia histórias de vida de mulheres artesãs, mães, filhas, esposas, trabalhadoras do campo que, entre o cuidar da casa, da família, da roça, tecem, pintam, estudam, bordam, unem pontos, produzem, compartilham saberes-fazeres e constroem práticas sociais individuais e coletivas nos seus cotidianos.

 

 

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1.Introdução

Este artigo é parte do estudo desenvolvido do Programa de Pós-Graduação – Mestrado Profissional em Ensino, Linguagem e Sociedade da UNEB, Campus VI – Caetité – BA. Neste estudo de Mestrado investigou-se as contribuições das práticas de gestão de mulheres artesãs da Associação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar e Artesanatos Quilombo Lagoa dos Anjos (Candiba – Bahia) na organização, compartilhamento de saberes-fazeres e comercialização dos seus produtos.

O desejo de pesquisar essa temática emerge-se da formação em Bacharel em Administração pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) em Guanambi - Bahia, das experiências profissionais como Agente de Orientação Empresarial (AOE) no Programa Negócio a Negócio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) entre os anos de 2012 e 2018 e atualmente do trabalho como docente nos cursos de Administração e Ciências Contábeis no Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias, Campus XVII da UNEB em Bom Jesus da Lapa.

As participantes deste estudo foi um grupo de mulheres artesãs de uma comunidade quilombola. O modo de produção de artesanatos sempre chamou a atenção, talvez tenha relação por ter crescido com pessoas que também confeccionam artesanatos. Ao visitar diversos espaços, feiras, eventos e centros de artesanatos onde as peças eram comercializadas, ou ao visitar e conhecer novos lugares, o interesse era conhecer um pouco das histórias desses produtos e de sua gente, as suas origens, seus significados, suas práticas de produção ali representadas através de uma peça de barro, uma colcha de tricô, uma renda, uma produção de bebidas ou outros artefatos do gênero. O interesse nesses artefatos estava relacionado também ao processo de gestão dessa produção e isso foi-se tornando objeto de reflexões nas aulas na universidade. Ao visitar a Comunidade Quilombo Lagoa dos Anjos no município de Candiba, no ano de 2019, para conhecê-la, fez-se contato informalmente com uma das mulheres artesãs, o que foi fundamental para que decidisse a desenvolver este estudo com o coletivo de mulheres artesãs dessa comunidade.

Neste texto, traz-se histórias de luta, resistência e compartilhamentos de saberes-fazeres de oito mulheres artesãs a partir da realização de entrevistas individuais e em grupo. O texto está estruturado por esta introdução; aspectos metodológicos; as histórias de vidas das mulheres artesãs, suas lutas, resistências e compartilhamentos de saberes e; por fim, as considerações finais.

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2. Questões metodológicas da pesquisa

Este estudo foi de abordagem qualitativa, entendendo-a como aquela que se preocupa com um nível de realidade em que o conhecimento é produzido entre o sujeito e o objeto do conhecimento na relação indissociável entre o mundo objetivo e o subjetivo dos indivíduos [4]. Assim, o importante nesse processo são os significados visíveis e invisíveis das ações sob o “olhar” dos indivíduos participantes da pesquisa, as aspirações, as crenças, os valores, as atitudes [13], as quais não podem ser exclusivamente captáveis por meio de variáveis numéricas. Nessa perspectiva, o material de campo da pesquisa foi produzido na relação entre o pesquisador, o pesquisado e o meio social em que a ação acontece.

Nesse sentido, traz-se neste texto, histórias de luta, resistência e compartilhamentos de saberes-fazeres de um grupo de mulheres artesãs, a partir da realização de entrevistas2 individuais e em grupo. Os registros das entrevistas foram realizados por meio de gravações através de gravador após o consentimento das participantes, depois transcritos pelo pesquisador. Assim, evidenciamos na sequência deste texto as tensões que atravessam o meio social de oito mulheres artesãs, suas lutas individuais e coletivas, a relação com a prática de produção de artesanatos e a geração de renda e protagonismos de suas histórias.

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3. Mulheres artesãs: luta diária e a produção material e imaterial da vida

Apresentar quem são as mulheres artesãs participantes da pesquisa significa evidenciar marcas do cotidiano e das suas lutas diárias e da produção material e imaterial de suas vidas. Assim, na sequência, apresenta-se oito mulheres artesãs participantes do estudo, dando ênfase a suas inserções no mundo da produção de artesanato, suas lutas e compartilhamentos de saberes-fazeres. Contudo, é preciso ressaltar que os aspectos apresentados não dão conta de as descreverem em suas totalidades. Tem-se, portanto, a intenção de evidenciar um pouco das histórias, lutas e compartilhamentos de saberes-fazeres dessas mulheres que produzem cotidianamente suas (re)existências. Eis!

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Resistência3

 Resistência foi umas das primeiras artesãs com quem teve-se contato durante a pesquisa e umas das primeiras a me receber na Comunidade. Ela nasceu em 1974, em Lagoa dos Anjos, comunidade rural do município de Candiba, é casada e mãe de duas filhas. Mora com suas filhas e o esposo ao lado dos seus pais.

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Tem uma luta grande, meu marido sabe, ia sempre pros cortes de cana, eu fiquei com elas pequenas, quando ele saiu daqui, a mais velha tinha dez meses, não, ela tinha um ano e quatro meses, já tava grávida, um nenê no braço e esperando outro (Resistência, 2021).

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Essa mulher resistente, corajosa é também uma mulher de fé, se declara como católica, ainda muito nova, iniciou-se nos ensinamentos da Igreja Católica. Segundo ela, aos sete anos começou na catequese ajudando as catequistas, levando livros, pois ela era muito traquina, então, as catequistas a colocavam para fazer alguma coisa. Aos 14 anos, já assumia a celebração da palavra juntamente com outras pessoas, já participava de teatro, atividades articuladas pelos padres italianos para envolver os jovens na igreja. Resistência disse que era apaixonada pela dramatização.

Um detalhe bastante importante a respeito de Resistência é quanto ao aspecto da estética representativa, através do uso do seu turbante. Em todas as visitas à comunidade, o turbante era uma peça integrante da artesã, não aderindo à moda da indústria capitalista, o que se tornou algo desconexo com as relações de significados históricos e culturais. A peça usada por Resistência fortalece e posiciona a sua identidade como mulher negra e as suas relações sociais, culturais e políticas. Nesse sentido, segundo [9]

A identidade, nessa concepção sociológica, preenche o espaço entre o “interior” e o “exterior” – entre o mundo pessoal e o mundo público. O fato de que projetamos a “nós próprios” nessas identidades culturais, ao mesmo tempo que internalizamos seus significados e valores, tornando-os “parte de nós”, contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que ocupamos no mundo social e cultural.

