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VOLUME 2, NÚMERO 4, ABRIL DE 2019

ISSN: 2595-8402

DOI: 10.5281/zenodo.2789317

 

SUPERAR TEMORES PARA QUALIFICAR O PROCESSO: CONCEPÇÃO DE UMA ESCOLA FILANTRÓPICA SOBRE A ATRIBUIÇÃO DE NOTAS, PARECERES OU CONCEITOS NO PROCESSO AVALIATIVO

 

Alexandre Lemos Vieira¹, Carla​​ Marisa​​ Sebaje¹, Érica Pardo¹, Istael Espinosa¹, Letícia Feijó¹, Marilei Moraes¹, Marcos​​ André​​ Betemps¹

 

¹Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia Sul Rio-grandense, Brasil

 

RESUMO

Este trabalho concentra atenção na concepção dos professores de​​ uma escola filantrópica​​ sobre​​ a​​ atribuição de notas, conceitos ou pareceres nos processos avaliativos, bem como na organização e nas estratégias para essas fundamentações. Os elementos até aqui considerados permitem supor que os profissionais da educação necessitam romper barreiras, no que se refere ao uso das distintas metodologias, a fim de acompanhar​​ a evolução que permeia o crescimento das nossas crianças e jovens. Pretendendo elucidar esse aspecto, buscou-se investigar dados pesquisados,​​ através de questionários que foram aplicados no segundo semestre do ano em curso;nestes​​ foram constatadas​​ que​​ a​​ preferência de cada docente​​ recai no parecer​​ descritivo.

Palavras chave: Docente, avaliação,​​ parecer.

 

1INTRODUÇÃO

Considerando a multiplicidade de realidades do país,​​ e a preocupação com​​ as relações de ensino e aprendizagem​​ na escola,​​ torna-se imprescindível analisar​​ e refletir sobre os processos​​ de​​ avaliação​​ que ocorrem em seu interior. Uma vez, que é por meio dela​​ que​​ verifica-se a​​ aprendizagem do discente e leva o​​ professor a avaliar​​ os avanços e recuos do aluno como diagnóstico para prosseguir ou retornar no currículo escolar, para assim, caracterizar a natureza da avaliação como oportunidade de revisão e replanejamento de suas atividades subsequentes.​​ 

O presente trabalho foi realizado em uma escola filantrópica,que atende alunos das séries iniciais e finais do Ensino Fundamental e Educação​​ de Jovens e Adultos​​ (EJA). A escola citada localiza-se na​​ cidade de Pelotas,​​ no estado do Rio Grande do Sul.

O​​ objetivo dessa pesquisa foi conhecer​​ a concepção dos professores acerca de atribuição de notas,​​ pareceres e conceitos aos​​ processos avaliativos e reconhecer no estudo das concepções de avaliação uma ferramenta eficaz e fiel no processo de ensino-aprendizagem.

Tal esforço se justifica pela importância do tema, visto a inquietude do meio escolar em relação à​​ necessidade de vislumbrar a aprendizagem associada aos métodos e​​ práticas​​ avaliativa, onde a avaliação é indissociável do processo de ensino/aprendizagem. Segundo Faria​​ [3]:

[...]​​ A avaliação tem um papel fundamental na aprendizagem do aluno,​​ pois é​​ a partir dela que o professor pode verificar as necessidades que cada aluno​​ possui,e assim,​​ realizar​​ as intervenções pedagógicas adequadas e não como meio de classificação de conhecimentos.

 

 

 

 

 

 

 

Sendo assim a avaliação não pode ser mera ferramenta quantitativa, mas deve contemplar vários aspectos, tanto no que tange às metodologias utilizadas pelo professor, bem como o que foi assimilado pelo aluno, de acordo com suas especificidades e graus de entendimento, servindo como importante embasamento para correção dos rumos e estratégias a fim de atingir os objetivos traçados na construção do conhecimento.​​ Não há como pensar em avaliação de maneira isolada da metodologia, dos conteúdos ou dos objetivos. É a relação existente entre esses elementos que sustenta o sucesso do processo de ensino e aprendizagem.

