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RSC3

VOLUME 1, NÚMERO 1, OUTUBRO DE 2018

ISSN: 2595-8402

DOI: 10.5281/zenodo.4283437

 

UMA BREVE ANÁLISE DAS MOTIVAÇÕES NO ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS NA PERSPECTIVA DO CURRÍCULO, DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

 

Istael de Lima Espinosa

Instituto Federal Sul-Rio-grandense, curso de Ciências da Natureza, Pelotas – RS, Brasil

istaelespinosa@gmail.com

 

RESUMO

Considerando que a motivação no ensino de ciências, a organização do currículo são fatores fundamentais no processo de ensino-aprendizagem e no desenvolvimento humano, realizou-se uma análise da motivação no ensino de ciências na perspectiva do currículo e da aprendizagem. Verificou-se que as concepções de Ciência dos professores estão presentes na organização do currículo, que por sua vez deve contemplar as concepções epistemológicas de ensino de Ciências e os aspectos motivacionais os quais se relacionam com a qualidade da aprendizagem.

Palavras chave: Motivação no ensino, ensino de ciências, organização do currículo, ensino aprendizagem.

 

1INTRODUÇÃO

 A motivação no ensino de Ciências e seus conceitos extrapolam o senso comum, encontrando-se na estreita relação de concepções de aprendizagem, ao passo que o termo motivação está associado a aprendizagem de tal forma que apresenta-se como um princípio fundamental.

 A organização do currículo nas escolas traz consigo as concepções das instituições, dos professores e valores da sociedade, tendo implicações diretas ao desenvolvimento humano no que tange a formação do indivíduo e desenvolvimento social. Por sua vez, a representação das Ciências Naturais no currículo escolar é maior quando comparada com a carga horária das demais disciplinas

 Nesta análise, discute-se a motivação no ensino de Ciências Naturais na perspectiva da aprendizagem, do currículo e do desenvolvimento humano.

 Considerando que a concepção de Ciências é mais ampla, compreendendo além das Naturais a exemplo das humanas, ponderou-se de forma a generalizar para o ensino de Ciências em alguns aspectos. Contudo, a discussão inclina-se para a perspectiva do ensino de Ciências Naturais, por sua representação no currículo escolar.

 

2DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO

Em acordo com Tardif (2014), apud [1], a aprendizagem perpassa pela motivação e envolvimento do aluno onde o professor deve dentro das competências curriculares, mobilizar habilidades que nas ações pedagógicas assegurem os aspectos motivacionais.

 O termo motivação está diretamente associado à aprendizagem, pois de acordo com Illeris (2013), apud [1], a aprendizagem de natureza construtivista se desenvolve em dois processos, interno que trata da elaboração e o externo de interação com o ambiente.  O conceito de aprendizagem construtivista apresenta em seus fundamentos três princípios que se relacionam ao conteúdo, indivíduo e a integração sejam através da funcionalidade, motivação e interação com o ambiente.

 Segundo o autor, [1], a motivação e o conteúdo estão diretamente ligados com interação social e cultural, já a qualidade da aprendizagem está associada a motivação, onde suas dimensões fogem ao senso comum do emprego do termo, pela importância no processo de ensino aprendizagem.

 Ao analisar a inserção do conceito motivação em trabalhos científicos no Ensino de Ciências, [1], em 10 anos (2005-2015) dos anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC 10 anos, [6]), constatou que 56% da amostra poderia justificar a apresentação do termo motivação sem apresentar a definição do conceito a partir de citações diretas, restando o senso comum.

 Segundo [3], o currículo do ensino de Ciências Naturais é organizado dentro das concepções dos professores sobre Ciência, onde os conteúdos são descontextualizados e tratados separadamente. Para o autor, este cenário se deve que poucos professores são conscientes da importância das concepções epistemológicas no ensino de Ciências, para uma reflexão sobre os novos tempos e espaços, sendo os que não resistem a um ensino com príncipios interdisciplinares e contextualizado.