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No que tange à escolarização, Resistência estudou até a quarta série, atual quarto ano do ensino fundamental. A renda mensal de sua família é mais ou menos um salário mínimo e recebe o auxílio bolsa família do governo federal. Afirma-se como “resistência, mãe, firme, perseverante, persistente. Eu penso numa coisa, se deu errado hoje, amanhã eu faço de novo, pra eu saber que vai dar certo”.

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Então, sou essa pessoa que gosta muito de ajudar com o pouquinho que tenho, né? Gosto de investir no ser humano, eu não sou aquela [...]que gosta de dar cesta básica, gosto de dar conhecimento. Sempre nas minhas falas, eu falo, investir no ser humano, mas ensinando, dar a vara pra pescar, não gosto de dar o peixe pronto não, porque, às vezes, o povo achando o peixe, pensa que não tem capacidade, e todo mundo pode, seja o que quer, então, eu sou essa [...] que pensa assim, desde da minha adolescência eu pensei diferente (Resistência, 2021).

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Essa mulher, mãe, trabalhadora do campo que tem, no fundo de sua casa, seu quintal produtivo, do qual cuida com prazer, conta em sua entrevista que não considera uma batalha que não deu certo como uma batalha perdida, ela a considera como uma experiência, um aprendizado. Ela ilustra sua fala com a questão dos vários editais de que a comunidade já participou e nunca tinha conseguido e, no momento, conseguiu a aprovação do edital do governo do estado para aquisição de uma casa de farinha para a comunidade. Essa mulher forte, guerreira, disse que gosta de pensar sempre no coletivo, se vê como uma empreendedora que, desde muito cedo, sempre gostou de ensinar as pessoas a buscarem com suas próprias mãos. Acredita que, quando não consegue algo, sempre é uma experiência.

No referente ao fazer artesanato, a sua inserção foi desde muito cedo. Segundo ela:

Eu acho que desde quando eu nasci, por causa, eu completei os sete anos eu já comecei com o artesanato, na época eu vi uma mulher fazendo um crochê, aí eu não tinha condições de comprar uma agulha de crochê, meu irmão fez uma agulha de madeira, um pauzinho de madeira e eu fazia o crochê de linha desmanchada de roupa de tricô, aí eu fazia, então, esse negócio de artesanato já de sangue, né? Mas quando eu fui colocar em prática, negociar foi com uns 15 anos, com 15 anos eu fazia crochê para ajudar a comprar as coisas de casa (Resistência, 2021).

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Resistência contou-me em sua entrevista que aprendeu a fazer crochê,

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observando, por causa que, não tinha como, os pais antigamente eram muito rígidos, não deixavam a gente pra casa das colegas que tinham mais uma renda que a gente e aprendiam com professor, então a gente ia observando, chegava num lugar, via as colegas fazendo, observava e pedia pra ensinar, pedia elas pra falar como fazia o ponto, como enrolava a agulha do crochê, e fui fazendo, até a gente chegava nalguma coisa que a gente queria; como a comunidade era muito pobre, ninguém sabia fazer, a gente conseguia vender por um precinho baratinho.

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Convém ressaltar que Resistência é uma mulher que faz muitas coisas, ela não se vê fazendo uma coisa só, então, ela disse: “eu vendia nas feiras livres, eu sou lavradora, agricultora do campo, capino, quebro milho, faço tudo que faz na agricultura familiar, trabalhei muito com algodão, panhar algodão [...], o artesanato é só um complemento de renda”.

Desse modo, esta senhora é uma mulher que desde muito cedo carrega consigo as marcas das contradições de uma sociedade de classes e com as desigualdades sociais. Isso a fez se engajar com as causas da comunidade, a lutar pelos seus direitos. Portanto, refletir sobre a desigualdade de raça, gênero e classe é fundamental para a inclusão da perspectiva de gênero na agenda governamental, processo que ainda está em construção no Brasil, necessitando de mais atenção sobre as políticas focalizadas e interseccionadas envolvendo gênero, classe e raça.

A luta das mulheres pelo respeito e valorização vem de longas datas. Apesar de algumas conquistas4, os estudos têm mostrado ainda uma grande desigualdade social, econômica e cultural na sociedade brasileira, sobretudo nas questões de gênero. [5] no Relatório das Desigualdades Raça, Gênero e Classe5, apontam que a distribuição de brancos, pretos e pardos na população brasileira ocupada é visível. Os brancos estão mais representados em categorias com maiores requisitos de qualificação e/ou maiores recompensas materiais e simbólicas (Profissionais e Administradores, Proprietários e Empregadores). No entanto, os pretos e pardos estão situados em categorias de menor renda e qualificação como as de trabalhadores manuais.

Esse estudo de [5] aponta uma enorme desproporção da representatividade de brancos nas classes mais altas e de não brancos nas classes mais baixas. Essa desproporcionalidade é visível também quando se refere à distribuição da população de acordo com raça/cor e gênero. O não branco é maioria da população brasileira, totalizando 55%, sendo as mulheres 28% e os homens (27%). As mulheres brancas são 24%, e os homens brancos 21% [5]. As mulheres na totalidade representam 52% (não brancas + brancas), todavia, ainda sofrem a desigualdade socioeconômica, sobretudo quando se refere a recebimento de salários.

Esses dados servem para evidenciar as contradições que o Brasil ainda enfrenta causadas pela desigualdade de raça, gênero e classe. Nesse sentido, ocupação de espaços pela população negra e pelas mulheres é fundamental para a superação das desigualdades sociais no Brasil. Ocupar espaço como Resistência faz em sua comunidade contribui pelo menos para dar visibilidade às contradições da realidade, ser uma voz que ecoa exigindo a garantia de direitos do seu povo.

Destaca-se que, no momento da pesquisa, Resistência assumia a direção da Associação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar e Artesanatos Quilombo Lagoa dos Anjos, uma liderança, uma voz que prima pelo protagonismo das pessoas, portanto defende a ocupação de espaços e não abre mão de fazer parte da construção da história. Junto com Resistência existem outras companheiras as quais não tecem apenas os fios dos seus artesanatos, mas da história.

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Generosa

Generosa nasceu em 1958 na zona rural de Candiba, em uma comunidade vizinha à Lagoa dos Anjos, trabalhou na roça desde criança até sua adolescência. Depois foi para São Paulo, onde estudou até o segundo grau completo e trabalhou de babá para ajudar a sua mãe a criar os seus irmãos menores. Ela conta que seu pai se separou da sua mãe quando ela tinha uns oito a nove anos. A sua irmã mais velha ajudava na lida da roça e da casa.

Generosa conta que houve uma época em que ela veio embora de São Paulo, pois sentiu muita saudade de casa, ficou um tempo na Bahia na casa de sua mãe, mas, devido à dificuldade de arrumar trabalho, retornou a São Paulo e aí trabalhou até 15 anos atrás. Em sua fala, Generosa, evidencia que morou e trabalhou em São Paulo sempre com o objetivo de ajudar sua família. Ela conta com muito entusiasmo que com o seu trabalho construiu sua casinha lá; depois, quando a sua mãe ficou doente, vendeu a sua casa e retornou à sua terra natal para cuidar de sua mãe, que veio a falecer depois.