Para tanto, faz-se indispensável que a coordenação pedagógica promova novas posturas em sala de aula,organizando com o corpo docente os fundamentos para uma aprendizagem inovadora e dinâmica,objetivando a construção de uma pratica pedagógica contemporânea intervindo de forma consistente no planejamento obtendo como resultado um olhar mais atento ao processo avaliativo.

Neste contexto, foi necessário conhecer o funcionamento administrativo e pedagógico da escola, buscando apropriar-se da realidade da instituição de modo a contextualizar os resultados obtidos através das entrevistas com parte do corpo docente.

O presente instrumento buscou​​ apresentar um diagnóstico real, a​​ partir da percepção dos educadores frente​​ ao difícil exercício da avaliação. Através da referida​​ pesquisa​​ buscou-se também reconhecer as​​ diferentes​​ concepções de avaliação.

Entendendo que a avaliação não pode ser um meio excludente, torna-se indispensável​​ que os professores estejam inseridos no atual​​ contexto, sensibilizados para um processo avaliativo coerente e que contemple a harmonia​​ entre o que é ensinado e​​ o que é aprendido.

 

2. A AVALIÇÃO COMO INSTRUMENTO JUSTO E IGUALITÁRIO

A aplicação real de uma avaliação coesa e coerente, no saber viver e conviver, no ambiente escolar, tornará mais abrangente os resultados, os conteúdos propriamente ditos, o entendimento, a compreensão e a praticidade do que é pertinente para o educando e sua vida em sociedade. Dessa forma, FIDALGO​​ (2006) ,​​ salienta que​​ “é necessário, então, que a avaliação seja também de alguma forma socialmente construída, se não em sua concepção (ideal), pelo menos em sua realização”​​ [4].

Sendo assim, foi possível constatar através dos resultados obtidos nas entrevistas que o parecer descritivo contempla de maneira mais fidedigna e justa não apenas o fim, mas todo o processo de construção de conhecimento, promovendo uma avaliação mais coerente e construída não apenas pelo professor e alunos, mas por todos os atores educacionais envolvidos, visando não a classificação, mas sim, sendo utilizado como importante instrumento diagnóstico.​​ Para FARIA (2011), [4]:

[...] é possível dizer que a avaliação vai muito além de momentos e horas em que se deseja ‘avaliar’, busca completar e ajudar no crescimento do ser humano em todos os seus aspectos, sejam eles de cognição, a nível pedagógico até a socialização, a interação de um sujeito com o outro para a construção do conhecimento.

 

 

 

 

 

 

 

Na leitura de Libâneo​​ [4], avaliação é vista como,​​ 

[...]uma reflexão sobre o nível de qualidade dotrabalho escolar tanto do professor como dos alunos. Os dados coletados no decurso do processo de ensino, quantitativos ou qualitativos, são interpretados em relação a um padrão de desempenho e expressos em juízos de valor (muito bom, bom, satisfatório, etc.) acerca do aproveitamento escolar.

 

 

 

 

 

 

Segundo Alvarez [1],é no processo de avaliação que se consolida a verificação da aprendizagem do aluno, concebendo-se, pois a avaliação, como um instrumento de confirmação da retenção do aprendizado pelo discente, mas este também centra-se no trabalho docente que precisa ser policiado

[...]A avaliação é uma tarefa complexa que não se resume a realização de provas e atribuição de notas. A mensuração apenas proporciona dados que devem ser submetidos a uma apreciação qualitativa. A avaliação, assim, cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de controle em relação as quais se recorrem a instrumentos de verificação do rendimento escolar.

 

 

 

 

 

 

3.METODOLOGIA

Apresentaremos a seguir os procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa.​​ Na seção 2.1, expomos os procedimentos de coleta de dados. Na seção 2.2, descrevemos o método de análise que utilizamos para discutir os resultados proporcionados pelas entrevistas realizadas.