 Ao analisar a visão de currículo e ensino de ciências através da herança cultural, do desenvolvimento econômico e das relações políticas, os autores [4]​​ constatam que a herança cultural influencia a sociedade em suas escolhas e valores, refletindo na organização curricular das escolas e que os fatores sociais, econômicos e políticos influenciam a evolução do ensino.

 Ao analisar a evolução histórica do ensino de ciências, [4], verificou que após passar por uma longa fase sendo considerada uma atividade neutra onde a qualidade do ensino estava associada a quantidade de conteúdos transmitidos, o ensino de Ciências incorporou na década de noventa o discurso da formação do cidadão crítico, consciente e participativo, deixando a perspectiva de uma formação voltada para futuros cientistas, dissociando-se da concepção positivista de ciência.

 As disciplinas que compõe as Ciências Naturais, sejam a Física, Química, Biologia e Matemática, transpuseram suas competências ao longo do tempo, compreendendo não apenas o ensino de conceitos científicos, mas também acerca da linguagem científica e do senso crítico dos alunos no que tange sua realidade e contexto social e cultural.

 Em acordo com [2], os fatores culturais, sociais e políticos influenciam a concepção de currículo principalmente no que tange o ensino de Ciências, em que segundo o autor a partir da década de 50, a medida que a Ciência e Tecnologia ganham papel principal na perspectiva do desenvolvimento econômico, cultural e social, o ensino de Ciências apresentou-se relevante em movimentos de transformação do ensino, que com o advento da Diretrizes e base da Educação [5], em 1961, as disciplinas que compõe as Ciências Naturais se destacaram com um aumento na carga horária do Colegial.

 

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da motivação no ensino de Ciências na perspectiva do currículo, da aprendizagem e do desenvolvimento humano, mostrou que a organização do currículo perpassa pelas concepções de Ciência dos professores e que as reformas curriculares são influenciadas pelo contexto social, cultural e político. Verificou-se que a representação das disciplinas que compõe as Ciências Naturais no currículo, seja em termos da carga horária, se deve não apenas pela importância do conhecimento científico mas também a representação das Ciências e tecnologias para o desenvolvimento econômico para um projeto de nação, bem como na formação de cidadãos críticos de sua realidade.

 Constatou-se que o currículo deve ser organizado de forma que contemple além concepções epistemológicas de ensino de Ciências, mas também as habilidades que passam pelos aspectos motivacionais, pois a motivação apresenta-se como um principio fundamental na aprendizagem construtivista, estando diretamente relacionada a qualidade da aprendizagem.

 Considerando que o ensino de Ciências apresenta-se como um dispositivo social com as prerrogativas de contribuir para a formação do cidadão crítico, consciente e participativo, é possível deferir que a motivação deve ser central no ensino de Ciências ao passo que aprendizagem é mais duradoura e significativa, se inter relacionando com as prerrogativas do ensino de Ciências e com a atividade fim.

 

4REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • CARVALHO, Wilson; STANZANI, Enio Lorena; PASSOS, Marinez Meneghello. A motivação no ensino de ciências: análise de dez anos de trabalhos apresentados no ENPECACTIO: Docência em Ciências, v. 2, n. 3, p. 97-114, 2017.

  • KRASILCHIK, Myriam. Reformas e realidade: o caso do ensino das ciênciasSão Paulo em perspectiva, v. 14, n. 1, p. 85-93, 2000.

  • PEREIRA, Jaqueline Ritter; DE ARAÚJO, Maria Cristina Pansera. Concepções de ciência: uma reflexão epistemológicaVidya, v. 29, n. 2, p. 14, 2009.

  • SILVA, Rejane Conceição Silveira da; PEREIRA, Elaine Corrêa. Currículos de ciências: uma abordagem histórico-culturalAtas do VIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências–VIII ENPEC, Campinas-SP, p. 5-9, 2011.

  • BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2003.

  • DELIZOICOV, D.; SLONGO, I. I. P.; LORENZETTI, L. ENPEC: 10 anos de disseminação da pesquisa em Educação em CiênciasAtas do VI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC). Florianópolis-SC: ABRAPEC, 2007.

 

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