Generosa sublinha:

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Eu tinha sempre aquela vontade de vim embora pra minha terra, porque acho que, quando a gente nasceu, a raiz tá aqui, a gente não esquece nunca, né, sempre tive a vontade de vir embora, eh pra minha terra, chegou esse dia, Deus me ajudou, vim embora, finquei meu pé aqui, aí comecei, voltei pra comunidade, a minha mãe que começou a comunidade católica aqui, né, na época eu fazia parte mais era lá, e a maioria das pessoas era aqui, a família de [Resistência], o pai dela, a avó dela, o avô, eu acompanhava minha mãe desde pequena, né (Generosa, 2021).

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Ela conta que, ao retornar para a comunidade, começou a “trabalhar” na comunidade católica, aí surgiu a questão do reconhecimento e registro da comunidade como remanescente de quilombo. Nessa época, ela frequentava a comunidade Lagoa dos Anjos, então, começou o processo de organização do registro da comunidade como remanescente de quilombo. A comunidade procurou o Cesol.

Generosa relata em sua entrevista:

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E, aí, o pessoal do Cesol veio na comunidade e procurou que a comunidade fazia além do trabalho da agricultura, a gente mora na zonal, o trabalho maior é a agricultura, né, que mais as pessoas faziam, porque tem a época que não é de chuva, não tem o que fazer na roça, né, aí foi que algumas mulheres faziam artesanatos em casa pra vender particular mesmo, aí eles pediu pra juntar um grupo, aí [Resistência] convidou a gente, tava eu e minha irmã, então foi aí que a gente deu início ao grupo do artesanato (Generosa, 2021).

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Em sua entrevista, Generosa destaca que aprendeu a fazer artesanato desde muito cedo com sua mãe, que era artesã, além de sua mãe trabalhar na roça, já fazia em casa, e assim, aprendeu com ela ainda criança.

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A gente foi aprendendo uma com a outra, igual a minha irmã aprendeu o ponto cruz com minha mãe, eu aprendi com ela. Os tapetes de biquinho eu aprendi em casa com minha irmã, uma foi passando pra outra. Essa técnica do trabalho de algodão ali, a minha mãe fazia naquele modo antigo, você fia a linha em casa, produz o algodão, ela tecia naqueles teares, não sei se você já viu, de madeira que tinha no fundo do quintal, elas mesmos teciam em casa os cobertores, naquela época até roupa pra os homens trabalhar na roça era feita de algodão com tecido em casa, minha mãe fazia. Eu sei fiar no fuso, eu não sei fiar naquela roda, a gente fala roda, chama roca, a minha mãe fiava muito, ela fiava e ela mesmo tecia, eu aprendi no fuso que era a linha mais grossa, ela fiava a linha fininha na roda e eu fiava a mais grossinha no fuso, você tece a linha, você urde uma linha fininha da hora de tecer tem que mais grossinha. Eu fazia essa parte. Eu era pequeninha, eu aprendi a fiar (Generosa, 2021).

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Nesse sentido, percebe-se que o compartilhamento de saber sobre o artesanato está presente desde criança na vida de Generosa e permanece com a sua inserção no grupo de mulheres artesãs da comunidade Lagoa dos Anjos depois que chegou de São Paulo. Atualmente ela vive com o seu companheiro e seu tio idoso de quem ela cuida. Vale ressaltar que seu companheiro também é artesão, produz tapetes de tira de tecidos. Ela conta que a sua família vive com uma renda entre quatro a cinco salários mínimos, rendimentos oriundos de sua aposentadoria, de sua pensão e da aposentadoria de seu tio, complementando com o dinheiro da produção do artesanato que ela e seu companheiro produzem.

Generosa se define como

uma pessoa simples, [...] que às vezes que, não sou uma pessoa curiosa, tem hora que sou uma pessoa tão despercebida, né, que tem hora que passa as coisas assim, que esqueço de curiar, às vezes, eu vejo uma coisa assim, depois eu falo devia ter prestado atenção, como era mesmo, como era aquilo mesmo? Eu não fico curiosa pra indagar, pra saber, eu sou uma pessoa assim. Eu quero ajudar as pessoas, eu quero o bem das pessoas, eu quero ver as pessoas crescer, mas às vezes eu esqueço até de mim. Eu prefiro eu, éh, na minha simplicidade, eu não tenho assim aquela ambição, de, de ter luxo, de ter um sapato de marca, de ter uma roupa de marca, eu prefiro usar uma roupa que ganhei, e fazer outras coisas que beneficia, eu gosto de ajudar meus irmãos, às vezes eu compro assim umas coisas pra casa, às vezes não é tanto pra mim, mas é porque eu sei que vai beneficiar meus irmãos, meu marido às vezes fica bravo, com ciúme dessas coisas materiais, tem hora que nós briga, sabe, [risos] porque tipo assim, eu compro uma coisa igual eu tenho esse carro, né, ele trabalhava com reciclagem, a gente comprou uma saverinha pra ele carregar reciclagem, aí depois da pandemia, ele parou porque meu irmão tem asma, já de idade também, parou, né, aí eu mandei reformar a savero, aí ele falou: “porque você não vende?” Aí eu penso meus irmãos toda hora precisam de uma carro assim pra pegar um botijão de gás e levar, vai ali buscar um esterco para fazer a horta ou vai buscar um produto, eu falei, não, deixa aí toda hora alguém precisa, aí ele fica doido, ele fica com ciúme, mas eu quero ajudar, eu compro um produto pra casa minha, às vezes não é tanto pra mim é porque eu sei que na hora que eles precisar ele vem pegar emprestado, às vezes serve mais pra eles do que pra mim, entendeu? É uma forma deu tá ajudando, entendeu? Outro dia eu comprei uma carriola, um carrinho de mão, não era porque eu precisava do carrinho,é porque toda hora meu irmão ia pegar emprestado um do outro, eu comprei, era pra mim, mas não era pra mim, entendeu? Era pra emprestar pra ele. Eu sou assim, às vezes muitas coisas que eu tenho em casa eu compro no intuito não só pra mim e meu esposo, às vezes eu nem preciso tanto, mas assim pra ajudar ele.

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A fala da entrevistada traduz muito como ela é, mostrando sua generosidade, um ser humano que se preocupa com o outro. Segundo [3] “Cuidar do outro é zelar para que esta dialogação, esta ação de diálogo eu-tu, seja libertadora, sinérgica e construtora de aliança perene de paz e de amorização”. É com esse zelo, carinho que Generosa fala dos seus irmãos, essa mulher simples, corajosa, motorista, pois é ela quem dirige seu carro para levar suas companheiras com os seus produtos para as feiras da cidade e de cidades circunvizinhas quando o coletivo de mulheres artesãs é convidado a participar de algum evento para expor ou vender os seus produtos, como os tapetes de biquinho, touquinhas, tiarinhas de tecidos, dentre outros artefatos.