Este é um trabalho de natureza qualitativa, tal como Garnica (2004) descreve este tipo de metodologia.

 

3.1COLETA​​ DE DADOS

O foco primeiro deste trabalho​​ centra-se na investigação sobre​​ a visão de professores​​ ao que tange​​ os processos avaliativos, a exemplo de parecer, nota ou conceito, o procedimento de coleta de dados adotado foi a entrevista.

Entrevistou-se quatro professores com idades entre 23 e 48 anos, responsáveis pela regência de disciplinas dos anos finais, sendo dois (2) de Língua Portuguesa, dois (2) de Matemática. Os sujeitos de pesquisa foram escolhidos utilizando-se dois critérios: tempo de experiência (os sujeitos da pesquisa já estão em sala de aula há mais de 10 anos) e são docentes nas séries finais do ensino fundamental já que por serem vários professores diferentes por turma o processo de avaliação se torna mais complexo.

As ​​ perguntas realizadas nas entrevistas controem-se a partir da perspectiva de Triviños (1987) de entrevista semiestruturada. Para o autor, este modelo compõe uma forma eficiente de​​ coleta de dados.​​ 

A pergunta realizada para os sujeitos de pesquisa foi a seguinte: ​​ Qual​​ a tua​​ concepção em relação a notas, pareceres ou conceitos no processo avaliativo?​​ Justifique.

Os professores participantes desta pesquisa concordaram com o termo de livre consentimento, para uso e publicação de partes importantes das entrevistas.​​ 

3.2ANÁLISES DE DADOS

Os dados coletados na presente pesquisa serão analisados por meio dos Discurso do Sujeito Coletivo, metodologia essa, que​​ tem como fundamentação a teoria da Representação Social. Como afirmam os autores​​ Lefrève e Lefrève (2005, p.16):​​ 

O sujeito coletivo se expressa então através de um discurso emitido no que poderia se chamar de primeira pessoa (coletiva) do singular. Trata-se de um eu sintático que ao mesmo tempo em que sinaliza a presença de um sujeito individual do discurso, expressa uma referência coletiva na medida em que esse eu​​ fala pela ou em nome de uma coletividade.

 

 

Tabela 1 - Quadro 1:​​ Qual a tua concepção em relação a notas, pareceres ou conceitos no processo avaliativo? Justifique.

IAD1. Expressões – chaves

Ideias Centrais

A1) A avaliação já é uma etapa final no processo de aprendizagem, a vejo como algo importante, mas o professor pode possibilitar a realização dela de diferentes modos, pois a avaliação, última etapa, deve estar , de acordo com a primeira que é o objetivo da aula.

Etapa final


Processo

A2) Acredito que a melhor forma de mensurar as aprendizagens dos alunos seja em forma de parecer descritivo, creio que através dele é possível descrever de forma mais precisa os reais avanços, e também apontar o que o aluno ainda não conseguiu vencer.

Parecer descritivo

Avanços

A3) Bha, acho de grande importância os alunos serem avaliados por parecer descritivo, independente do nível de escolaridade, pois possibilidade ao professor descrever o processo de aprendizagem​​ do aluno para família poder acompanhar esse processo de forma mais detalhada e para os novos professores saberem o que o aluno atingiu, já o​​ sistema de notas não contempla o significado da aprendizagem, porque é um número que representa o final da aprendizagem​​ 

Parecer descritivo

 ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​​​ Processo

 ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​ ​​​​ Número

A4) Em relação a pareceres eu penso que seja uma boa forma de avaliação, porque é possível descrever o nível e o progresso do aluno em um determinado período, é necessário que o professor tenham bem claro os referenciais e exige uma autoavaliação​​ do professor, é necessário tempo e reflexão.​​ Em relação a nota não acredito muito nesta forma de avaliar somente,  ​​​​ afinal ela retrata só um momento do aluno, ele vira uma nota, o professor fica mais confortável, transferindo para o aluno a responsabilidade. O conceito penso ser importante pois flexibiliza, não deixando o processo de avaliação só numericamente.