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Simplicidade

Em 1966 nasceu Simplicidade na comunidade rural do município de Candiba Fazenda Gamileirinha. Casada, mãe de dois filhos, um homem e uma mulher. Dentro de casa, vivem ela, seu esposo e a filha, pois o filho já é casado. Em sua entrevista declarou que “se sente católica”, frequenta sempre a igreja. Quando perguntada sobre a renda da família, ressaltou: “Eu não tenho assim, levando na ponta do lápis, sabe, mas [pausa] é, deixa eu ver mais ou menos, porque ninguém tem serviço fixo, trabalha de diária, quando tem, quando não tem, vamos vivendo do jeito que tem.” Simplicidade não se arrisca a mencionar um valor de quanto a família consegue retirar por mês, mas, por outro lado, revela uma situação que é recorrente na vida de muitas famílias que vivem no campo, sem trabalho fixo, sobrevivendo de diárias quando aparecem.

No tocante à escolarização, Simplicidade estudou até a quarta série. Ela conta que começou a participar do grupo de artesanato para se distrair, pois tinha passado por problemas pessoais, de saúde na família, então, desde quando se fundou o coletivo de artesanato, ela participa, muito mais para desestressar. Ela ressalta que não tinha experiência com artesanato antes do grupo de mulheres artesãs.

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Aprendi aqui dentro mesmo, eu tô indo, se precisar de uma água, eu tô aqui, “não, você vai aprender alguma coisa”! Eu tenho vocação com costura e, aí, eu já sabia pedalar a máquina, foi me ensinando fazer tapete, eu não faço assim, pra falar eu tô fazendo pra vender não, sabe. Eu tenho outros compromissos, eu cuidei de minha mãe muito tempo, eu não pegava compromisso firme, então, depois que minha mãe faleceu, ficou meu pai, tem minha sogra ali também que a gente cuida, então, eu não tenho assim, eu não faço pra vender, o que eu faço fica pra mim mesmo, entendeu? Mas aí no grupo a gente trabalha junto, eu não posso numa coisa eu posso na outra, se eu não posso vim, eu falo vou dar tanto material quem fazer, faz de conta que eu tô ajudando, o que fazer é para o grupo (Simplicidade, 2021).

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Aos poucos está aprendendo não só a técnica do artesanato, mas aprendendo coisas da vida com as colegas, e hoje ela aprendeu muito, aprendeu que não vale a pena se estressar, ficar nervosa. Dando continuidade ao falar de si, Simplicidade destaca: “[...] eu nunca fui de pisar em ninguém, e agora, jamais, eu não quero ser melhor que ninguém, mas não quero ser pior, eu quero ser eu mesma, eu mesma, tá entendendo?”.

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Alegre

Alegre nasceu em 1967, no município de Pindai, Bahia. Há 15 anos mora na comunidade Lagoa dos Anjos e vive com o seu companheiro. Ao refletir sobre si, Alegre sublinha: “Graças a Deus, sou alegre, agradeço a Deus pela vida que eu tenho, as duas filhas que eu tenho, os seis netos, minha família, meus irmãos, minhas irmãs, tá tudo no mundo, só tem 3 aqui na Bahia, o resto tá tudo no mundo. Tá tudo espalhado pelo mundo” (Alegre, 2021). A ausência de trabalho no campo, sobretudo na região semiárida da Bahia, com a escassez de chuva, o combustível para o cultivo da agricultura, muitas famílias são obrigadas a se separarem para garantir a sobrevivência. Essa é a realidade da família de Dona Alegre: “tá tudo espalhado pelo mundo” em busca de um sonho.

Alegre declarou em sua entrevista que é católica e que estudou até o segundo grau incompleto. Sobre a sua inserção na prática do artesanato, ela afirmou:

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Antes eu vivia assim, eu vivia sempre pensando em fazer alguma coisa, e depois que eu mudei pra cá, que eu achei as companheiras, me incentivou, eu achei que a gente, né, ficou melhor pra gente poder, e chegou essa “frase” que eu tô precisando fazer terapia, ficou melhor pra mim (Alegre, 2021).

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Essa senhora de estatura baixa, mas enorme em simpatia, diz que ao chegar à comunidade e ser acolhida pelas companheiras, participou de cursos de bordado a fita e a linha. Alegre conta que começou a aprender a fazer artesanato nas primeiras aulas com o professor do Mobral6, usando materiais como raio de bicicleta, pau, linhas, enfim, materiais alternativos para produzir artesanatos. Atualmente ela trabalha mais com crochê e acrescenta: “tem o ponto cruz, só que eu não sou muito o ponto cruz, não, eu sou mais o crochê. Eu acho mais desenvolvido o crochê e também faz parte de uma terapia [...], eu acho muito bom pra acalmar, ajuda bastante” (Alegre, 2021). Além disso, ela afirma que o artesanato ajuda a complementar a renda da família.

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 Inspiração

Inspiração se autodeclara como “uma jovem preta quilombola [...] uma liderança do Quilombo. Artesã, coreógrafa, animadora, tudo isso. Eu diria [...] é a pessoa que faz a diferença aqui no quilombo, uma das pessoas que faz a diferença aqui no quilombo” (Inspiração, 2021). Essa jovem de 20 anos, solteira, que já foi aprovada em dois cursos superiores na Universidade do Estado da Bahia, em Licenciatura em Educação Física e Bacharelado em Enfermagem, sendo que cursou neste último até o segundo semestre, desistindo por não se identificar com o curso, é acima de tudo uma jovem corajosa, alegre, falante, animada e persistente. Na época da entrevista, ela estava estudando em casa para fazer um novo vestibular para o curso de Medicina, o qual diz ser o seu sonho. Antes de terminar a pesquisa, Inspiração foi aprovada no curso de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, via sistema de cotas para quilombolas7.

Essa jovem corajosa, inventiva, que inspira muitas pessoas, sobretudo as crianças da comunidade, pois é responsável pelo grupo de dança Quilombo dos Anjos, já referido anteriormente, também se vê “como integrante, como uma pessoa que luta muito pelos direitos, que vai continuar lutando sempre” (Inspiração, 2021). E que se sente muito orgulhosa em morar na Comunidade Lagoa dos Anjos. Inspiração afirma que tem “muito orgulho desse povo, de tudo que a gente conquistou e que ainda vai conquistar. Tudo isso pra mim é motivo de muito orgulho mesmo, muita honra de morar aqui” (Inspiração, 2021).