Processo

Autoavaliação

Número

Responsabilidade

Número

 

 

4.​​ DISCUSSÕES DOS RESULTADOS

Nesta seção, discutimos os discursos que foram construídos, traçando também um paralelo com o aporte teórico utilizado nesta pesquisa, permitindo assim realizar ligações entre diversos estudos.​​ 

Tabela 2 - Quadro 2:​​ DSC 1

Formas de avaliar o processo de aprendizagem

Acredito que a melhor forma de mensurar as aprendizagens dos alunos seja em forma de parecer descritivo,​​ creio que através dele é possível​​ descrever de forma mais precisa os reais avanços,​​ possibilidade ao professor descrever o processo de aprendizagem, o sistema de notas não contempla o significado da aprendizagem, porque é um número que representa o final da aprendizagem, afinal ela retrata só um momento do aluno, ele vira uma nota

 

No discurso 1 podemos perceber que os professores enxergam a avaliação por parecer descritivo, como uma forma de reconhecer o processo de aprendizagem do aluno. O momento atual enfrentado pela educação não permite mais um modelo de avaliação que objetive classificação, adaptação ou seleção. A perspectiva que busca-se é aquela em que enxergamos a aprendizagem como um processo, como um caminho a ser construído, e dessa forma, medir quantitativamente este processo não serve mais aos objetivos que queremos alcançar.​​ Como afirma Cordeiro​​ [2], “numa concepção de escola para todos, de escola pública como uma obrigação, mas também como um direito fundamental que permite a existência da sociedade democrática, a avaliação tem que ser repensada”. (p. 145).

 

5.CONCLUSÃO

Embora a escola possua uma avaliação de cunho quantitativo, sendo o parecer descritivo apenas para alunos com deficiência, ficou evidenciado o parecer descritivo como instrumento de consenso dentre os pesquisados, acreditando que através deste, a avaliação é ética e real. Portanto, a avaliação é um processo que deve ser incorporado à prática do professor,​​ todas as experiências, manifestações, vivências, descobertas e conquistas dos discentes devem ser valorizadas, com o objetivo de revelar o que o aluno já tem e não o que lhe falta.​​ Por isso, é​​ dever e compromisso da escola e dos educadores zelar pela aprendizagem dos alunos e fazer com que a avaliação aponte novos caminhos para a efetivação de novas práticas e estratégias pedagógicas em sala de aula.

 

6.REFERÊNCIAS​​ BIBLIOGRÁFICAS:

  • ALVAREZ – MÉNDEZ, J. M. Avaliar para conhecer, examinar para excluir. Porto Alegre: Artmed. 2002. 133 p.

  • CORDEIRO, Jaime. A avaliação: resultados e orientações do ensino e da aprendizagem. In: Didática. São Paulo: Contexto, 2007

  • FARIA, William Resende de. A importância da avaliação no processo de ensino aprendizagem aplicado no ensino superior. Disponívelem: http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/a-importancia-da-avaliacao-no-processo-de-ensino-aprendizagem-aplicado-no-ensino-superior/53145/>Acessoem: 11 de dezembro de 2018.

  • FIDALGO, SueliSalles. A avaliação​​ na​​ escola: um histórico de exclusão social-escolar ouumaproposta sociocultural para a inclusão.RevistaBrasileira de LínguísticaAplicada v. 6, n.3, 2006.

  • LIBÂNEO, José Carlos; ALVES, Nilda. Temas de Pedagogia: diálogos entre didática e currículo. São Paulo: Cortez, 2017.

  • TRIVIÑOS, Augusto. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.​​ 

  • LEFRÈVE, Fernando; LEFRÈVE, Ana Maria Cavalcanti. O Discurso do Sujeito Coletivo. Caxias do Sul: Educs, 2005.

  • GARNICA, A. V. M. História Oral e educação Matemática. In: BORBA, M. C.; ARAÚJO, J. L. (Org.) Pesquisa Qualitativa em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

 

 

 

 

 

 

 

 

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