Inspiração, jovem sonhadora, de conversa fácil, relata em sua entrevista que, no atual momento de sua vida, se vê como uma pessoa que luta pelos direitos, idealizando um futuro, e aponta: “no futuro eu me vejo cada vez mais, me vejo bem maior, podendo fazer bem mais pelo meu quilombo, podendo ajudar muitas outras pessoas, eu me vejo uma pessoa de muito sucesso” (Inspiração, 2021).

Ao ser perguntado se ela se vê saindo ou permanecendo na comunidade, ela respondeu:

Eu me vejo saindo daqui pra buscar melhorias, que beneficie a mim e ao meu Quilombo, porque, por mais que eu goste daqui, que ame muito meu povo, eu entendo que aqui dentro eu não vou crescer o suficiente pra poder ajudar toda comunidade, então, eu pretendo sair, buscar melhorias e, claro, beneficiar sempre o quilombo (Inspiração, 2021).

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E, nesse raciocínio, Inspiração acrescenta:

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Atualmente eu quero fazer um curso, um curso muito importante que é da área da saúde, né, pretendo cursar Medicina. E isso vai revolucionar demais o meu quilombo. Porque eu vejo o sofrimento do meu povo quando alguém adoece, quando algum parente, quando algum familiar precisa de algum apoio, algum suporte, até financeiro e ninguém consegue, precisa muitas vezes passar por humilhações, por sofrimento, e eu me vejo como médica, eu posso ajudar muita gente, muita gente, vou desenvolver o propósito de muitas pessoas aqui dentro (Inspiração, 2021).

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Essa jovem, que não sonha só para si, mas para todas as crianças da comunidade, relata que já está muito contente com o resultado do movimento que ela tem criado na comunidade, tanto com a criação do Grupo de dança como também do seu acesso e de sua irmã à universidade.

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[...] eu tô muito feliz com a maioria das crianças, porque antes, tava todo mundo desmotivado, ninguém pensava grande, ninguém sabia o que queria fazer, fazer um curso superior era algo de outro mundo, depois que eu e minha irmã começou, ingressou na universidade, mudou muita coisa. Eles viram uma luz no fim do túnel, ou seja, as crianças já têm aquela percepção de futuro, já sonha alto, uns já querem ser médicos, policiais, advogados e isso me deixa muito contente, isso significa que eu não vou ser a única. Não vai ser eu e irmã que vão ser as únicas quilombolas que fez alguma diferença. Que todos, sim, vão fazer, vamos ser um Quilombo diferenciado (Inspiração, 2021).

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É com esperança e confiança que Inspiração olha para o futuro, para as crianças da sua comunidade e para o seu povo. Ela acredita que dias melhores virão com muito estudo, trabalho e união.

No aspecto do artesanato, Inspiração afirmou que faz artesanato de pintura desde novinha. “A minha arte mesmo foi sempre pintura, sempre gostei de cozinha, mas a arte mesmo foi sempre a pintura, até veio a arte da dança, mas isso foi bem depois, foi em 2017” (Inspiração, 2021).

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​​ Na verdade a pintura surgiu com a curiosidade, quando minha mãe começou a fazer alguns cursos, era só para adultos, eu era muito curiosa, ela me levava pra ficar com ela, eu ficava naquela curiosidade, ela me dava alguns pincéis e um pedacinho de pano, eu começava riscar sozinha, foi aperfeiçoando, ela me deu algumas dicas, aí eu fui tentando em casa, fazendo vários rabiscos, até que deu certo, aí um dia ela contratou uma moça, essa moça me deu três dias de explicação, eu nunca mais parei, fui aperfeiçoando, depois eu comecei a dar curso pra crianças do quilombo também, e até hoje eu pinto, hoje eu pinto mais pouco por conta dos estudos, mas até hoje eu tô pintando (Inspiração, 2021).

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Inspiração revelou que, devido à pandemia da COVID 19, o trabalho do artesanato (pintura) deu uma diminuída, mas, antes, ela pintava quase todo final de semana, sempre no tempo livre por causa dos estudos. Ela enfatiza que, nos finais de semana, pintava mais ou menos 4 horas e destaca: “quando eu começo a pintar, me desestressa”.

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Paciência

Paciência nasceu em 1974, na fazenda Mulungu, município de Candiba, BA, mas vive na comunidade Lagoa dos Anjos há quase 40 anos. É casada, mãe de seis filhos, 3 homens e 3 mulheres e diz ser da religião católica. Em sua entrevista ela se define:

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[...] eu sou uma pessoa, graças a Deus, eu sou muito calma, porque, diante de tanto tropeço que eu passo, eu não desisto. E assim, pode ter a hora que eu vejo assim que a coisa tá pegando, pega, pega, pega no nervosismo, aí eu chego e falo não é assim. Eu graças a Deus eu tenho muita paciência, convivi não sei quantos anos com um homem que bebe, bebeu muito, hoje graças a Deus já faz cinco anos... Eu soube lidar diante da situação (Paciência, 2021).

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A senhora Paciência nos relatou como foi resiliente diante da situação que enfrentou com o alcoolismo do seu esposo. Segundo ela, com calma, procurando ser ela mesma, conseguiu vencer e desabafa: “aquilo é um peso, é um peso”. Ela disse que é confiante na força divina, “eu falo com Deus, se mudar, Eu mudo pra melhor, não mudar pra pior, não, que eu não quero” (Paciência, 2021).

No que se refere ao artesanato, Paciência contou em sua entrevista que aprendeu a fazer ainda criança quando tinha uns dez anos, que aprendeu a dar uns pontinhos, a fazer flor de crochê. E, há uns cinco anos, faz parte do grupo de mulheres artesãs da comunidade, pegando experiência, aperfeiçoando-se no crochê.

Quanto à escolarização, não chegou a concluir o primeiro grau. Situação vivida por muitos brasileiros, principalmente no momento histórico em que Paciência frequentou a escola. [12] demonstra o descaso histórico do Estado em promover políticas públicas educacionais para a população do campo. [6] ressalta que “historicamente, no Brasil, a educação escolar para quem vive e trabalha no campo não foi uma prioridade do Estado”. [15] aponta, no Relatório das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, que,

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no Brasil, todas as constituições contemplaram a educação escolar, merecendo especial destaque a abrangência do tratamento que foi dado ao tema a partir de 1934. Até então, em que pese o Brasil ter sido considerado um país de origem eminentemente agrária, a educação rural não foi sequer mencionada nos textos constitucionais de 1824 e 1891, evidenciando-se, de um lado, o descaso dos dirigentes com a educação do campo e, do outro, os resquícios de matrizes culturais vinculadas a uma economia agrária apoiada no latifúndio e no trabalho escravo.

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Observa-se, assim, que o direito à educação, no Brasil, sempre foi negado aos homens e mulheres do campo. [15] ainda sublinha que a educação rural brasileira só foi inserida no ordenamento jurídico nas primeiras décadas do século XX, atribuindo à educação o papel de reter o intenso movimento migratório da população rural para a cidade. Se a escolarização do povo do campo não era prioridade do Estado, é compreensível a sua baixa escolaridade, uma vez que muitas famílias não tinham condições de colocarem seus filhos nas escolas da cidade. Isso também foi o que aconteceu com as famílias de Paciência, Resistência, Simplicidade, Alegre, Tímida, enfim, de tantas outras famílias pobres e pretas que vivem e trabalham no campo e na cidade no Brasil.

Refletir sobre a desigualdade de gênero, classe e raça no Brasil passa também pela discussão da escolaridade. Segundo [5], quando comparado à média dos anos de escolaridade por raça/cor e gênero no Brasil, entre 2011 e 2016, dos quatro grupos (mulher branca; mulher não branca; homem branco e homem não branco), identifica-se que homens e mulheres brancos têm, em média, cerca de 10 anos de estudo e homens e mulheres não brancos, cerca de 8 anos de estudos. Constata-se, também, em que cada grupo racial, as mulheres apresentam uma média de anos de estudo superior à dos homens. No entanto, isso não tem impacto nos rendimentos das mulheres, embora estas apresentem maior escolarização que os homens, reafirmando, assim, a desigualdade de gênero.

Os dados apresentados demarcam apenas alguns aspectos da desigualdade de gênero no Brasil. Na realidade, essa questão é bastante complexa e ampla, são muitos os desafios que as mulheres terão pela frente, principalmente nas sociedades machistas, sexistas e patriarcais, como é o caso da sociedade brasileira.

Desse modo, entende-se a urgência e necessidade de implementação de políticas intersecionadas, por estas buscarem

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(...) capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos de subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. [7]

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Segundo [16]:

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O estudo Igualdade de Gênero e Raça no Trabalho: avanços e desafios (OIT, 2010) sugere que os dados acerca da inserção das mulheres e negros no mercado de trabalho apresentam inter-relações entre essas duas dimensões da desigualdade, revelando que os determinantes de sexo têm maior impacto sobre os índices referentes ao acesso e à permanência no trabalho (taxas de participação e desemprego) e os determinantes de raça incidem sobre os aspectos pertinentes à qualidade do emprego (informalidade). Nesse sentido, as mulheres negras, situadas na intersecção desses determinantes, são duplamente desfavorecidas nos diversos âmbitos que compõem sua condição de trabalhadora (Grifo da autora).

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Assim, reafirma-se a importância das políticas públicas articuladas na perspectiva da interseccionalidade para mexer em questões estruturais e estruturantes de uma sociedade. [16] ressalta que, em 2003, no Brasil, a luta das populações femininas e negras teve como marco importante a criação de duas secretarias na esfera da Presidência da República, a saber: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), esta última, referida anteriormente. A criação dessas secretarias se configura como o momento importante da história do país no que se refere à formulação, coordenação e articulação de políticas que promovam a igualdade entre mulheres e homens, embora todas essas conquistas, que beneficiam os grupos mais vulneráveis da sociedade brasileira, sejam, a todo momento, atacadas pelos gestores que compõem a gestão (2018-2022) da Presidência da República. Isso impõe a necessidade de intensificar a luta e a resistência pela permanência e ampliação das políticas públicas que garantam direitos à classe menos favorecida.

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Tímida

Tímida nasceu no município de Guanambi, BA, mas mora na Comunidade Lagoa dos Anjos desde bebê. É casada, mãe de um filho, estudou até a 4ª série e diz ser da religião católica. Foi uma das últimas artesãs da comunidade, presentes, a ser entrevistada. Era possível perceber um pouco do nervosismo e de certa forma um estranhamento dela às perguntas propostas no roteiro. Foi necessário reforçar os objetivos da pesquisa a ser realizada.

Embora sendo uma jovem mais reservada nas palavras, ela contou em sua entrevista: “tem horas que eu sou meio explosiva, né, mas tem horas que também uma boa (pessoa), alegre, brincalhona” (Tímida, 2021). Disse-me também que não costuma participar de muitas atividades da comunidade, que fica mais dentro de casa, o que de alguma forma acaba evidenciando um pouco mais desse comportamento mais reservado, principalmente com a presença do pesquisador.

Relatou, ainda, que fica muito feliz quando alguém gosta do artesanato delas e que se sente crescendo. E que estar com as companheiras no grupo há uns cinco anos é muito importante, pois ajuda a amenizar sua timidez. Ela enfatiza que uma colega lhe ensinou o básico, “depois foi pegando a prática, fui pesquisando no celular, aí fui aprendendo mais. [...] Crochê, eu faço qualquer coisa, faço tapete, biquíni, carpete, essas coisas assim. Qualquer coisa eu faço, pesquisando, né!” (Tímida, 2021).

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Decidida

Decidida nasceu em 1999, no momento da entrevista tinha 22 anos de idade, solteira, estudante universitária, bolsista no curso de Licenciatura em História da Universidade do Estado da Bahia. No ano de 2021 foi aprovada em Odontologia na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), via sistema de cotas para quilombolas.

Sempre viveu na Comunidade Lagoa dos Anjos, mora com sua mãe, seu pai e sua irmã mais nova e, disse que sua religião é a católica.

Contou-me que hoje se vê como uma pessoa de responsabilidade,

uma menina que conseguiu [...] mudar sua vida, conseguiu, eu sempre quis, sabe, ter responsabilidades, mas ninguém nunca confiou a mim responsabilidades, eu sempre quis aqui na comunidade em tudo, mas pelo fato de ser muito desleixada tal, ninguém nunca confiava em mim responsabilidades, a partir do artesanato, a partir de alguns conselhos, eu fui mudando, mudando e tenho responsabilidades e fui mudando minha vida, sabe? (Decidida, 2021).

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Decidida é uma jovem universitária e artesã, que nos contou estar decidida a ir buscar seus sonhos, “tô sempre pronta pra recomeçar do início, mesmo se tudo desmoronar, eu tô sempre pronta pra começar do início [...], nada vai me parar, [...] Eu já fui parada por muita gente, hoje eu não vou deixar nada me parar”. Essa fala de decidida nos remete à música de Caetano Veloso quando ele diz: “Eu pus os meus pés no riacho. E acho que nunca os tirei. O sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei [...] Por isso uma força me leva a cantar, por isso essa força estranha no ar, por isso é que eu canto, não posso parar, por isso essa voz tamanha”8.

Essa jovem que afirma estar destinada a correr atrás dos seus sonhos desde seus dez anos aprendeu a tecer os “fios” e compor a sua história no artesanato.

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Eu comecei com o artesanato desde os meus dez anos de idade. Porque eu era pessoa, uma menina muito difícil de lidar, então, mãinha encontrou essa forma de, pra me entreter, sabe ... Eu era muito pirracenta, eu era uma peste, então mãinha encontrou essa forma de me entreter e eu gostei, sabe? Desde daí eu comecei, aí com os meus treze anos de idade, eu comecei, eu percebi que dava pra vender, então, eu comecei a vender e daí em diante até eu vendo artesanato (Decidida, 2021).

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Desde então, ela vem fazendo crochê, “eu faço tapetes, faço jogo de cozinha, jogo de banheiro, eu faço esse tipo de artesanato”. Além disso, estuda, e ainda faz “bico” em outras atividades, inclusive na segunda visita à comunidade ela estava trabalhando em uma lanchonete na sede do município para complementar sua renda. Assim, percebe-se que as histórias de vida dessas mulheres carregam similaridades visíveis na condição de serem mulheres camponesas, pobres, que têm que batalhar para garantir a sobrevivência da família.

A partir das histórias das mulheres relatadas aqui e os dados de pesquisas apresentados, não se pode perder de vista as situações de vulnerabilidade que ainda estão presentes na sociedade brasileira. [16] destaca uma estratégia importante no combate à pobreza dos grupos mais vulneráveis, incluindo nestes a população negra, que é a criação do banco de dados do Cadastro Único9, que auxilia os governos (federal, estaduais e municipais) na promoção de políticas de enfrentamento às situações de vulnerabilidades socioeconômicas. As pesquisas têm explicitado o quanto o Brasil ainda tem que avançar. Os dados do IPEA-Pnad 2014 apontam que as mulheres aparecem no topo das taxas de desocupação quando comparadas aos segmentos masculinos, com destaque para as mulheres negras (10,2%), mais suscetíveis ao desemprego, os homens brancos possuíam em 2014 taxa de desocupação de 4,5%, marcando a disparidade de gênero e raça que ainda atravessa as relações de trabalho. Os homens continuam ganhando mais que as mulheres, as mulheres negras estão na base da pirâmide e os homens brancos no topo (10).

[14] ressalta, com base na pesquisa do Ipea (2016), que os homens negros estão abaixo das mulheres brancas na pirâmide social; nesse sentido, colocar em evidência essas identidades passa a ser questão prioritária, desse modo, situação de desigualdade social no Brasil deve ser analisada de forma relacional entre grupos, pois “mulheres brancas ganham 30% a menos que homens brancos. Homens negros ganham menos do que mulheres brancas e mulheres negras ganham menos do que todos” [14]. “A mulher negra sofre o estigma social não por ser negra, mas também por ser mulher. A sociedade brasileira é patriarcal, machista e racista, o que significa que a condição da mulher negra é mais desfavorável do que a dos homens” [2].

Os dados da pesquisa realizada pelo [11] que estão na Nota Técnica nº 46, intitulada Trabalho, população negra e pandemia: notas sobre os primeiros resultados da Pnad Covid-19, reafirmam a questão da desigualdade social relacionada com a cor e raça.

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Durante os primeiros meses da pandemia no país, a taxa de desocupação cresceu para todos os grupos de cor ou raça, com média geral passando de 10,7% para 13,1% entre maio e julho. Considerando-se somente a população negra – homens e mulheres –, essa elevação foi ainda superior: passou de 10,7% e 13,8% para, respectivamente, 12,7% e 17,6%.

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Essa pesquisa ainda aponta que, nesse mesmo período, a população que estava vivendo na informalidade era majoritariamente negra, ou seja, essa população estava desassistida dos mecanismos de seguridade social. Portanto, no contexto da sociedade brasileira, ao pensar em implementação de políticas públicas, faz-se necessário olhar para as especificidades. Para quais mulheres estão-se pensando determinadas políticas? Para quais homens? A ideia de homogeneização da população não se sustenta, sobretudo porque os fatos demonstram que a ideia de democracia racial no Brasil é uma falácia.

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Quando muitas vezes é apresentada a importância de se pensar políticas públicas para mulheres, comumente ouvimos que as políticas devem ser para todos. Mas quem são esses “todos”, ou quantos cabem nesse “todos”? Se mulheres, sobretudo negras, estão num lugar de maior vulnerabilidade social justamente porque essa sociedade produz essas desigualdades, se não se olhar atentamente para elas, o avanço mais profundo fica impossibilitado. [14]

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[14] ainda complementa que a situação em que se encontram as mulheres negras requer que se pense em alternativas emancipatórias que possam promover e legitimar direito de voz e melhores condições. Nesse processo é “urgente o deslocamento do pensamento hegemônico e a ressignificação das identidades, sejam elas de raça, de gênero ou de classe” [14]. Contudo, o que se pergunta é: Como provocar esse deslocamento de pensamento hegemônico, considerando que muitos que assumem funções estratégicas no conjunto do Estado deslegitimam a luta de combate ao racismo e à discriminação?

Essa é uma reflexão fundante para avançarmos no debate teórico-prático das questões étnico-raciais e da desigualdade social no Brasil, que, por sua vez, na perspectiva governamental, tem, nos últimos tempos, retrocedido, considerando as posições defendidas por lideranças que assumem cargos estratégicos no Governo Federal. É um governo composto por lideranças que têm construído narrativas que desvalorizam, deslegitimam a luta dos negros, das mulheres, dos homossexuais, enfim, trabalhado na contramão da democracia.

Os desafios são muitos, a sociedade brasileira vive “situações-limites” [8], as quais só poderão ser superadas por meio da continuidade da luta e da resistência no combate a toda e qualquer forma de opressão. É urgente que todos os mecanismos conquistados por meio da luta da população sejam colocados em ação para garantir na prática o que lhe são direitos: educação, saúde, trabalho, lazer, liberdade, segurança, o direito de ir e vir e que possibilitem empoderamento dos sujeitos e o fortalecimento dos direitos territoriais. É necessário que o protagonismo das mulheres seja valorizado para que políticas de promoção da igualdade entre homens e mulheres sejam mobilizadas e colocadas em ação na perspectiva da superação das desigualdades de gênero, considerando as dimensões étnico-raciais, geracionais, regionais, locais, sua relação com o meio ambiente e proporcionando autonomia econômica e financeira com a inserção das mulheres ao mundo no trabalho, sobretudo, a partir dos modos de produção alternativos, que adotam relações de trabalho mais solidárias, como a produção de artesanatos.

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4. Considerações

Por fim, vale ressaltar que, este trabalho, é sobre e com mulheres que nas suas singularidades partilham experiências acerca da produção do artesanato, ao mesmo tempo em que são solidárias umas às outras nos assuntos pessoais. Como elas relataram: “A gente chega aqui no grupo cheias de problemas, a cabeça ruim, quando vamos embora, estamos bem melhor” (Tímida, 2021).

São saberes e fazeres compartilhados, mobilizados no coletivo e no individual, os quais são passíveis de arranjos e rearranjos conforme as necessidades do grupo, o qual é composto por mulheres, como Resistência, “mulher de fé”, “trabalhadora do campo”, engajada com as questões sociais e não gosta de políticas assistencialistas, gosta de crescer com seu próprio esforço, luta pelo direito a ter direitos, pelas oportunidades iguais. Sonha pelo crescimento do grupo de artesanato e da comunidade.

Generosa, mulher que teve de deixar sua terra em busca de trabalho em São Paulo, mas que retornou às suas origens. Mulher forte, que gosta de cuidar dos outros, como ela mesma disse: “Eu sou assim, às vezes muitas coisas que eu tenho em casa eu compro no intuito não só pra mim [...] às vezes eu nem preciso tanto, mas assim, pra ajudar”.

Simplicidade aprendeu a técnica do artesanato com as companheiras do grupo. No princípio, ela vinha para as reuniões do grupo para desestressar. Hoje tem aprendido com as companheiras artesãs, não só a fazer artesanatos, mas “aprender coisas da vida”. Para a artesã Alegre a prática do artesanato, além do complemento de renda, é uma terapia. Inspiração, jovem quilombola artesã, batalhadora, que sonha ser médica.

A artesã Paciência é resiliente diante das situações difíceis que já atravessou. Aprendeu a tecer os fios dos artesanatos desde muito cedo, com uns dez anos. Quanto a Tímida, explicitou, no decorrer da entrevista, que fica muito contente quando alguém gosta do artesanato produzido por elas. A artesã Decidida, assim como Inspiração, busca realizar seus sonhos. Cursava História na UNEB, deixou para fazer Odontologia na UESB. Ela nos relatou que nada vai pará-la e, desde seus dez anos, aprendeu a tecer os “fios” do artesanato com sua mãe.

As histórias de vida dessas mulheres artesãs, quilombolas, são histórias de mães, filhas, esposas, trabalhadoras do campo que, entre o cuidar da casa, da família, da roça, tecem, pintam, estudam, bordam, unem pontos, desatam pontos, tecem novamente, enfim, produzem, compartilham saberes-fazeres e constroem práticas sociais individuais e coletivas nos seus cotidianos.

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5.Biografia:

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6. Referências

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  • BESERRA, Ivanilza de Souza; SILVA, Cícero Nilton Moreira da. Mulheres, negras e quilombolas: o empoderamento social das Amélias, grupo de mulheres de Portalegre/RN. Travessias, Cascavel, v. 13, n. 3, p. 107-122, set./dez. 2019.

  • Disponível em: http://www.unioeste.br/travessias. Acesso em: 05 jan 2021.

  • BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 2001.

  • BORGES, Luciana. Métodos qualitativos e quantitativos: conceitos, aproximações e divergências. In: Pesquisa qualitativa para todos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2020. (p.49-75).

  • CAMPOS, Luiz; FRANÇA, Danilo; FERES JÚNIOR, João. Relatório das desigualdades de raça, gênero e classe. (GEMAA), Nº 2. 2018, p1-18. Disponível em: http://gemaa.iesp.uerj.br/wp-content/uploads/2019/08/Relat%C3%B3rio-2-final.pdf. Acesso em: 06 jan 2021.

  • COUTINHO, Adelaide Ferreira. As políticas educacionais do estado brasileiro ou de como negaram a educação escolar ao homem e a mulher do campo – um percurso histórico. EccoS Revista Científica. São Paulo: v.11, n. 2, jul/dez, 2009. s.p.

  • CREENSHAW, Kimberlé. A interseccionalidade na discriminação de raça e Gênero. In: Revista Estudos Feministas nº1. Salvador, 2002.

  • FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1994.

  • HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 7. ed. Rio de Janeiro: DP & A, 2002/2006.

  • IPEA. Nota técnica - Mulheres e trabalho: breve análise do período 2004-2014. Brasília: 2016.

  • IPEA. Nota técnica 46. Trabalho, população negra e pandemia: notas sobre os primeiros resultados da Pnad covid-19. Brasília: 2020.

  • LEITE, Sérgio Celani. Escola rural: urbanização e políticas educacionais. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2002.

  • MINAYO, Maria Cecilia de Souza. O desafio da pesquisa social. In: MINAYO, Maria Cecilia de Souza. (Org.) Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 28 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007, p.9- 29.

  • RIBEIRO, Djamila. Lugar de Fala. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen. 2019.

  • SOARES, Edla de Araújo Lira. Parecer 36 das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica das Escolas do Campo. Brasília, DF: 2001

  • VIEIRA, Bianca. Mulheres negras no Brasil: trabalho, família e lugares sociais. Campinas, SP: Dissertação (mestrado em Educação). Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. 2018, p.107.

1

Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias, Campus XVII- Bom Jesus da Lapa. Bahia, Brasil.

2

Todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética -parecer consubstanciado do CEP- nº 44376821.5.0000.0057.

3

As participantes da pesquisa são denominadas no estudo com nomes fictícios extraídos a partir das suas características descritas nas falas sobre si durante as entrevistas. As artesãs são identificadas como: Resistência, Inspiração, Decidida, Generosa, Tímida, Alegre, Paciência e Simplicidade.

4

Dentre as conquistas podemos citar o direito ao voto, a inserção na política, Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), dentre outras.

5

Mais informações sobre esse estudo, ver: [5]. Relatório das desigualdades de raça, gênero e classe. (GEMAA), 2. 2018, p1-18. Disponível em: http://gemaa.iesp.uerj.br/wp-content/uploads/2019/08/Relat%C3%B3rio-2-final.pdf. Acesso em: 06 de jan 2021.

6

Segundo [1], o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) – surgiu em 1967, de acordo com a Lei n° 5.379, quando o governo federal da época assumiu o controle da alfabetização de adultos, voltando-a para a faixa etária de 15 a 30 anos. Entretanto, só foi efetivamente implementado a partir de 1971, durante o governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, cujo ministro da Educação era Jarbas Passarinho.

7

​​ A chamada Lei de Cotas (Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012) “obrigou as universidades, institutos e centros federais a reservarem para candidatos cotistas metade das vagas oferecidas anualmenteemseusprocessosseletivos”.Disponívelem: https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/cotas/lei-das-cotas.htm. Acesso em: 04/05/2022.

8

​​ Trecho da música de Caetano Veloso. Disponível em: https://www.letras.mus.br/caetano- veloso/44727/. Acesso em: 01 de ago 2021.

 

9

O Cadastro Único é um instrumento que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda, permitindo que os governos (federal, estaduais e municipais) conheçam melhor a realidade socioeconômica dessa população. Nele são registradas informações como: características da residência, identificação de cada pessoa, escolaridade, situação de trabalho e renda, entre outras. Diversos programas e benefícios sociais do Governo Federal utilizam o Cadastro Único como base para seleção das famílias, a exemplos: Programa Bolsa Família, Programa Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Verde – Programa de Apoio à Conservação Ambiental, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), Fomento – Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais, Programas de Cisternas, dentre outros. Informações disponíveis em: https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e- programas/cadastro-unico. Acesso em: 06 de jan 2021.

 


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